Páginas

Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, dezembro 09, 2011

A reportagem de Amaury é um processo penal.

West Bay, Tortola, Ilhas Virgens:o esconderijo dos privatas brasileiros no Caribe
O livro de Amaury Ribeiro Júnior são dois, que me consumiram a noite e a manhã, numa escandalizada leitura.
Um dos livros, com 200 páginas, conta a histórias de um time de lavadores de dinheiro, todos girando em volta de José Serra, durante e depois do criminoso processo de privatizações.
Há os “amicci” – Ricardo Sérgio, Vladimir Rioli e Daniel Dantas – e a “famiglia” – a filha, Verônica, o genro, Alexandre Bourgeois e o “primo” Gregório Marín Preciado – com suas contas e contratos na Ilhas Virgens, na paradisíaca cidade de Tortola.
Ou, mais precisamente, em caixas postais, como a  P.O. Box 662.
A Caixa Postal 662 é o endereço predileto do crime financeiro organizado. Muito mais perigosa e criminosa que qualquer fortaleza do tráfico.
É lá, por exemplo, que “fica” a AES Holdings, braço criado pela AES americana, talvez para não conspurcar o Cemitério Nacional de Arlington, cidade da Virgínia onde fica sua sede, onde repousam os herois da democracia americana. E outra caixa postal vizinha, a PO Box 31106, ficam a AES Cemig, a AES Tietê, a AES Brazilian Holdings e uma dúzia de outras, de nomes muito interessantes, como a AES Treasure Cove, ou “Buraco do Tesouro”…
Voltemos aos livros do Amaury.
O “segundo livro”, de 120 páginas, é uma fantástica coleção de provas. Os registros, transferências de dinheiro, as operações, a entrada de dinheiro com capitalizações fajutas de empresas, o tráfico de influência, a gestão temerária, a advocacia administrativa, a corrupção estão retratadas, em inglês e português, nos seus mínimos detalhes, no que deve ter sido uma longa e penosa missão de reportagem.
Reportagem? Não, “os livros” de Amaury não são  uma reportagem.
Deveriam ser olhados como a instrução de um processo criminal.
É a ísso que o Ministério Público está desafiado.
Amaury Ribeiro já “instruiu os autos”.
É com os senhores, senhores promotores.
PS. Estou em São Paulo, onde será lançado o livro, com um debate ao vivo sobre a obra, a partir das 20 horas. O Tijolaço transmitirá.
*Tijolaço

Nenhum comentário:

Postar um comentário