Páginas

Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, julho 22, 2015


Porto de Mariel indica que Brasil previa fim do isolamento cubano, dizem analistas

por Deutsche Welle — publicado 18/12/2014 
Para especialistas, megaprojeto em Cuba com financiamento do BNDES é sinal de que governo brasileiro apostava numa reaproximação entre Washington e Havana, antecipando-se a investidores americanos

ABr
O polêmico projeto do Porto de Mariel, em Cuba, indica que o Brasil estava prevendo o fim do isolamento imposto pelos Estados Unidos à ilha comunista e o relaxamento do embargo econômico, afirmaram especialistas ouvidos pela DW Brasil no início deste ano.
Meses depois da inauguração da primeira parte do porto, o presidente Barack Obama anunciou a retomada das relações diplomáticas com Havana nesta quarta-feira 17 e disse que pretende ter um "debate honesto e sério" com o Congresso sobre as perspectivas de um total levantamento do embargo comercial que já dura mais de meio século.
"O Porto de Mariel é visto como uma maneira de se antecipar aos investidores americanos", disse Oliver Stuenkel, professor de Relações Internacionais da FGV, na ocasião da inauguração do porto, em janeiro. O megaprojeto contou com financiamento do BNDES, e a presidente brasileira, Dilma Rousseff, foi à Cuba para a abertura da primeira parte do empreendimento.
Segundo Stuenkel, já se tinha no Brasil a concepção de que numa Cuba pós-Castro a liberalização da economia prosseguirá mais rapidamente e poderia levar ao levantamento do embargo americano.
Para o professor, o modo como os EUA lidavam com Cuba era visto em toda a região como "nada construtivo". O Brasil se preparava para entrar no lugar da Venezuela como o principal parceiro do regime cubano, considerou. "A Venezuela não consegue mais transferir, em longo prazo, ajuda de grande porte a Cuba, porque luta internamente com seus próprios problemas econômicos."
A agência de investimentos alemã GTAI também já apostava há um bom tempo no relaxamento do embargo a Cuba. Peter Buerstedde, especialista da agência, observou no início do ano que, como Raúl Castro quer permanecer na presidência apenas até 2018, existiam indicações de mudança em médio prazo nos rumos da ilha. "O Porto de Mariel poderá se tornar um centro de logística no Caribe quando os EUA levantarem o embargo", previu em declarações à DW Brasil.
Brasil e Cuba mantêm uma cooperação especial, que se tornou mais intensa nos últimos anos. Enquanto médicos cubanos desembarcam em território brasileiro, a ilha caribenha recebe produtos agrícolas. E agora ambos trabalham juntos no megaprojeto do Porto de Mariel.
Há muito tempo, o Ministério das Relações Exteriores brasileiro busca fortalecer os laços políticos com Cuba. "As relações Brasil e Cuba atravessam excelente momento. Por trás da cooperação existe uma visão compartilhada", afirmou o Itamaraty à DW, na época da inauguração do porto. "Nossos governos acreditam que não basta crescer; é preciso promover o desenvolvimento social e melhorar as condições de vida dos mais necessitados."
O Brasil se vê como um dos motores do desenvolvimento, ainda que lento, da economia cubana. Em discurso na ilha caribenha por ocasião da inauguração do porto, Dilma não escondeu o desejo de reforçar a cooperação com o governo de Raúl Castro e chamou o bloqueio econômico a Cuba de "injusto".
"Laços profundos unem os nossos países, um sentimento de amizade aproxima nossas sociedades. O Brasil acredita e aposta no potencial humano e econômico de Cuba", afirmou a presidente. "Mesmo sendo submetido ao injusto bloqueio econômico. Cuba gera um dos três maiores volumes de comércio do Caribe. [...] O Brasil quer tornar-se parceiro econômico de primeira ordem para Cuba."
Não é coincidência que o Porto de Mariel, maior projeto de infraestrutura em andamento em Cuba, esteja a cargo de uma empreiteira brasileira, a Odebrecht. O financiamento da obra também tem o governo brasileiro por trás: o BNDES aprovou empréstimos de 682 milhões de dólares para financiar a construção, que tem custo total de 957 milhões de dólares.
Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) mostram o crescimento da parceria comercial entre os dois países. As exportações do Brasil para Cuba aumentaram de 80 milhões de dólares em 2003 para 568 milhões em 2012. De janeiro a setembro de 2013, o valor das exportações já atingia cifra próxima a 515 milhões de dólares.
Desde 1998, o BNDES garantiu empréstimos no total de 703 milhões de dólares a empresas brasileiras que investem em Cuba. Em 2013, Cuba foi o terceiro maior destino de financiamentos do banco para exportação de bens e serviços do Brasil. Para especialistas ouvidos pela DW, não há dúvida: os investimentos são estratégicos.
  • Autoria Astrid Prange (rc/lpf)

Nenhum comentário:

Postar um comentário