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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quinta-feira, agosto 19, 2010

Mercadante para São Paulo soltar suas amarras


Mercadante diz que tucanos não governam para a maioria e aposta no prestígio de Lula para chegar ao 2o- turno


Aloizio Mercadante (PT) em sabatina no jornal O Globo. Foto: Michel Filho

Em sabatina do jornal o globo, Aloízio Mercadante acusa o psdb de ter privatizado educação em SP

SÃO PAULO. Em sua segunda tentativa consecutiva de se eleger governador de São Paulo, o petista Aloizio Mercadante, de 56 anos, quer fazer como a candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff: pegar carona na popularidade do presidente Lula para acabar com os 16 anos de domínio do PSDB no estado.

Segundo a última pesquisa Datafolha, o senador tem 16% das intenções de voto. Mas Mercadante diz acreditar que num segundo turno com a intensificação dos debates. Ontem, em sabatina realizada pelo GLOBO, distribuiu ataques ao PSDB, do adversário Geraldo Alckmin.

Criticou as privatizações feitas pelos tucanos e disse que eles “fazem bem o que é para poucos” e“foram lentos” na execução de obras de infraestrutura.

Leia os principais trechos da entrevista:


O GLOBO: O senhor tem dito que os tucanos estão há 16 anos no governo e é preciso mudar.

Mas o governo Lula já está há oito anos e vocês defendem sua continuidade, com Dilma. Por que mudar aqui e continuar lá?

ALOIZIO MERCADANTE: Porque o governo Lula é o mais bem avaliado da história. Somos o segundo país que mais exporta alimentos no mundo, e éramos o quinto. Somos a oitavo economia no mundo. E somos um país que criou um mercado interno de massa. Fizemos políticas sociais muito criativas, com o ProUni, o Bolsa Família, crédito consignado, o Minha Casa, Minha Vida. Essas políticas permitiram inclusão social e distribuição de renda. Agora, em São Paulo, a segurança pública vai muito mal. Todos os indicadores de violência cresceram no ano passado. A verdade é que no governo do PSDB o crime organizado tomou conta dos presídios.

Se olhar a educação, eles privatizaram a qualidade do ensino em São Paulo. Onde está o ensino público de qualidade? Nas universidades. Mesmo no ensino técnico, você tem boas escolas. Eles fazem bem o que é para poucos. Lula mostrou que é possível fazer melhor para todos.

Eles não investiram em metrô.

Há espaço para mudança.

O GLOBO: Se o PSDB fez tão pouco como o senhor diz, como consegue permanecer tanto tempo no poder?

MERCADANTE: O sentimento geral do país é de satisfação, e acho que isso se deve fundamentalmente ao governo Lula.

Temos mais chance hoje (de ganhar o governo de São Paulo) porque temos o governo Lula. Não posso comparar o governo do PT em São Paulo com o governo do PSDB. Mas posso comparar o governo Lula com o governo do PSDB do Fernando Henrique Cardoso.

O GLOBO: Por que não consegue ter a mesma transferência de votos que a Dilma?

MERCADANTE: Até agora, com raras exceções, nos veículos de comunicação prevaleceu profundo silêncio sobre a eleição em São Paulo. Sempre crescemos na reta final.


O GLOBO: O senhor tem um patamar de votos menor do que o da eleição de 2006. Até que ponto os episódios dos “aloprados” em 2006, e do recuo na decisão de deixar a liderança do governo no Senado em 2009 prejudicam a sua intenção de voto?

MERCADANTE: Naquela campanha (de 2006) prejudicou. Nesta, acho que não terá nenhum impacto, porque, depois que o Ministério Público investigou, o procurador-geral da República já disse que eu não tinha nenhum envolvimento. O Supremo aprovou por unanimidade que não havia nenhum indício da minha participação; estou pronto para debater esse e qualquer outro fato.

Em relação à minha saída da liderança, não saí porque o presidente Lula me chamou e disse: “se você deixar a liderança, não vai resolver a crise do Senado e vai prejudicar o governo”. O que estava em jogo era o projeto de uma nação. Agora, a campanha que está mobilizando o Brasil é a campanha presidencial. Agora, com o horário gratuito, a gente tem condições de reverter. E, no segundo turno, são só dois candidatos, e aí dá para fazer um belo debate.

O GLOBO: O senhor pretende capitalizar o popularidade do governo Lula?

