A ditabranda da Folha não é branda
Fotos: Jesus Carlos/Imagemlatina
Manifestação do Movimento pela Anistia Ampla, Geral
e Irrestrita nas ruas do centro de São Paulo, SP. 1979.
O editorial da Folha de S. Paulo de hoje é de uma coerência deplorável. Exige, sem meias palavras, a entrega, para explorar como quiser, do processo montado pela ditadura – ou “ditabranda”, como já a chamou – sobre Dilma Rousseff.
O Folha de S. Paulo é um jornal que não teve vergonha de estampar uma suposta ficha do DOPS, que circulava pela internet e juntá-la com uma entrevista onde atribui a um companheiro de Dilma declarações sobre um suposto plano de sequestro de Delfim Neto. A ficha, obtida em sites de extrema-direita, não era dos arquivos do DOPS, como o jornal anunciou e o entrevistado negou ter dito o que a Folha diz que ele disse.
Na ocasião, ao “explicar” porque estampou a enorme ficha baseada apenas num e-mail recebido por “uma fonte”, a Folha diz, textualmente:
“Na apuração da reportagem do dia 5, o jornal obteve centenas de documentos com fontes diversas: Superior Tribunal Militar, Arquivo Público do Estado de São Paulo, Arquivo Público Mineiro, ex-militantes da luta armada e ex-funcionários de órgãos de segurança que combateram a guerrilha.”
Reparem: obteve “centenas de documentos”. Já não lhe bastam?
O que o jornal quer agora, ainda? Quer os detalhes das sevícias, dos choques elétricos, das bordoadas, do sangue secando sobre o corpo moído pelos animais da Gestapo tupiniquim?
Quer transformar a vítima em algoz?
Curioso é que um jornal que se bate contra uma suposta quebra de sigilo fiscal do qual nada vazou, que protesta contra um dossiê do qual ninguém soube o que continha queira, agora, detalhes de um processo instaurado e escrito no regime de tortura e do horror. O que quer com informações que, no desespero da dor, uns e outros diziam para se livrar dos sofrimentos lancinantes a que estavam submetidos, pendurados em paus-de-arara e atados a fios elétricos?
A Folha, embora se sinta tão poderosa quando se sentiam os beleguins da ditadura, embora ache que tem o direito de torturar “jornalisticamente” seus adversários, está se remoendo pelo fato de seu poderoso instrumento de condenação política , o STD – o Supremo Tribunal do Datafolha - ter falhado em sua missão.
Nem sob a tortura permanente de seus números inacreditáveis, a opinião pública se entregou.
A Folha de S. Paulo tem razão em achar a “ditabranda”. Queria mesmo que ela seja mais dura, inesquecível, e que estivesse em vigor, para evitar a ousadia do povo brasileiro em pretender ser dono de seu próprio destino.
*Tijolaço
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