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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, novembro 06, 2010

Vale a pena ver de novo e a posição de uma Igreja Presbiteriana




E AGORA? (Rm.13.1-7)

As eleições aconteceram. A Sra. Dilma foi eleita presidenta do Brasil. As especulações, indagações, tentativas de previsões sobre isto, aquilo ou aquilo outro, estão pululando por todo o canto. Não é diferente em nosso ambiente religioso – protestante, com a pergunta que dá título a este escrito: " E agora?"
Esta pergunta é a que me fiz e ainda faço, agora que as urnas confirmaram a vitória da Sra. Dilma. Não era a minha candidata, não lhe teria dado o meu voto, caso não houvesse justificado minha ausência a meu domicílio eleitoral. Como e o que devo fazer na condição de cristão frente a tal resultado? Algumas atitudes devem acompanhar-me e, também, aos demais cristãos.
1ª Consciência de que a autoridade constituída vem do Senhor: Esse conceito pode ser aplicável ao princípio geral (autoridade) como ao aspecto particular-individual (autoridades). Claro que há autoridades, as quais exercem a autoridade fora do padrão de Deus; o Senhor não só permite que lá estejam, mas, por várias vezes, vemos que Ele ali as coloca diretamente. Os exemplos bíblicos são vários e os da história da Igreja também. Assim, necessito entender que, quem está no poder, só está por concessão ou determinação de Deus e realizará Seu propósito eterno.
2ª Consciência da intercessão em favor de tais autoridades: Esse será sempre um grande desafio, sobretudo se as coisas não forem favoráveis, dentro da dimensão que imagino deveriam ser. Se houver situação de ação contrária às liberdades individuais e sociais, torna-se muito complicado orar por tais autoridades. Mas, é mandamento do Senhor (I Tm. 2.1-3). Tal prática não está ligada a favor apenas de quem seja bom e honrado; a intercessão e a oração não são apenas a favor destes, mas, também em prol dos não cordatos (I Pe. 2.18 e 19). Além disso, a orientação (determinação) do Senhor Jesus é a de se orar em favor daqueles que nos insultam e nos perseguem.
3ª Consciência de compromisso com Deus acima das autoridades humanas: A autoridade estabelecida por Deus, por meio da vida das autoridades constituídas, deve estar dentro do limite próprio de alçada de sua esfera e competência. Isso significa que as autoridades humanas também estão sob autoridade (divina), a qual lhes é superior. Desse modo, minha obediência maior é ao Senhor e à Sua Palavra e, caso as autoridades constituídas deixem sua área própria e resolvam extrapolar sua competência, determinando o que seja injusto, iníquo e contrário às Escrituras, estarei pronto à insubmissão e à desobediência civil, posto que a obediência é devida a Deus antes que aos homens. Falarei, agirei e me manifestarei contra tais medidas, inclusive com resistência pacífica, porém ativa e combativa.
"E agora?" Não sei. Deus o sabe. No entanto, seja de um modo ou de outro, importa que sejamos achados fiéis, servindo ao Senhor e sustentando os valores do Reino de Deus.


Rev. Paulo Audebert Delage


Pastor Titular da Igreja que sou membro comungante.
Como acredito que Igreja"s" não deveriam ter de seus líderes posicionamentos políticos, e como político que sou, mantenho este blog com o objetivo, da discussão, de idéias, coloco o texto do Pastor Titular, do boletim dominical do domingo dia 09/11/2010, à baila, mostrando que os tempos são outros,hoje claramente às igrejas se manifestam, atraves de seus líderes, contrariando os próprios ensinamentos de Jesus Cristo, quando disse "A César o que é de César a Deus o que é de Deus",  ora, se a maior ou o maior mandatário do País ao assumir 'jura defender a constituição" qual o interesse em dizer que "SE" ...( estarei pronto à insubmissão e à desobediência civil,) acho lamentável, se o outro candidato fôsse o eleito haveria tal comentário duvido.
*CHEbola

