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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quinta-feira, dezembro 06, 2012

Deficiência física de personagens históricos é ignorada

 
Presidente americano Franklin Roosevelt
As deficiências físicas de muitas figuras históricas conhecidas, e outras nem tanto, é um aspecto muitas vezes pouco conhecido do público.
Em um museu de Veneza há quatro estátuas colossais de cavalos em cobre. A milhares de quilômetros de lá, na magnífica igreja de Santa Sofia, em Istambul, fica a tumba do homem que roubou essas esculturas – Enrico Dandolo.
Dirigente e magistrado da República de Veneza em 1192, Dandolo liderou a Quarta Cruzada (expedição militar cristã que pretendia conquistar o Egito muçulmano) até a cidade de Constantinopla, na atual Turquia.
Seu exército atingiu o coração do Império Bizantino.
A pessoa com deficiência e sua relação com a história da humanidade 10 incríveis pessoas com deficiência Beethoven deixou testemunhos biográficos preciosos em cadernos de conversação
Dandolo foi um líder dinâmico que reformou o sistema monetário veneziano e se tornou uma figura inspiradora no campo de batalha.
Quando suas tropas flanqueavam o inimigo sob uma chuva de flechas, ele foi o líder responsável pela vitória. Seus homens foram a primeira força militar estrangeira a romper as muralhas da capital bizantina.
Dandolo morreu em uma expedição no ano seguinte. Entre seus seguidores era considerado um líder valente, enérgico e vigoroso. Para seus inimigos, era ambicioso, inescrupuloso e astuto.
Mas há dois aspectos de sua vida que podem surpreender o leitor.
Dandolo realizou todas esses feitos com 90 anos – e já estava cego há mais de duas décadas.
Deficientes
O líder veneziano ficou cego após levar um golpe na cabeça, quando já era sexagenário, segundo Thomas Madden, autor de sua biografia.
E ele não foi o único guerreiro deficiente da Idade Média. O rei John da Bohemia, que era cego, morreu cavalgando na batalha de Crecy, contra os ingleses.
Balduino 4º, rei de Jerusalém, venceu Saladino na batalha de Montgisard, em 1177, apesar de estar seriamente debilitado pela lepra.
Na lista de deficientes estão outras figuras famosas, como Ludwig van Beethoven, cuja surdez se tornou amplamente conhecida, ou Julio César – que tinha convulsões possivelmente devido a uma epilepsia.
Outro exemplo é o almirante britânico Nelson, que ao perder seu braço direito escreveu: “um almirante canhoto não voltará a ser considerado útil, portanto quanto antes eu encontre uma morada humilde para me aposentar, melhor. É preciso deixar espaço para que um homem melhor possa servir ao Estado”.
Entretanto, a maior parte das pessoas não pensa nessas figuras históricas como deficientes, segundo o sociólogo Tom Shakespeare, autor do livro Disability right and wrongs (Erros e acertos das deficiências, em tradução livre).
Segundo ele, a associação de identidade com deficiência é um conceito recente, do século 20.
A cadeira de rodas de Roosevelt
“A deficiência está associada a excluídos. Quando aparece alguém como Dandolo, ele recebe um status honorário de não deficiente”, diz. “Se tiveram êxito, não podem ser deficientes. Esse aspecto de sua identidade não é priorizado”.
Além disso, afirma, os deficientes sempre foram estimulados a dissimular ou esconder sua condição.
Isso ocorreu com Dandolo. “Circulavam histórias sobre como ele ocultava sua cegueira. Colocava um cabelo em sua sopa e se queixava em voz alta”, segundo seu biógrafo.
Seus esforços anteciparam a atitude do presidente americano Franklin Roosevelt, mais de sete séculos depois.
Paralisado da cintura para baixo uma década antes de assumir o cargo, Roosevelt se empenhou em esconder sua deficiência.
Há dezenas de imagens dele em pé, já como presidente, mas sempre apoiado cuidadosamente em algum suporte. Esse esforço seria resultado de uma suposição de que a deficiência diminuiria suas perspectivas eleitorais.
Todas as suas aparições eram meticulosamente coreografadas, para que a cadeira de rodas não aparecesse. “Não há caricaturas ou imagens de arquivo que o mostrem como deficiente, o que é extraordinário”, disse Shakespeare.
No caso de Dandolo, até seu biógrafo afirmou não identificá-lo como deficiente.
Importância simbólica
De acordo com a mentalidade moderna, histórias de vida semelhantes dariam margem a mensagens de otimismo sobre o potencial de todas as peasoas com deficiência.
Mas as coisas eram diferentes na Idade Média. A grande ironia é que na época de Dandolo, os imperadores bizantinos depostos eram cegados propositalmente para evitar que voltassem ao poder.
Apesar da história não ser escrita somente por meio dos feitos de grandes homens, o sociólogo Tom Shakespeare afirma que a valorização das figuras deficientes tem um propósito simbólico.
“É muito importante nomear as pessoas porque temos uma visão muito negativa [das pessoas com deficiência]“.
Fonte: BBC
*Deficienteciente

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