MERCADANTE: Mesmo porque não tem como me dissociar dele. Estou com o Lula há mais de 30 anos. Minha vida está ligada a esse projeto. Essa é a força da minha candidatura, até porque eu não tive nenhuma experiência executiva e não pude ter. Gostaria de ter tido.

O GLOBO: Foi o presidente Lula quem pediu para o senhor ser candidato? Houve negociação para que ele estivesse bastante presente na campanha?

MERCADANTE: Muita gente pediu. Tínhamos seis pré-candidatos, eu era o único nome que unificava o PT e agregava.

Agora, é evidente que a opinião dele conta muito, sempre contou a minha vida toda.

Agora, eu não coloquei isso (a participação de Lula na campanha) como condição.


O GLOBO: Mas o senhor tinha uma reeleição para o Senado que seria mais fácil.

MERCADANTE: Era mais fácil, mas eu não entrei no Senado para ter cargo. Eu me sinto hoje, com essa escola política que foi o governo Lula, preparado para governar São Paulo. Preparado para mudar a educação de São Paulo, que começa pelos professores.

Temos 13 estados no Brasil que pagam melhor que São Paulo para o professor. Não tem diálogo com os professores, tem borrachada. Não teve diálogo nem com a polícia. Eles assistiram as polícias Civil e Militar se confrontarem na rua. Eles têm dificuldade de dialogar e negociar. Acho que é uma visão autoritária da relação com os servidores. Tem que ter avaliação (dos alunos). Não existe educação de qualidade se a pessoa passa sem saber.

O GLOBO: Mas se acabar com a progressão continuada não haverá um aumento da evasão escolar? MERCADANTE: Temos que ter recuperação, reforço escolar.

Mas tem que ter avaliação.

Como você pode aceitar que no estado mais rico do Brasil, a primeira escola pública fique na 2.583aposição no Enem? Que país vamos construir com essa política de educação? Eles adoram privatização, o PSDB.

Privatizaram quase todo o setor de energia, o Banespa e venderam a Nossa Caixa. E privatizaram a qualidade do ensino.

Então, a classe média que paga impostos é sufocada de um lado pela escola dos alunos e pelo plano de saúde. Dá para ter escola de qualidade. No Uruguai, um país muito mais pobre que o Brasil, todos os professores têm laptop, todos os alunos da primeira, da segunda e da terceira série do ensino primário já têm laptop.


O GLOBO: Mas não dá para comparar o Uruguai com o Brasil.

MERCADANTE: Mas dá para comparar com São Paulo. Nós temos cinco milhões de alunos em São Paulo. Vamos colocar laptop para cada um milhão de alunos por ano. O orçamento da educação é R$ 30 bilhões.

Com 1% ou 1,5%, posso dar laptop a cada ano para uma fração significativa dos alunos. Em cinco anos, todos os alunos teriam acesso a laptop.

O GLOBO: Mas São Paulo tem mais aluno do que o Uruguai tem de população.

MERCADANTE: E tem muito mais orçamento. Se fosse um país, seria o segundo país da região.

Nós somos mais ricos que a Argentina. O orçamento de São Paulo é R$ 125 bilhões. Acabou a era de um país estagnado, com crise fiscal, com hiperinflação.

Eu comecei dizendo das perspectivas do Brasil do futuro e essa é uma diferença fundamental entre nós e eles. Eles não veem o Brasil que aconteceu. Há uma incapacidade de entender que esse país rompeu os limites que impunham um crescimento medíocre. Então, quando a gente fala em um trem-bala CampinasSão Paulo-Rio, e eu vejo objeção, é inacreditável.

O GLOBO: Mesmo que tenha que colocar dinheiro público?

MERCADANTE: Financiamento público porque as pessoas vão pagar e esse dinheiro vai voltar. Isso vai ser feito em parceria com a iniciativa privada.

Lógico que tem que ter financiamento do investimento. Nós temos a Copa e Olimpíada.

O GLOBO: A tarifa do trem-bala que está sendo discutida é de R$ 200.

MERCADANTE: As licitações do PSDB são sempre onerosas.

Eles embutem o imposto, como fizeram com o pedágio. Quem paga o maior imposto para o governo, com a maior tarifa, leva a concessão, como fizeram com o pedágio, e por isso são abusivos em São Paulo. O modelo do governo federal é que dá a menor tarifa. (No trem-bala) são cinco consórcios e quem der a menor tarifa vai levar. É inacreditável a gente não entender que o país é a oitava maior economia do mundo, e nós discutindo se devemos ou não fazer projeto estruturante que o mundo inteiro já percebeu que dá certo.

