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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, novembro 19, 2011

O Brasil de Pelé ou o Brasil de Neymar?

 

Pelé… Lembro do Walter Abrahão – que inovou e passou a chamar o Pelé de “Ele”. O jogo inteiro: cada vez que tocava na bola, “Ele”. O Walter só pronunciava o nome Pelé quando era jogada espetacular, eminência de gol. Acelerava a narrativa: “Passe genial de Pelé!… “Jogada magistral de Pelé!”… “Um golaço de Pelé!”
As imagens de Pelé em preto e branco feitas na década de 60 me pouparam de ver a ditadura – que nada era mais espetacular para um garoto que ver o Pelé jogar. Mas na campanha do Tri, em 1970, dava pra senti-la por toda parte, ao vivo e a cores. Era o auge do regime militar. A época em que a ditadura fez a maioria de suas vítimas. O slogan era “Brasil: ame-o ou deixe-o” e a trilha sonora “Noventa milhões em ação”. O presidente, general Médici, carimbou a “Revolução” na Seleção. Foi pessoalmente visitar os jogadores e AVISOU que era obrigatório ganhar a Copa. “Entrou” um almirante, o Nunes, na comissão técnica da seleção. Marcação cerrada. Às vésperas do mundial, mandaram trocar o técnico João Saldanha porque ele era “suspeito de ter simpatia” pelo PCB. “Simpatizante de comunista não pode ser tri-campeão”: Zagalo pegou a seleção prontinha.
Em 75, quando Pelé aceitou a oferta “irrecusável” do Cosmos e foi jogar nos EUA, abriu a porteira para o capital estrangeiro chegar e levar jogador de baciada. Teve uns que levaram ainda na incubadeira. Os clubes e craques brasileiros eram tão ineptos para negociar, que favoreceram o surgimento do intermediário. E todos sabemos que este sujeito só torce para o próprio bolso.
Depois de 4 décadas de ofertas europeias irrecusáveis levando nossos talentos, o Brasil virou o jogo. Até o Wagner Ribeiro, comerciante de jogadores que está em todas (impressionante isso, né?), assinou o contrato que disse um NÃO definitivo aos europeus. O Real peitou o Euro e levou! Neymar vai receber salário de gente grande. Como o do Messi ou do Cristiano Ronaldo. Isso cheira uma economia que pulou fora do neoliberalismo a tempo, está sendo bem conduzida há 9 anos e já é considerada a 6a do mundo?
A postura do presidente do Santos diante do mau humor dos empresários espanhóis por voltarem para casa de mãos vazias, mostra como nos distanciamos do velho Brasil, colonia tropical das elites do primeiro mundo. Luis Álvaro chamou-os de arrogantes com mentalidade colonizadora.
O “fico” de Neymar teve um motivo de valor inestimável, acima da força da grana: o garoto tem ORGULHO de jogar no Brasil. Ao contrário de muitos atletas, alguns impregnados do complexo de vira-latas dos tempos de FHC, Neymar não correu para os braços da galera européia para sentir-se a azeitona da empada.
Molecagens como esta irritam as socialites da Folha. Que mania de independência têm esses jovens! Essa impaciente idéia fixa por autodeterminação… As madames não perdoam Santos e Neymar por desprezarem seus amigos europeus. Não perdoam os estudantes da USP por exigirem autogestão. Seu governador valentão (rendido pelo PCC em 2006) precisou de 400 homens da tropa de choque da PM armados com fuzis de guerra, apoio logístico de helicópteros e toda a tropa do PiG, para enfrentar os “perigosos” 72 estudantes da Faculdade de Filosofia da USP, dentre eles 24 meninas. (O que o PSDB tem contra a educação em São Paulo? Na gestão passada foi a vez de Serra descer o cacete nos professores da rede pública naquela que ficou conhecida como a “greve do vale-coxinha“. Agora, de novo, o PSDB parte para a ignorância em São Paulo.
As madames da elite-botox Cansei 2011/ Regional-SP, não perdoaram o Brasil por ter-se “entregado” ao PT em 2002. E nunca vão perdoar Lula por ter chacoalhado as camadas sociais depois de séculos de “harmonia”.
O PiG odeia Neymar. Por isso vendeu-o 365 vezes este ano. Emergente famoso, bem-sucedido, filhote da era Lula/Dilma? Manda pra longe, desbota seu verde-amarelo. O PiG precisa desmistificar, negar qualquer brasileiro famoso e bem sucedido. Principalmente os que surgiram depois de 2002…
A Folha deu 15 minutos de fama às socialites que sempre desprezaram o povo brasileiro. Há pérolas no vídeo delas que mostram falhas de alfabetização. Como aos 1m50s, “… nós não estamos “se” mobilizando…, ou aos 4m38s, … os jovens “é” o futuro do nosso país…
Brasil estranho esse, não é mesmo madame? Aviões apertados, shopping-centers apertados, avenidas apertadas, clubes apertados, escolas apertadas, salões de beleza, supermercados… Sentem-se sufocadas, as peruas. Mesmo no luxo onde vivem (que certamente não adveio de honestidade ortodoxa e enriquecimento 100% lícito). Todo mundo vê. Vestem o patriotismo mais fajuto da paróquia e escondem de si mesmas os mais rasos sentimentos de preconceito racial e social.
Para os europeus dos anos 60, o Santos de Pelé era uma atração tropical, exótica, que apresentava um rei eleito pela plebe a quem toda a mídia reverenciava. Tratavam-nos como o país do futebol e do Carnaval. Ou seja, o país do circo.
O Santos de Neymar é o exemplo de um Brasil independente e autodeterminado que não se curva mais ao primeiro mundo. Tivemos a ousadia de negar-lhes nosso maior craque.
Imaginem Neymar em 2014, na “Copa do PT”, para desespero da oposição e sua mídia. Zagalo diria: “Vocês vão ter que me engolir”!

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