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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, novembro 16, 2011

ESPANHA QUER MELHORAR DA CRISE MANDANDO SEUS DESEMPREGADOS PARA O BRASIL


Com um desemprego de 22% (no Brasil é de 6.7%), uma dívida externa de 160% do PIB (a do Brasil é de 14%), e menos de 30 bilhões de dólares em reservas internacionais (as do Brasil são de 350 bilhões) a imprensa da Espanha, talvez com o senso de realidade afetado pela crise, está anunciando, com grande estardalhaço, que hoteleiros cariocas – muitos deles estrangeiros – estariam dispostos a trazer milhares de espanhóis para o Brasil para trabalhar, no lugar de brasileiros, como engenheiros, arquitetos, mestres de obra, nos projetos da Copa e das Olimpíadas, e como camareiros, garçons, chefes de cozinha e gerentes de hoteis.
A matéria, reproduzida em dezenas de veículos espanhóis, diz que estaria sendo negociado um “memorando de entendimento” entre o governo brasileiro e o espanhol para abrir o mercado de trabalho brasileiro para os espanhóis e cita uma frase do Ministro do Trabalho, Carlos Lupi, que teria dito para a Diretora Geral de Cidadania Espanhola no exterior, Pilar Pin, há alguns meses, que “o Brasil precisa de dois milhões de pessoas altamente qualificadas, e que a Espanha as têm.” Vejam o link:
Especialmente interessantes são os comentários, entre eles o de um cidadão espanhol, indignado, que diz que “enquanto eles nos enviam prostitutas, nós mandamos mão-de-obra altamente qualificada, que maravilha de intercâmbio...”
Com toda a pressão que houver no Brasil por mão-de-obra, como está acontecendo com os engenheiros, na indústria do petróleo, antes de trazer profissionais de fora, é preciso investir na formação de brasileiros, e contratar quem está desempregado. O Sr. Carlos Lupi, antes de acertar memorandos de intenções, deve consultar os sindicatos do pessoal de hotelaria no Rio, e saber do que precisa o SENAC, por exemplo, para acelerar a qualificação de mão de obra em sua ampla rede. O que não podemos é contratar ONGs de fachada, e lhes entregar milhões de reais, sob o pretexto de as treinar, conforme denúncias recentes.
A imprensa argentina mostra que o Brasil está se transformando, de novo, em um país atraente para os emigrantes, e, entre outras coisas, diz, em uma matéria em La Nacion, que aumentou, em apenas um ano, de 276.703 para 328.856 o número de portugueses no Brasil:
Ou seja, um país que tratou como tratou os nossos dentistas, que mandou tantos brasileiros de volta do aeroporto e no qual a mais recente polêmica contra nossos emigrantes envolve a exibição em um canal estatal, de um desenho animado no qual uma prostituta caricata é o único personagem que fala com sotaque “brasileiro”, não pode continuar a ser tratado com toda essa benevolência na hora de mandar gente para cá:
Da Espanha, nem é preciso lembrar da crise das expulsões e da forma com que sempre se reteve ilegalmente e em condições animalescas, centenas e centenas de brasileiros no aeroporto de Barajas, a pão e água, antes de serem enviados de volta e sem sequer poder sair do prédio, algumas vezes algemados, para o Brasil.
A emigração pode ser boa - e temos aí acordos com o Mercosul, que é quem nós temos que privilegiar se precisarmos de mão-de-obra - mas os critérios de reciprocidade e de respeito à soberania e à dignidade de nossos nacionais quando no exterior é que devem nortear nossa política de importação de mão de obra estrangeira.
Uma nação não se faz apenas com a economia: sem a dignidade não há pátria; não há cidadãos.
A foto que ilustra o post é de Patricia Rangel e Pedro Luiz Lima, dois brasileiros deportados da Espanha em 2008, direto do aeroporto, apesar de estarem com seus cartões de crédito e a documentação em dia.

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