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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, novembro 07, 2015

Hoje na História: 1917 - Bolcheviques tomam o poder na Rússia


A Revolução russa de 1917 foi um momento decisivo na História, e pode ser considerada como o grande acontecimento do século XX
Atualizada em 07 de novembro de 2014, 
A data mais importante da Revolução Russa, que instaurou o primeiro Estado socialista da História, foi o 7 de novembro de 1917 - que, por ser equivalente a 25 de outubro no calendário juliano (então em vigor na Rússia), ficaria conhecida como a Revolução de Outubro.
Naquele momento, o isolamento político do chefe do governo provisório russo (instalado em fevereiro), Aleksandr Kerensky, a perda de apoio popular e o fortalecimento dos bolcheviques acabariam conduzindo ao levante decisivo de outubro. Assim como a Revolução de Fevereiro derrubara a autocracia czarista substituindo-a por um sistema liberal–burguês, a de Outubro implantou o regime operário-socialista. A entrada dos guardas vermelhos no Palácio de Inverno, em Petrogrado, onde o governo provisório se reunia, marcou o triunfo dos bolcheviques.
Wikicommons

Reunião do Partido Bolchevique em 1920
A Revolução russa de 1917 foi um momento decisivo na História, e pode ser considerada como o grande acontecimento do século XX. Como a Revolução Francesa, continuaria polarizando a opinião por longo tempo, sendo saudada por uns como um marco na emancipação da humanidade e denunciada por outros como um crime e um desastre.
Foi um movimento inspirado por uma onda de entusiasmo imenso e por visões utópicas da emancipação das cadeias de um poder distante e despótico. Para o povo russo, eram inúteis os princípios ocidentais de democracia parlamentar e governo constitucional, proclamados pelo governo provisório. Os sovietes (conselhos locais de trabalhadores e camponeses) surgiram por toda a Rússia. Comissões de trabalhadores, nas fábricas, reivindicaram o exercício exclusivo da autoridade em suas áreas. Os camponeses ocuparam as terras e as dividiram. E tudo mais foi obscurecido pela exigência de paz, de um fim aos horrores da guerra que a Rússia lutava, com enormes baixas, contra a Alemanha e a Áustria.
Para os bolcheviques, derrubar o vacilante governo provisório não era tudo. Colocar-se no seu lugar, estabelecer o controle efetivo do caos que se havia generalizado pelo vasto território do império e criar uma nova ordem social voltada para as aspirações das massas de trabalhadores e camponeses eram tarefas muito mais complexas.
O desenrolar dos acontecimentos naqueles meses de 1917 exigia inteligência, determinação e coragem das lideranças, de lado a lado. Em maio e junho, o governo provisório estava de mãos atadas: não podia satisfazer as reivindicações dos trabalhadores nem nacionalizar as terras. O lema dos bolcheviques ganhava as consciências: “Todo o poder aos sovietes! Paz, pão e terra!”.
Em abril, dezenas de milhares de trabalhadores e soldados saíram às ruas, atendendo à convocação dos bolcheviques. Cresceu o descontentamento no campo. Nas cidades, as greves se sucederam.Em julho, uma tentativa de insurreição popular em Petrogrado (atualmente e até 1915, São Petersburgo) foi reprimida violentamente pela polícia por ordem de Kerensky. A repressão se abateu contra os bolcheviques e o líder da facção, Vladimir Lenin, foi obrigado a fugir para a Finlândia.

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Em setembro, o governo encarregou o general Lavr Kornilov de restabelecer a ordem. O militar aproveitou e preparou um golpe de Estado. Diante do perigo, os bolcheviques se organizaram e mobilizaram a população. O golpe foi contido antes de acontecer. O povo perdeu totalmente a confiança no governo provisório, e os bolcheviques saíram do episódio fortalecidos.
Wikicommons

O Bolchevique, de Boris Kustodiev
Em 7 de outubro, Lenin voltou do breve exílio, clandestinamente. Os bolcheviques tornaram-se força majoritária nos sovietes de Petrogrado e de Moscou. O cenário levou os revolucionários a preparar a insurreição. Trabalhadores formaram milícias armadas em favor da revolução – os guardas vermelhos. Grande número de soldados do exército russo desertou e passou para as fileiras bolcheviques. Um comitê militar revolucionário foi criado pelo soviete de Petrogrado. Kerensky se viu forçado a entrincheirar-se no Palácio de Inverno, sob a proteção de centenas de cadetes e de um batalhão de soldadas mulheres.
Em 13 de outubro, a frota do Báltico se submeteu ao comando do comitê militar revolucionário. Em 18 de outubro, a guarnição de Petrogrado declarou não reconhecer mais o governo. Cada regimento do exército, cada batalhão dos guardas vermelhos recebeu uma missão simples a cumprir. O cruzador , ancorado no rio Neva (agora sob o comando dos revolucionários), apontou os canhões para o Palácio de Inverno.
Ao meio-dia de 25 de outubro (sempre no calendário juliano), o banco do Estado, a central elétrica, os correios e a agência telegráfica foram ocupados pelos guardas vermelhos. Uma massa de soldados e trabalhadores armados cercou o Palácio de Inverno. Às 18h, os bolcheviques lançaram um ultimato contra o governo provisório. Sem resposta, os guardas vermelhos ocuparam a ala norte do edifício. Às duas da madrugada, os defensores do Palácio se renderam.
Na manhã de 26 de outubro, um novo governo foi formado. O Conselho de Comissários do Povo foi presidido por Vladimir Lenin. Alguns dias depois, o poder dos sovietes se firmaria em Moscou e se espalharia gradualmente pela imensidão de “todas as Rússias”.
*operamund

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