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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, novembro 04, 2011

Obrigado, Ministro Orlando Silva

Messias Pontes *

Os Jogos Pan-Americanos de Guadalajara (México) foram encerrados na noite do último domingo com um brasileiro no alto do pódio recebendo a medalha de ouro por ter vencido a maratona de pouco mais de 42 quilômetros. Trata-se de Solonei da Silva, um catador de lixo do interior de São Paulo, bolsista do Ministério do Esporte. É oportuno lembrar que 40% dos atletas brasileiros que foram ao Pan do México este ano são bolsistas do programa Bolsa Atleta, criado pelo ministro Orlando Silva.

Neste ano o Brasil bateu o recorde de medalhas em Pan-Americanos fora do País: foram 48 de ouro, 35 de prata e 58 de bronze, totalizando 141, ficando o Brasil no honroso terceiro lugar, atrás apenas dos Estados Unidos e de Cuba. Por uma questão de justiça tem-se de creditar o êxito do Brasil ao ministro do Esporte, Orlando Silva Júnior, um baiano, preto, de origem muito pobre e além do mais comunista. Isto é demais para ser absolvido pela Casa Grande.

Como será que ficou a cara dos colonistas e demais jornalistas amestrados, em especial a do racista Boris Casoy ao ver um catador de lixo, do alto de sua vassoura, fechando com chave de ouro os Jogos de Guadalajara ao som do Hino Nacional e com uma medalha de ouro no peito? Isto é o fim do mundo para os amestrados da velha mídia conservadora, venal e golpista. Mas esses idiotas terão de engolir a esmagadora maioria dos brasileiros dizer: muito obrigado, ministro Orlando Silva!

Esses são os mesmos que não se conformam com a ascensão de um ex-operário metalúrgico, sem formação universitária, ao mais alto posto da Nação. Pior ainda para essa gentalha é ter de engolir o presidente Luiz Inácio Lula da Silva como um dos principais líderes mundiais, sendo condecorado em todos os continentes e recebendo o diploma de Doutor Honoris Causa das principais Universidades do Planeta.

O preconceito de classe dessa gente salta aos olhos. No final de setembro último o ex-presidente Lula recebeu o diploma de Doutor Honoris Causa da prestigiosa universidade francesa Sciences Po. A correspondente do jornal O Globo perguntou ao diretor da universidade francesa, Richard Descoings, por que dar um prêmio ao presidente Lula e não ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que é sociólogo, poliglota e grande intelectual? Outro amestrado perguntou por que premiar “quem tolerou a corrupção?” E um terceiro amestrado perguntou por que dar um título tão importante a quem chamou Muammar Kaddafi de irmão? É muita cretinice.

Dessa mesma cretinice foi vítima o ministro do Esporte Orlando Silva. A elite não pode permitir que um preto, pobre e comunista seja responsável pelo sucesso do País nos jogos Pan-Americanos tanto de 2007 no Rio de Janeiro como agora em Guadalajara. E o pior é que se prenuncia um sucesso maior com a Copa das Confederações em 2013 e com a Copa do Mundo de Futebol em 2014 e com as Olimpíadas em 2016. “Esse negro não pode permanecer onde está porque vai se projetar como nenhum branco conseguiu neste País. Temos de cortar as asinhas dele antes que seja tarde. Temos de usar a nossa imprensa não só para derrubá-lo, mas para desmoralizá-lo e atingir o partido dele no que ele tem de mais caro que é a ética”, raciocinam os canalhas de todas as matizes. E aí o macarthismo se desnuda de vez.

Esse macarthismo surgiu no Brasil em 1937 com o famigerado Plano Cohen, elaborado pelo então capitão fascista Olímpio Mourão Filho a pedido do líder da Ação Integralista Brasileira João Salgado Filho, e foi utilizado pelo governo federal com o objetivo de aterrorizar a população e justificar o golpe de Estado que deu origem ao famigerado Estado Novo. Somente 14 anos depois é que o senador norte-americano Joseph McCarthy criou em seu país o movimento macarthysta para combater os comunistas e seus simpatizantes.

As elites econômicas brasileiras, com a sua velha mídia conservadora, venal e golpista e com a ajuda da igreja católica passaram a disseminar a ideia de que comunista comia criancinha (hoje se sabe quem come criancinha e tem de pagar indenizações milionárias) e matava aleijados e velhos que não mais produziam para fazer sabão. Ah como eu tinha ódio de comunista! Foi essa mídia que apoiou o reacionário presidente Eurico Gaspar Dutra a cassar o mandato de 14 deputados federais e um senador comunistas em 1948.

Aquela mídia que repetia à exaustão que existia um mar de lama no Palácio do Catete e que levou o presidente Getúlio Vargas ao suicídio, é a mesma que tentou impedir a posse de Juscelino Kubitscheck, eleito presidente democraticamente em 1955, e de João Goulart, com a renúncia de Jânio Quadros em agosto de 1961; é a mesma que preparou e corroborou com o golpe militar de 1º de abril de 1964 e que deu sustentação à ditadura durante 21 anos. A Folha de São Paulo emprestava suas camionetes para transportar presos políticos para serem torturados nos porões dos quartéis do Exército e do Dops.

São esses mesmos canalhas que tentaram derrubar o presidente Lula e não conseguiram. Porém obtiveram sucesso derrubando o ministro Orlando Silva utilizando as mentiras de um bandido que já foi preso por corrupção e responde a nada menos de 11 processos. Esse bandido, o soldado PM João Dias Ferreira, para se vingar do ministro que exigiu a devolução de mais de R$4 milhões do Ministério do Esporte por não ter sido utilizado no Programa Segundo Tempo, caluniou Orlando Silva dizendo que tinha dado dinheiro a ele na garagem do Ministério, mas nunca provou. Disse que tinha gravação provando e nunca apresentou. Depois disse que não tinha nada contra o ministro, mas a velha mídia continua, criminosamente, tentando atingir o PCdoB no que ele tem de mais sagrado que é a ética.

Mas não conseguirá! São 90 anos de luta contra a tirania e na defesa da soberania nacional, dos trabalhadores, da justiça social, da liberdade e da paz!


* Diretor de comunicação da Associação de Amizade Brasil-Cuba do Ceará, e membro do Conselho de Ética do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado do Ceará e do Comitê Estadual do PCdoB.
*OniPresente

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