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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, novembro 19, 2011

Privatização da USP vai começar pelo Clínicas?


Texto: Denise Queiroz
Pesquisa: Sergio Pecci
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Enquanto Lupi está na gangorra e os grandes meios de comunicação exploram mais uma vez a fragilidade do governo brasileiro em fiscalizar as ações do ministérios (crítica que cá entre nós deveria ser ouvida sem o ranço do golpismo e as devidas providências tomadas para que os desvios, tanto de caráter quanto do nosso dinheiro não ocorram) um outro escândalo passa quase incólume, não fossem umas e outras vozes. A Assembléia Legislativa de São Paulo aprovou dia 16 o projeto de Lei que transforma o Hospital das Clínicas de São Paulo em Autarquia.

Vista aérea do complexo inaugurado em 1944
















Existem várias formas de patrimônio público. O histórico, o cultural, o arquitetônico, o imemorial. O Hospital das Clínicas pode ser caracterizado como quase tudo junto e, portanto, deveria estar acima da autoridade do governicho e legislativo de plantão transformá-lo num outro ente qualquer que não seja público.
Entende-se público por algo que foi construído, montado e é mantido, com dinheiro que vem dos impostos de cada um de nós! Com o Sistema Único de Saúde,  o dinheiro para manutenção edílica e funcional das unidades sanitárias é do povo brasileiro. Ou seja eu, aqui em Petrópolis, Rio de Janeiro, acabo financiando com os impostos federais arrecadados a cada comprinha que faço, não só a saúde desta cidade, mas de algum hospital ou UPA no interior do Pará ou de Brasília e também de São Paulo. 



Seguindo essa linha de raciocínio, que não está equivocada, solto um aviso: o governo tucano de São Paulo está querendo privatizar algo que não é só de São Paulo, é do povo brasileiro. E vai ficar assim? O Ministério da Saúde, que pela lógica do SUS, é sócio, vai permitir que um governo que não repassa os valores constitucionais para a saúde e a educação transforme uma das principais referencias médicas do país em mais um hospital que vai dar atendimento prioritário aos portadores de plano de saúde escorchantes? Vai permitir que as pessoas de menos recursos e que portanto não têm como pagar um plano particular fiquem meses nas filas de espera para um atendimento que até agora é imediato? Sim, porque com a proposta, o destino do clínicas será o mesmo do Incor. Quem tem plano é atendido imediatamente, quem não o tem fica numa fila que, em tempo, pode durar mais que uma volta ao mundo, cerca de 14 meses. 

Passarela de ligação entre o Incor e o Clínicas

Se a Assembléia Legislativa de São Paulo aprova ( e até na base aliada de Alckmin há defecções), o povo de São Paulo também aprova ou seus representantes estão mais uma vez fazendo o que querem e não cuidando da população, como deveriam fazer com o voto que receberam?

E os partidos e militantes de esquerda que pregam mais igualdade? Votos não têm em maioria em São Paulo, mas barulho podem fazer. Esse silêncio é que não vai resolver.

Na semana passada, pasmem, o próprio Jornal Estado de São Paulo publicou editorial alertando que tal estava para ocorrer e criticando de forma veemente a decisão. Passou em branco, ao que parece.  
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