O Estado laico e pluralista e as Igrejas

A descriminalização do aborto e a união civil de homosexuais, temas suscitados na campanha eleitoral, ensejam uma reflexão sobre a laicidade do Estado brasileiro, expressão do amadurecimento de nossa democracia. Laico é um Estado que não é confessional, como ocorre ainda em vários países que estabelecem uma religião, a majoritária, como oficial. Laico é o Estado que não impõe nenhuma religião mas que respeita a todas, mantendo-se imparcial diante de cada uma delas. Essa imparcialidade não significa desconhecer o valor espiritual e ético de uma confissão religiosa. Mas por causa do respeito à consciência, o Estado é o garante do pluralismo religioso.
Por causa dessa imparcialidade não é permitido ao Estado laico impôr, em matéria controversa de ética, comportamentos derivados de ditames ou dogmas de uma religião, mesmo dominante. Ao entrar no campo político e ao assumir cargos no aparelho de Estado, não se pede aos cidadãos religiosos que renunciem a suas convicções religiosas. O único que se cobra deles é que não pretendam impôr a sua visão a todos os demais nem traduzir em leis gerais seus próprios pontos de vista particulares. A laicidade obriga a todos a exercer a razão comunicativa, a superar os dogmatismos em favor de uma convivência pacífica e diante dos conflitos buscar pontos de convergência comuns. Nesse sentido, a laicidade é um princípio da organização jurídica e social do Estado moderno.
Subjacente à laicidade há uma filosofia humanística, base da democracia sem fim: o respeito incondicional ao ser humano e o valor da consciência individual, independente de seus condicionamentos. Trata-se de uma crença, não em Deus como nas religiões que melhor chamaríamos de fé, mas de crença no ser humano em si mesmo, como valor. Ela se expressa pelo reconhecimento do pluralismo e pela convivência entre todos.
Não será fácil. Quem está convencido da verdade de sua posição, será tentado a divulgá-la e ganhar adeptos para ela. Mas está impedido de usar meios massivos para fazer valê-la aos outros. Isso seria proselitismo e fundamentalismo.
Laicidade não se confunde com laicismo. Este configura uma atitude que visa a erradicar da sociedade as religiões, como ocorreu com o socialismo de versão soviética ou por qualquer motivo que se aduza, para dar espaço apenas a valores seculares e racionais. Este comportamento é religioso ao avesso e desrespeita as pessoas religiosas.
Setores de Igreja ferem a laicidade quando, como ocorreu entre nós, aconselharam a seus membros a não votarem em certa candidata por apoiar a discriminalização do aborto por razões de saúde pública ou aceitar as uniões civis de homosexuais. Essa atitude é inaceitável dentro do regime laico e democrático que é o convívio legítimo das diferenças.
A ação política visa a realização do bem comum concretamente possível nos limites de uma determinada situação e de um certo estado de consciência coletivo. Pode ocorrer que, devido às muitas polêmicas, não se consiga alcançar o melhor bem comum concretamente possível. Neste caso é razoável, também para as Igrejas, acolher um bem menor ou tolerar um mal menor para evitar um mal maior.
A laicidade eleva a todos os cidadãos religiosos a um mesmo patamar de dignidade. Essa igualdade não invalida os particularismos próprios de cada religião, apenas cobra dela o reconhecimento desta mesma igualdade às outras religiões.
Mas não há apenas a laicidade jurídica. Há ainda uma laicidade cultural e política que, entre nós, é geralmente desrespeitada. A maioria das sociedades atuais laicas são hegemonizadas pela cultura do capital. Nesta prevalecem valores materiais questionáveis como o individualismo, a exaltação da propriedade privada, a laxidão dos costumes e a magnificação do erotismo. Utilizam-se os meios de comunicação de massa, a maioria deles propriedade privada de algumas famílias poderosas que impõem a sua visão das coisas.
Tal prática atenta contra o estatuto laico da sociedade. Esta deve manter distância e submeter à crítica os “novos deuses”. Estes são ídolos de uma “religião laica” montada sobre o culto do progresso ilimitado, da tecnificação de toda vida e do hedonismo, sabendo-se que este culto é política e ecologicamente falso porque implica a continuada exploração da natureza já degradada e a exclusão social de muita gente.
Mesmo assim não se invalida a laicidade como valor social.
Leonardo Boff é teólogo e escritor.

*esquerdopata/comtextolivre

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