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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, novembro 04, 2011

Dilma defende criação de "CPMF global"

Apesar da rejeição de Estados Unidos e Grã-Bretanha, projeto apresentado pelo presidente francês, Nicolas Sarkozy, ganha peso com apoio do Brasil e da Argentina.
A situação da Grécia e seu referendo sem sentido ainda estão entre os principais temas de discussão nas pausas da reunião do G20 em Cannes. A cada demonstração de enfraquecimento do poder do primeiro-ministro grego George Papandreou, o presidente Nicolas Sarkozy comemora com seus vizinhos de mesa. Mas enquanto o país não bate o martelo em direção a uma aceitação sem imposições do pacote de ajuda assinado pela União Europeia, é preciso seguir a agenda do encontro.
O chefe de Estado francês trouxe novamente à roda de discussões um assunto que ainda deve gerar muita discordância: a tal da taxa sobre transações financeiras. Herdeiro da "taxa Tobin", o imposto ganhou espaço com a crise de 2008. O Prêmio Nobel de Economia americano, James Tobin, criador da teoria, acredita que esse seja um meio de frear as "idas e vindas" especulativas no curto prazo nos mercados de divisas, ao impor uma pequena taxa às operações. "Os países pobres não podem ser duas vezes vítimas da crise, uma pela queda da atividade interna e outra pela diminuição da ajuda que recebem dos países ricos" disse Sarkozy para justificar a pertinência deste novo procedimento de arrecadação. Segundo um relatório apresentado por Bill Gates, a pedido do líder francês, uma taxa baixa de 0,1% sobre a ações e de 0,02% sobre as obrigações poderia arrecadar 48 bilhões de euros no G20 ou 9 bilhões de euros em escala europeia. A Alemanha defende a ideia. Por outro lado, Estados Unidos e Grã-Bretanha se mostram pouco cooperativos.
Mas o presidente Nicolas Sarkozy ganhou duas partidárias de peso. A presidente Dilma Rousseff e Cristina Kirchner, da Argentina, se colocaram a favor do projeto. "Apoiamos a tese de que um piso único de renda não é filantropia, é uma rede de proteção mundial fundamental para enfrentar a crise", discursou Dilma, no plenário dos lideres, durante a sessão de trabalho sobre dimensão social da globalização e comércio. "O Brasil não irá se opor a uma taxa financeira mundial se isso for um consenso entre os países, a favor da ampliação dos investimentos sociais." Segundo ela, no Brasil, o Bolsa Família é um benefício parecido com o proposto pela organização.
Roberta Namour
*comtextolivre

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