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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quinta-feira, dezembro 06, 2012

Exemplo de democracia: CPI cancela outra reunião, enquanto novo incêndio atinge favela de São Paulo

Via Rede Brasil Atual
Somente em 2012, já são 39 as ocorrências de fogo em comunidades pobres da cidade; comissão, que só realizou cinco sessões até agora, deve encerrar trabalhos na semana que vem
Sarah Fernandes
Bombeiro e moradores fazem rescaldo em novo incêndio na Paraisópolis (Foto: Frame/Folhapress)
São Paulo – Vinte minutos depois do horário em que deveria ter começado a reunião de hoje (5) da CPI dos Incêndios em Favelas de São Paulo – mais uma vez cancelada –, teve início um novo incêndio na comunidade de Paraisópolis, o segundo na região em menos de uma semana e o 39º do ano. Desta vez foram destruídos oito barracos. Não houve feridos. O número elevado de ocorrências se contrapõe ao de encontros da Comissão: apenas cinco ocorreram entre abril e dezembro.
O de hoje foi adiado mais uma vez e em cima da hora. O motivo foi a impossibilidade da secretária adjunta de Habitação do município, Elisabete França, comparecer para depor. Durante esta semana ela participa de um congresso internacional sobre urbanismo, em Moscou, na Rússia. Apesar de o aviso ter sido feito em 28 de novembro, o cancelamento da reunião só ocorreu na noite de ontem (4).
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Essa é a segunda vez que Elisabete França é convocada para depor. Ela compareceu na primeira, em 10 de outubro, porém o encontro foi cancelado por não atingir presença mínima de quatro vereadores. Esta é uma realidade recorrente na CPI: dos 12 encontros marcados, sete foram cancelados por falta de quórum.
Na tentativa de mudar o cenário, o presidente da CPI, Ricardo Teixeira (PV), pediu ao presidente da Casa, Police Neto (PSD), a substituição de três vereadores, que abrirão mão das vagas. Assim, Eliseu Gabriel (PSB), Floriano Pesaro (PSDB) e Chico Macena (PT) substituirão Aníbal de Freitas (PSDB), Souza Santos (PSD) e Jamil Murad (PCdoB). Continuam Edir Sales (PSDB), Toninho Paiva (PR) e Ushitaro Kamia (PSD). As investigações terminam em 31 de dezembro, com o fim da atual legislatura.
A reunião inicialmente marcada hoje ficou para a próxima quarta-feira (12). Na sexta-feira da mesma semana (14), deverá ocorrer a última reunião da Comissão, com apresentação e votação do relatório final. A CPI tem o papel de investigar as possíveis causas dos cerca de 600 incêndios registrados na cidade desde 2008.

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