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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

segunda-feira, setembro 03, 2012

Países não-alinhados se alinham.

 

Sanguessugado do Olhar o Mundo
Luiz Eça
O NAM (organização dos Países Não-Alinhados) surgiu na Guerra Fria para defender os interesses de países que não estavam nem na órbita soviética, nem na americana.
Foi o tempo dos grandes líderes do 3º mundo, como Neru, Nasser e Sukarno, que impuseram o movimento como um protagonista importante da política internacional.
Com o fim da Guerra Fria, o NAM perdeu sua principal razão de ser.
Parte dos seus membros tornaram-se opositores da liderança mundial do EUA, parte ficou em cima do muro e ainda alguns aceitaram a hegemonia americana.
No entanto, o NAM nunca deixou de defender as grandes causas dos países que o integram.
Fazendo um balanço da reunião de Teerã, encerrada no sábado, é inegável que o Irã saiu bem.
Conforme afirmou Dina Esfandiary do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos da Grã-Bretanha: “O conclave permitiu ao Irã mostrar que ele tem amigos e parceiros de negócios apesar dos esforços internacionais para isolá-los.”
De fato, enquanto os EUA insistem que conseguiram isolar o país da comunidade internacional, a presença de 120 nações demonstrou que o Irã não está sozinho.
Especialmente porque uma das resoluções do conclave foi apoiar seu direito de produzir energia nuclear para fins pacíficos, inclusive enriquecendo o urânio.
Ora, é exatamente o que os EUA e a Europa não admitem, aplicando sanções pesadas para forçar o Irã a pedir água.
Chama a atenção o fato de que tradicionais aliados americanos aprovaram a moção em favor dos iranianos. Entre eles a Arábia Saudita, o Kuwait, as Filipinas, o Paquistão e até o fiel Bahrein.
Outras propostas aprovadas que contrariam as políticas do Departamento de Estado, foram o apoio à independência da Palestina, à libertação de todos os prisioneiros palestinos, a luta contra a discriminação e a rejeição das sanções unilaterais.
A diplomacia americana esperava a defecção do Egito depois que o Presidente Morsi condenou o regime sírio como opressivo, contra a posição iraniana, favorável a esse seu aliado.
No entanto, o Egito assinou todas as conclusões da chamada “Declaração de Teerã”. E mais: em reunião com o Presidente Ahmadinejad, Morsi reconheceu o Irã como seu parceiro estratégico.
E declarou:  “Os sentimentos de fraternidade e amizade entre os povos do Irã e do Egito são mútuos e nós sempre valorizamos o caminho construtivo e progressista do Irã em direção do crescimento e do desenvolvimento.”
O apoio das 120 nações do NAM sinaliza dois fatos pouco agradáveis para a diplomacia americana.
120 nações são 2/3 da Assembléia Geral da ONU. O voto delas impedirá os EUA de conseguir que a Assembléia Geral aprove sanções contra o Irã.
De outro lado, esta maioria garante o reconhecimento da Palestina como estado independente não-membro da ONU.
Claro, o poder de fogo do dólar americano é inegável.
Lembro que no ano passado, quando a Palestina pretendia pleitear seu reconhecimento no Conselho de Segurança da ONU, Obama com um simples telefonema convenceu a majoritariamente muçulmana Bósnia a se omitir.
E assim a Palestina não teria número suficiente de votos para sua proposta ser aprovada.
Mas dobrar um país não é o mesmo que dobrar 120.
Sabe-se que não será por ali que os EUA e Israel pretendem impedir que a causa palestina seja levada a voto na Assembléia da ONU.
Influenciar a Autoridade Palestina com um conjunto de ameaças e benefícios será o recurso utilizado, como, aliás, já foi anunciado off the records.
Se Abbas, o Presidente da Autoridade Palestina, resistir, os países da NAM , formalmente alinhados com os palestinos, deverão garantir sua vitória.
*GilsonSampaio

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