Países não-alinhados se alinham.
Sanguessugado do Olhar o Mundo
Luiz Eça
O
NAM (organização dos Países Não-Alinhados) surgiu na Guerra Fria para
defender os interesses de países que não estavam nem na órbita
soviética, nem na americana.
Foi o tempo dos
grandes líderes do 3º mundo, como Neru, Nasser e Sukarno, que impuseram o
movimento como um protagonista importante da política internacional.
Com o fim da Guerra Fria, o NAM perdeu sua principal razão de ser.
Parte
dos seus membros tornaram-se opositores da liderança mundial do EUA,
parte ficou em cima do muro e ainda alguns aceitaram a hegemonia
americana.
No entanto, o NAM nunca deixou de defender as grandes causas dos países que o integram.
Fazendo um balanço da reunião de Teerã, encerrada no sábado, é inegável que o Irã saiu bem.
Conforme
afirmou Dina Esfandiary do Instituto Internacional de Estudos
Estratégicos da Grã-Bretanha: “O conclave permitiu ao Irã mostrar que
ele tem amigos e parceiros de negócios apesar dos esforços
internacionais para isolá-los.”
De fato,
enquanto os EUA insistem que conseguiram isolar o país da comunidade
internacional, a presença de 120 nações demonstrou que o Irã não está
sozinho.
Especialmente porque uma das resoluções
do conclave foi apoiar seu direito de produzir energia nuclear para
fins pacíficos, inclusive enriquecendo o urânio.
Ora, é exatamente o que os EUA e a Europa não admitem, aplicando sanções pesadas para forçar o Irã a pedir água.
Chama
a atenção o fato de que tradicionais aliados americanos aprovaram a
moção em favor dos iranianos. Entre eles a Arábia Saudita, o Kuwait, as
Filipinas, o Paquistão e até o fiel Bahrein.
Outras
propostas aprovadas que contrariam as políticas do Departamento de
Estado, foram o apoio à independência da Palestina, à libertação de
todos os prisioneiros palestinos, a luta contra a discriminação e a
rejeição das sanções unilaterais.
A diplomacia
americana esperava a defecção do Egito depois que o Presidente Morsi
condenou o regime sírio como opressivo, contra a posição iraniana,
favorável a esse seu aliado.
No entanto, o Egito
assinou todas as conclusões da chamada “Declaração de Teerã”. E mais:
em reunião com o Presidente Ahmadinejad, Morsi reconheceu o Irã como seu
parceiro estratégico.
E declarou: “Os
sentimentos de fraternidade e amizade entre os povos do Irã e do Egito
são mútuos e nós sempre valorizamos o caminho construtivo e progressista
do Irã em direção do crescimento e do desenvolvimento.”
O apoio das 120 nações do NAM sinaliza dois fatos pouco agradáveis para a diplomacia americana.
120
nações são 2/3 da Assembléia Geral da ONU. O voto delas impedirá os EUA
de conseguir que a Assembléia Geral aprove sanções contra o Irã.
De outro lado, esta maioria garante o reconhecimento da Palestina como estado independente não-membro da ONU.
Claro, o poder de fogo do dólar americano é inegável.
Lembro
que no ano passado, quando a Palestina pretendia pleitear seu
reconhecimento no Conselho de Segurança da ONU, Obama com um simples
telefonema convenceu a majoritariamente muçulmana Bósnia a se omitir.
E assim a Palestina não teria número suficiente de votos para sua proposta ser aprovada.
Mas dobrar um país não é o mesmo que dobrar 120.
Sabe-se
que não será por ali que os EUA e Israel pretendem impedir que a causa
palestina seja levada a voto na Assembléia da ONU.
Influenciar
a Autoridade Palestina com um conjunto de ameaças e benefícios será o
recurso utilizado, como, aliás, já foi anunciado off the records.
Se
Abbas, o Presidente da Autoridade Palestina, resistir, os países da NAM
, formalmente alinhados com os palestinos, deverão garantir sua
vitória.
*GilsonSampaio
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