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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, dezembro 07, 2012

Pepe Escobar: “Irã - nada como acordar com um “drone” no bolso”

 

Pepe Escobar, Asia Times Online – The Roving Eye
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Talvez não seja Predator mortífero equipado com um míssil Hellfire dos que incineram casamentos de pashtuns no Af-Pak, mas nesse nosso Bravo Valente Novo Mundo dos Veículos Aéreos Não Pilotados – conhecido também como a “Guerra dos Drones de Obama” –  qualquer ScanEagle muito mais lento, fabricado por subsidiária da Boeing, já nasce com direitos adquiridos de roubar a cena.
Lá está hoje, a estrela do show, numa TV iraniana, depois de capturado sobre o Golfo Persa. Vídeo a seguir:

Os cabeças-de-bagre especialistas em geopolítica, já fartos da mesma conversa fiada regurgitada incansavelmente por generais norte-americanos pelos canais Fox e CNN, certamente se deleitarão com a faixa ultrarretrô “Esmagaremos os EUA sob nossos pés”, para nem falar da peculiar produção de valores pelo Corpo de Guardas Revolucionários Islâmicos [orig. Islamic Revolutionary Guard Corps (IRGC) no front de Relações Públicas.
O subalmirante Ali Fadavi, comandante da Marinha do IRGC, disse que o ScanEagle foi “caçado” e “obrigado” a “pousar eletronicamente”, depois que invadiu espaço aéreo do Irã. Bem... Talvez tenha sido um pouco mais complicado. A melhor explicação ainda é a do sempre delicioso blog Moon of Alabama: os Guardas Revolucionários, provavelmente, desabilitaram eletronicamente a conexão de satélite do drone e, em seguida, assumiram a linha de controle por rádio da linha de visão.
Ali Fadavi
Além de garantir piadas sem fim, do tipo “os gatos persas derrubam o besouro [orig. drone] dos EUA” – serviço completo, com fotos de gatos gordos brincando com o modelo made-in-Iran do RQ-170s (o drone que o Irã capturou ano passado) – a coisa é quase tão boa quanto a mais recente reportagem (em 2011) de Bob Woodward, que flagrou um dos homens de Rupert Murdoch que operam o canal Fox News tentando vender (literalmente) ao general Petraeus a ideia de tornar-se candidato à presidência, como representante pessoal de Murdoch, nas eleições para a Casa Branca. General bagre-ensaboado-à-moda-canal-Fox [orig. Foxy General, intraduzível], sabe-se lá?
O general canal Fox-Petraeus, por falar dele – mesmo antes de a coisa ter virado “corporal” com a fã & gostosinha Paula Broadwell – jamais se deixaria apanhar em situação tão degradante. Seus drones da CIA no Af-Pak sempre foram e continuam a ser máquinas de matar confiáveis, não essas porcarias de hoje, que só recolhem informação de inteligência falhada, que não prestam para nada.
Esse novo capítulo do seriado Guerra dos Drones, oferece, pelo menos, uma trégua cômica, à Monty Python, na desgraça cotidiana, ininterrupta – com a Turquia obtendo a aprovação da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) para instalar mísseis Patriot interceptores para “defender-se” contra algum doido sírio que se atreva a atravessar a fronteira.
Os burocratas da OTAN em Bruxelas já começaram a espalhar aos quatro ventos a negativa oficial, na linha do “Oh, não, não! Não queremos uma zona aérea de exclusão sobre a Síria! É que a gente aqui adooooora mísseis gordos, grandes e maus”.
Os EUA – sempre, sempre, como sempre – negam tudo que tenha a ver com o drone ScanEagle que não voltou para casa. Um porta-voz do Comando Central da Marinha dos EUA, no Bahrain, esse país-símbolo, exemplar, de democracia, disse que “A Marinha dos EUA mantém pleno controle sobre todos os veículos aéreos não tripulados [orig. unmanned air vehicles (UAV)] em operação na região do Oriente Médio”.
Drone ScanEagle na catapulta móvel de lançamento
Vai-se ver, é problema de terminologia: o Irã fica no Sudoeste Asiático – assim sendo, drones que andem “pivoteando” em área de “pivoteamento não entram na conta. Mas, calma; a coisa ainda melhora! O porta-voz disse também que “não temos registro de qualquer ScanEagle extraviado recentemente”. Quer dizer: só se a Marinha perdeu, além de um drone... também todos os registros.
O que se vê, são esforços frenéticos da Marinha para pôr a culpa... nos drones dos outros! Vai-se ver, esse ScanEagle teria decolado de outro paraíso da democracia mantido pelo Conselho de Cooperação do Golfo, os Emirados Árabes Unidos. Austrália, Canadá, Países Baixos e até a Colômbia têm drones. A Grã-Bretanha e a França também fabricam drones, e a Rússia, logo, logo, também chega lá. Ou, quem sabe, um espião “Ai-raniano” do Mal roubou o tal drone em Dubai, quando andou por lá em expedição de compras.
Podem esperar: vai começar um boom de vendas de drones ScanEagle em miniatura, de plástico, para trazer um refresco ao deprimido e mortalmente super sancionado mercado iraniano – exatamente como aconteceu ano passado, com o RQ-170.
Os gatos persas que vivem de Qom ao Mar Cáspio, depois de derrubá-los todos, com certeza farão um baile.
*GilsonSampaio

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