Argentina ou Clarintina
Via Rebelion
Aram Aharonian
Tradução do espanhol: Renzo Bassanetti
No
embate pela democratização das comunicações argentinas, ao qual se
acrescentou a corporação judicial abertamente a favor dos grandes grupos
econômico-midiáticos, o oligopólio Grupo Clarín conseguiu uma
prorrogação da medida cautelar graças à qual continuará isento de
adequar-se às disposições e limites da Lei de Serviços de Comunicação
Audiovisual sancionada há três anos. Essa nova legislação prevê que uma
pessoa ou empresa pode possuir 24 sistemas de comunicação por cabo, 10
licenças de radiodifusão, - sejam de radio FM, AM ou televisão aberta -,
e um sinal de conteúdos (canal a cabo). O Grupo Clarín detém 250
licenças.
A decisão cautelar vencia no dia 7 de
dezembro, segundo a Corte Suprema tinha estabelecido no mês de maio
passado, quando assinalou que, até aquele momento, o Clarín não tinha
demonstrado que houvesse sido violado algum direito essencial, como a
liberdade de expressão, e que por isso o expediente aparecia como uma
questão de natureza meramente “patrimonial”. Uma questão patrimonial
pode ser resolvida mais tarde com uma reparação econômica. A violação de
um direito básico, não. Contudo, a Sala 1 da Câmara Cível e Comercial
decidiu, na 5a. feira, 6 de dezembro, que continue vigente
“até que a sentença definitiva da causa seja ditada”. Ou seja, ela cairá
quando o juiz de 1ª instância Horácio Alfonso defina a validade
constitucional dos artigos da norma que obrigam a desfazer-se das
licenças de rádio e televisão e que definem os parâmetros da
concentração de meios.
A Câmara argumentou que a
situação mudou em relação à seis meses atrás, quando a Corte se
pronunciou para advertir que não se devem prorrogar as medidas
cautelares indefinidamente por que elas terminam se transformando em
sentenças antecipadas. A Câmara assinalou que uma decisão do juiz
Alfonse sobre a questão de fundo já é eminente, por que assim o exigem
as diretivas supremas.
Para os integrantes dessa
Câmara, levantar a cautelar “quando ainda não está dirimida a
impugnação constitucional” apresentada pelo Clarín contra a “obrigação
de desinvestir(...) causaria um prejuízo irreparável” se a decisão final
fosse favorável à empresa, que se veria na obrigação de ter que ceder
parte de seu patrimônio.
O titular da Autoridade
Federal de Serviços de Comunicação Audiovisual, Martin Sabbatella,
considerou “uma vergonha” a decisão da Câmara Civil e Comercial. “Isso
demonstra claramente que essa Câmara termina sendo a equipe jurídica do
grupo empresarial Clarín(...). Há uma parte da justiça argentina que não
está preparada para enfrentar as corporações, porque está colonizada e
responde a esses interesses corporativos”, advertiu.
Sabbatella
ressaltou que “é uma barbaridade que uma lei aprovada pelo Congresso
por ampla maioria fique travada por uma manobra”. A decisão da Câmara
Civil e Comercial está assinada pelos juízes Maria Susana e Francisco de
Las Carreras, sobre quem pesa uma denúncia penal e outra no Conselho da
Magistratura, por ter viajado a um congresso em Miami organizado pela
Certal, uma associação que tem entre seus membros diretores do grupo
Clarín. Segundo Sabbatella, essa situação “demonstra que os juízes que
viajam a Miami financiados pelo Clarín terminam transformados em membros
da sua equipe jurídica.
A sentença da Câmara
prorroga a cautelar até que o juiz de primeira instância Horácio Alfonso
resolva a questão de fundo, desconhecendo assim o critério de
“razoabilidade” apresentado pela Corte Suprema, que fixou o dia 7 de
dezembro para sua finalização. É mais grave ainda que a Câmara tenha
opinado que o Clarín poderia ter um ano mais para adequar-se à lei após a
sentença de fundo.
Para que todos tenham as
mesma oportunidades, a Autoridade Federal anunciou que prorrogará a
resolução 901 do organismo, que amplia os prazos de adequação para o
resto dos grupos de meios, até quando o principal ator do mercado, o
Grupo Clarín comece seu processo de adequar-se ao disposto pela lei.
Sem
dúvida, a concentração dos meios de comunicação por parte de um pequeno
número de empórios econômicos se transformou numa das principais
ferramentas do neoliberalismo para o controle ideológico das sociedades.
Antes, necessitavam das forças armadas, hoje lhes basta o controle dos
meios de comunicação de massa.,
A esse problema,
acrescenta-se a impunidade para manipular e esconder de seus acionistas
todos os seus interesses econômicos e políticos. Tudo isso é mostrado
por eles como uma defesa da liberdade de expressão, transformando esse
princípio democrático em uma cartada para seu domínio e o atropelo do
direito cidadão de informar e ser informado.
Argentina ou Clarintina?
*GilsonSampaio
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