O GLOBO: O senhor colocaria dinheiro no Estádio do Morumbi para receber a Copa do Mundo?

MERCADANTE: Você pode fazer parcerias com empresas, o que falta é vontade política.

Eu acho que São Paulo não pode ficar fora da abertura da Copa. Por que todos os estados do Brasil conseguiram fazer parcerias e o estado mais rico do Brasil não consegue?

O GLOBO: Tem uma pesquisa dizendo que o povo não quer dinheiro público investido ali.

MERCADANTE: Não sei se precisa botar dinheiro público no estádio. Eu sei que foi feito um acordo que o governo federal assumiu e está fazendo a sua parte e o governo do estado, desde 3 de janeiro, não tomou uma medida para viabilizar a Copa. O que acho é que São Paulo não pode ficar fora da Copa. Tóquio ficou fora da Copa do Japão e foi um erro. Por isso, há uma disputa para ser a sede da Copa.

Ou você acha que Obama estava lá (na escolha da sede da Olimpíada) por Chicago porque ele quis? Nós sabíamos o que nós queríamos nas Olimpíadas e na Copa, mas, infelizmente, o governo do PSDB está em cima do muro. É uma característica.


O GLOBO: Mas o que se poderia fazer?

MERCADANTE: O que é mais impressionante é que eles falam que pode ser o Pacaembu, o Piritubão, aí volta para o Morumbi, parece aquele time que fica tocando a bola, mas é incapaz de fazer gol. Quem não faz, leva. O povo quer a Copa.

O GLOBO: O PT disse que o rodoanel foi superfaturado. Se o senhor vencer as eleições, pretende fazer uma revisão de contratos ou auditoria?

MERCADANTE: Quem fez foi o Serra, né? O Serra assumiu, colocou sob suspeição todos os contratos, especialmente na área de transporte. O fundamental é que 16 anos para fazer metade do rodoanel é muito tempo. Precisamos acelerar. E precisamos fazer o ferroanel.

O GLOBO: O senhor prometeu reduzir os preços dos pedágios em seis meses, mas isso não seria ilusão, já que existem contratos regulamentando as parcerias? Vai quebrar contrato?

MERCADANTE: Existe uma cláusula de equilíbrio econômicofinanceiro. Aumentou o fluxo de veículos nas estradas, o crescimento do país, a renda da população. Os parâmetros que foram adotados nas licitações antigas é taxa interna de retorno de 20% a 27%. Então está na cláusula contratual e há espaço para negociar. Se necessário, prorrogar esses contratos para reduzir as tarifas.

E a médio prazo, pagar pelo quilômetro rodado.

O GLOBO: O PSDB fez algo de bom no governo de São Paulo?

MERCADANTE: É lógico e o que fez de bom vai continuar.

Eles sabem fazer coisa boa para poucos. O que eles nunca fizeram é fazer melhor para a maioria.

O GLOBO: O que fez de bom, estão?

MERCADANTE: Por exemplo, a USP, Unicamp, Unesp, que já eram boas e continuam sendo. São as melhores universidades do Brasil, já eram e eles continuaram.

Etec e Fatec são boas escolas públicas, só que são em torno de 10% os alunos de ensino médio.

O GLOBO: Os homicídios em São Paulo, em 2001, tiveram uma queda muito acentuada. O padrão ainda é alto, mas, perto do que estava em 2000 ou 2001, é bem mais baixo.

MERCADANTE: No país inteiro, o número de homicídios é bem mais baixo. Primeiro, porque o Brasil voltou a crescer.

Ajuda. Segundo, porque a Lei do Desarmamento contribuiu de forma muito relevante para a redução dos homicídios.

No ano passado, cresceu 16% o número de homicídios no interior de São Paulo.

O que é que está acontecendo no interior? Espalharam presídios.

Junto com os presídios veio o crime organizado.

Hoje, tem 59 mil presos além da capacidade do sistema.

Por isso que eu insisto na pena alternativa, para os pequenos delitos, e não colocar um chefe do tráfico com preso que cometeu pequeno delito.

O GLOBO: Nenhum prefeito quer presídio
.

MERCADANTE: Por quê? Por que não teve nenhuma compensação para os municípios.

Você coloca um presídio num município, aumenta a demanda de saúde, aumenta o risco da segurança pública. A compensação tem que ser financeira, tem que ter um repasse maior dos recursos no FPM (Fundo de Participação dos Municípios).

doLuis Favre

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