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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, maio 06, 2015

Professores paulistas denunciam à ONU 'abandono' da educação em São Paulo

Iniciativa da subsede Taboão da Serra objetiva levar ao conhecimento da população e da opinião pública internacional o 'quadro caótico das escolas estaduais paulistas'
por Rodrigo Gomes, da RBA 
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TABA BENEDICTO/FOLHAPRESS
profs
Assembleias têm reunido até 40 mil professores, mas o governador Alckmin nega que exista greve no ensino
São Paulo – Professores da rede pública paulista entregaram hoje (4) uma carta à representação da ONU em São Paulo denunciando a situação de escolas, alunos e professores no estado de São Paulo. Segundo o conselheiro da subsede Taboão da Serra da Apeoesp (sindicato da categoria) Antônio de Jesus Rocha, o objetivo é “chamar a atenção da entidade e da sociedade para as péssimas condições e o descaso do governo de Geraldo Alckmin (PSDB) para com a situação da educação pública paulista”.
O documento elenca uma série de problemas, desde relacionados à greve em curso, iniciada em 13 de março, até a falta de material básico nas unidades de ensino. Segundo a Apeoesp, desde dezembro de 2014, o governo Alckmin deixou de de enviar verbas às escolas para compra de materiais de escritório, limpeza e para pequenas obras, como lavagem de caixas d’água, conserto de telhados, pintura e limpeza. Em algumas escolas os alunos têm de conviver com goteiras, falta de espaço para atividades físicas, animais como pombos e ratos”, relata Rocha.
A subsede Taboão da Serra abrange as cidades de Itapecerica da Serra, Embu das Artes, Juquitiba, Embu Guaçu e São Lourenço, além da própria Taboão da Serra. O documento não foi votado em assembleia geral de professores, sendo específico daquela regional.
Os professores denunciam ainda que o governo Alckmin deixou de investir R$ 7 bilhões em educação no ano passado e se recusa a negociar com os professores em greve, tanto sobre questões salariais como de condições de trabalho. “Relatamos aqui um completo caso de abandono das escolas públicas, onde se perpetua a desigualdade de acesso instituída pelo estado de São Paulo”, diz o documento.
A Apeoesp cita ainda a situação dos professores temporários – a categoria O – em que os docentes não têm direitos trabalhistas garantidos, nem 13º salário ou férias. Também não têm atendimento do Hospital do Servidor Público Estadual e têm de ficar 40 dias sem trabalhar ao final do primeiro ano de contrato e 200 dias no segundo ano.
“As políticas públicas adotadas não vão ao encontro dos princípios estabelecidos na Declaração Mundial Sobre Educação Para Todos, na Lei de Diretrizes e Bases, na Constituição Federal, no Plano Nacional de Educação e no Estatuto da Criança e do Adolescente”, afirmam os professores.
“Para completar o quadro caótico das escolas estaduais paulistas, o governo fechou mais de 3 mil salas de aula, no início de 2015, impossibilitando qualquer forma de trabalho docente e qualquer princípio de equidade e qualidade de ensino, mostrando o completo descaso para com os alunos e professores de escolas públicas”, concluem os professores.
Segundo a representante do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) em São Paulo, Andrea Bosi, o documento será encaminhado para o escritório da ONU em Brasília e de lá para o Alto Comissariado em Direitos Humanos, para verificar as medidas cabíveis sobre os pedidos dos professores.
Na quinta-feira (7) os professores terão audiência de conciliação com o governo paulista, no Tribunal de Justiça de São Paulo. Há 51 dias em greve, os professores tiveram três reuniões com o secretário estadual da Educação, Herman Jacobus Cornelis Voorwald, mas não foi implementada uma mesa de negociação sobre as reivindicações.
A única proposta respondida foi quanto ao pedido de reajuste salarial dos professores – que pedem 75,33% de aumento, para equiparar o salário deles às demais categorias com ensino superior no estado – que o governo negou, sem apresentar outro valor em contraproposta.
A próxima assembleia de professores será na sexta-feira (8), às 14h, no vão livre do Masp, na avenida Paulista.
*RBA

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