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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

domingo, agosto 22, 2010


Brasil abre mão de Copa América para ajudar Chile

Mudança da sede seria para marcar reconstrução do Chile após o terremoto desse ano

Com o desprezo que destina aos vizinhos do continente, vai ser difícil Serra entender a negociação entre os governos do Brasil e do Chile para que a Copa América de futebol, prevista para ser disputada no Brasil em 2015 seja transferida para o Chile.

O Brasil tem o direito de sediar a competição continental, a mais antiga do mundo entre seleções, mas está disposto a abrir mão para o Chile, que gostaria de receber a Copa América para marcar a reconstrução do país após o terrível terremoto de fevereiro, que afetou mais de 2 milhões de pessoas.

A isso se chama diplomacia e solidariedade, dois conceitos que exigem sensibilidade política. Lula e o presidente chileno Sebastián Piñera estão longe de se alinhar politicamente, mas têm a grandeza de se entenderem sobre o que é melhor para os seus povos e para a integração regional. Mesmo em um país fanático por futebol, Lula passaria o direito de sediar a Copa América de 2015 para contribuir com a recuperação do povo chileno. E receberia a competição em 2019 de acordo com os entendimentos que envolvem a Confederação Sul-Americana de Futebol.

Infelizmente, não é só Serra que demonstra estreiteza diante de atos magnânimos. O UOL, portal do Grupo Folha, ao noticiar o possível acordo, títulou sua matéria de maneira sórdida, afirmando que “Chile pode tirar Copa América de 2015 do Brasil”.

*Tijolaço

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