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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, novembro 14, 2012

A AMÉRICA LIBERAL

Além da reeleição de Barack Obama, vários episódios demonstram que os Estados Unidos estão longe de se transformar numa teocracia militarista-corporativa prevista por analistas mais à esquerda. 
 A woman passes a joint at a pro-marijuana "4/20" celebration in front of the state capitol building April 20, 2010 in Denver, Colorado. April 20th has become a de facto holiday for marijuana advocates, with large gatherings and 'smoke outs' in many parts of the United States. Colorado, one of 14 states to allow use of medical marijuana, has experienced an explosion in marijuana dispensaries, trade shows and related businesses in the last year as marijuana use has become more mainstream.
A aprovação do consumo recreativo de maconha nos estados de Washington e Colorado é um exemplo. Outro foram os referendos que aprovaram o casamento entre pessoas do mesmo sexo nos Estados de Maryland, Maine e Washington (DF), juntando-se a outros estados que já reconhecem esse direito: Connecticut, Iowa, Massachusetts, New Hampshire, Vermont e Washington (DF). 

Na Flórida, 55%  dos eleitores rejeitaram um projeto que visava proibir o uso de fundos públicos para financiar abortos, exceto em caso de estupro, incesto ou risco para a vida da mãe. A exceção é a Califórnia, estado que costuma ser vanguarda em questões de comportamento, renegou sua reputação progressista ao rejeitar a abolição da pena de morte.

Tammy Baldwin, a primeira parlamentar gay
O próximo Senado dos Estados Unidos terá um número recorde de mulheres: 19 de um total de cem parlamentares na Casa, contra as 17 atuais. As mulheres se destacaram principalmente no Partido Democrata; as seis senadoras democratas que disputavam a reeleição venceram. Duas democratas eleitas serão as primeiras mulheres a representar seus Estados – Elizabeth Warren em Massachusetts e Tammy Baldwin, no Wisconsin. Tammy – que parece a irmã gêmea mais nova de Mick Jagger – é também a primeira senadora abertamente homossexual a ser eleita. Outra democrata, Mazie Hirono, é a primeira senadora de origem asiática do Havaí.
Mazie Hirono

Mas o grande destaque foi Elizabeth Warren, 63 anos, eleita senadora pelo estado de Massachussetts, que já foi governado pelo candidato republicano derrotado, Mitt Romney. Ela defendia a regulação do sistema financeiro antes da crise dos “subprime” estourar em 2008 e a criação de uma agência de proteção financeira ao consumidor.

Elizabeth Warren, a nova sensação liberal
Como escreveu o colunista Elio Gaspari: “a banca torrou US$ 1,3 bilhão com lobistas para desidratar a reforma, mas não conseguiu impedir a criação da agência. Por qualquer critério, Warren seria encarregada de dirigi-la. A astuciosa oposição do secretário do Tesouro, Timothy Geithner, e a maleabilidade do companheiro Obama driblaram-na. Numa bonita cerimônia, ela foi encarregada de organizar a instituição, e tchau. Agora Warren chega a Washington como senadora, montada na vassoura da defesa da classe média.

Ela diz coisas que pareciam ter saído de moda. Por exemplo:

‘Neste país ninguém ficou rico à sua custa -ninguém. Você transporta seus produtos em estradas que nós pagamos; você contrata pessoas que foram educadas pelo sistema público, sua fábrica está segura porque nós pagamos a polícia e os bombeiros. (...) Nosso contrato social pressupõe que você receba uma parte dos benefícios e pague para que um garoto seja beneficiado por ele.’”

Os espíritos de George McGovern, Ted Kennedy, Martin Luther King, Adlai Stevenson e Eleanor Roosevelt devem estar sorrindo...


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