Alguem viu FHC no conflito da maconha dentro da USP?
Parece que progredíamos em termos da compreensão da mecânica do crime organizado e que, finalmente, gente conhecida, com poder de influenciar a opinião pública e os políticos, assumia posições novas mostrando as conexões existentes entre os rigores punitivos das leis antidrogas, no que respeita ao consumo da maconha, e os crimes de extorsão e de colaboração com o tráfico perpretados pelo aparelho policial.
Fernando Henrique foi uma dessas figuras com notoriedade que levantaram a bola sobre o assunto. Deu entrevistas, escreveu artigos e até protagonizou um documentário em que condenava o arcaísmo das leis e a contribuição que davam aos sempre crescentes índices de criminalidade nas grandes metrópoles brasileiras.
O arejamento da discussão sobre o tratamento que deveria ser dado ao usuário da maconha criou condições para que os jovens saíssem às ruas para levantar as mesmas bandeiras, a ponto de forçar o Superior Tribunal Federal a considerar legais as manifestações de rua com esse propósito.
Esperava-se que, por tudo isso, Fernando Henrique Cardoso e os que lhe secundaram na defesa da flexibilização da lei tivessem outra postura ao primeiro caso concreto de insurgência com que se deparassem, como resultado do respaldo à causa da liberdade que pareceram representar aos jovens mais mobilizados em torno da questão, dentre os quais, é claro, os estudantes da USP.
Mas surpresa. Não apenas os arautos de uma nova postura diante da lei deixaram de intervir quando eclodiu uma crise em torno do tema no momento em que policiais detiveram jovens no campus, lócus da autonomia universitária, como permitiram uma escalada de violência que culminou com a ocupação da reitoria da universidade.
Daí em diante silêncio tumular da principal referência na temática das drogas, já que ninguém mais que FHC tinha o dever moral de pronunciar-se sobre a marcha da insensatez que teve lugar quando a PM optou por levar, por conta e risco, dois jovens à delegacia.
O desdobramento dos acontecimentos expressa a falta de seriedade dos nossos políticos ao levantar temas de interesse da sociedade. A qualquer momento poderá surgir uma vítima fatal. E a leviandade com fins eleitorais cobrará seu preço em decilitros de sangue de alguém cheio de esperança que cometeu o erro de acreditar nas raposas desdentadas da política brasileira.
TODO APOIO AOS ESTUDANTES EM LUTA CONTRA O AUTORITARISMO NA USP
Os bravos estudantes que defendem a Universidade de São Paulo contra a escalada autoritária orquestrada por um reitor que a comunidade acadêmica não escolheu e um governador que segue a ideologia sinistra do Opus Dei (*) poderão ser massacrados neste sábado (5) por brucutus fardados, se não acatarem o ultimato de desocuparem o prédio da reitoria até as 17 horas (**).
Totalmente solidário aos estudantes, continuadores de nossas lutas contra o mesmíssimo inimigo em 1968, reproduzo trechos do ótimo artigo Polícia para quem precisa, do historiador e professor Henrique Carneiro, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, cuja íntegra recomendo:
"...revistar estudantes, dar buscas em centros acadêmicos ou prender jovens que fumam maconha em gramados do campus é não só dar destinação errada para a PM como extrapolar suas supostas funções de proteger a comunidade.
No que se refere ao crime na USP, pretexto para o uso da PM contra os estudantes, se sabe que a melhor proteção é a própria coletividade atenta e uma guarda bem treinada, bem equipada e com confiança comunitária.
A polícia priorizar a repressão ao uso de maconha é errado, porque isso a torna uma patrulha de costumes anti-estudantil.
NÃO PASSARÃO!
A presença e a ação da Polícia Militar no campus da USP, como um túnel do tempo, nos remete diretamente aos anos de chumbo, quando tais demonstrações de força, de uma truculência e de um ridículo atroz, eram amiúde utilizadas para intimidar estudantes e cidadãos.
Pareceu estarmos assisitndo de novo a prisões em massa de universitários como as do congresso da UNE em Ibiúna e ataques a campi como o deflagrado por Erasmo Dias contra a PUC.
Foi o máximo de perda que poderia causar um episódio de absoluta insignificância. E, agora, a exigência de fiança para libertar quem jamais deveria ter sido preso é outra grotesca aberração -- para não dizer evidente provocação.
Este caminho só leva ao acirramento dos ânimos, até se chegar ao que ninguém deveria querer: universitários mortos ou feridos por aqueles a quem compete defender a coletividade de bandidos, não tumultuar ambientes acadêmicos, com a conivência de um reitor sem legitimidade e sob as ordens de um governador que segue as piores cartilhas direitistas.
NÃO vale a pena ver de novo |
Haveremos de protestar, de lutar, de tudo fazermos para que o arbítrio não retorne, pelas mãos dos discípulos da Opus Dei e daquelas viúvas da ditadura que até ontem entoavam loas para a derrubada de um presidente legítimo.
E lanço um alerta à presidente Dilma Rousseff: o primeiro ano de governos petistas tem sido marcado por balões de ensaio golpistas que, sob Lula, não prosperaram -- caso do movimento Cansei!, evidentemente inspirado na Marcha da Família, com Deus, pela liberdade, que se avacalhou ao só levar à Praça da Sé meia dúzia de gatos pingados.
A versão 2011, contudo, causa maior preocupação, pois a articulação se dá num nível mais alto. Daí a necessidade de pronta e incisiva resposta, antes que o mal cresça.
A versão 2011, contudo, causa maior preocupação, pois a articulação se dá num nível mais alto. Daí a necessidade de pronta e incisiva resposta, antes que o mal cresça.
Não passarão!
*Naufragodautopia
Em breve, poderão prender também as fotocopiadoras ou quem vender cerveja em festas? Se o objetivo maior deve ser a manutenção da tranquilidade social, a intervenção da polícia não pode ser o agente que venha justamente provocar a ruptura dessa paz".
* para quem quiser saber mais sobre a atuação nefasta do Opus Dei no Brasil e no mundo, recomendo este excelente artigo do Altamiro Borges.
** negociação que acaba de ser noticiada prorrogou o prazo fatal para as 23 horas de 2ª feira (7).
** negociação que acaba de ser noticiada prorrogou o prazo fatal para as 23 horas de 2ª feira (7).
*Naufragodautopia
VERA MAGALHÃES
"Não se pode tratar a USP como a cracolândia", diz Haddad
O ministro Fernando Haddad (Educação) criticou nesta terça-feira em Franco da Rocha (SP) a ação policial de reintegração de posse na reitoria da USP.
"Não se pode tratar a USP como se fosse a cracolândia. Nem a cracolândia como se fosse a USP", disse Haddad durante vistoria ao antigo hospital do Juqueri.
A crítica atinge ao mesmo tempo o governo do Estado - ao qual estão subordinadas a USP e a Polícia Militar - e a Prefeitura, pelo fato de usuários de crack interditarem ruas no centro de São Paulo sem serem incomodados.
O ministro também criticou a invasão da reitoria, que considerou um ato "arbitrário" e "autoritário" de uma minoria. "Esse expediente, alem de ser autoritário, não produz bons resultados em nenhum lugar", afirmou.
Haddad, que é pré-candidato a prefeito da capital paulista pelo PT, fez a critica ao lado de Edson Aparecido, secretário estadual de Desenvolvimento Metropolitano.
Os dois devem firmar acordo para que o governo paulista ceda o prédio do antigo hospital do Juqueri para a instalação de um campus federal.
Estudantes que haviam invadido a reitoria da USP são rendidos por policial militares; 70 alunos foram detidos |
*comtextolivre
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