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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista
domingo, novembro 02, 2014
Eu já diria as bactérias resistem ao remédio ou por outra mêdo de injeçao infantil
Ao ler as notícias sobre a manifestação em São Paulo que reivindicou o "impeachment" da presidenta Dilma - reeleita democraticamente - e uma "intervenção militar", lembrei-me dessa charge (embora eu ache que os neandertais são mais civilizados do que essa gente ressentida e odiosa que quer solapar a democracia e o estado de direito).
Comenta-se que a manifestação teria sido convocada por Lobão e por um dos três filhos do deputado viúvo da ditadura militar e especialista em difamar adversários com dinheiro público (aliás, esse deputado fez, dos três filhos, parlamentares para que pudesse parasitar o erário público com mais eficiência e para que, juntos, formassem uma quadrilha de difamadores com poder legislativo).
Essa manifestação em São Paulo e as ações do PSDB após a derrota de Aécio Neves nas eleições querem ser um ramake do golpe de 1964 (o que tem a dizer o ex-guerrilheiro comunista Aloysio Nunes, hoje senador pelo PSDB, acerca dessa manifestação que pede a volta do regime que ele enfrentou ao lado de Carlos Marighella? E o que tem a dizer o sociólogo socialista FHC? Ou será que Nunes e FHC perderam a memória?).
Pelo que se lê nos cartazes dos manifestantes, é possível concluir que os combustíveis da ação são, além daquele recalque típico dos que não sabem perder, a xenofobia, o preconceito de classe e o ódio racial.
Percebe-se também o uso da mentira e da deturpação que objetivam a aniquilação dos vencedores, bem como a manipulação do medo dos ignorantes e dos doutrinados por uma parcela da imprensa cuja cobertura dos fatos da política não se pautou pela ética, pela honestidade intelectual nem pela desconstrução de preconceitos em relação à política e ao próprio jogo democrático.
Quando Lobão ainda não sonhava em ser o mascote da marcha da família com Deus e pela ditadura militar; quando ele se via dividido entre as páginas de cultura (devido à música que compunha) e as páginas de polícia (devido ao uso de drogas ilícitas) dos jornais, ele compôs versos que descrevem bem essa manifestação em São Paulo: "A cidade enlouquece em sonhos tortos/
Na verdade nada é o que parece ser/
As pessoas enlouquecem calmamente/
Viciosamente, sem prazer"
*
Jean Willys
*GoretiBussollo
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