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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

segunda-feira, junho 01, 2015

A velhacaria que envolve o mundo do esporte tem incentivos cínicos de empresas e isso deve ser dito

Juca Kfouri: A velhacaria que envolve o mundo do esporte tem incentivos cínicos de empresas

Via Viomundo

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Promiscuidade
A velhacaria que envolve o mundo do esporte tem incentivos cínicos de empresas e isso deve ser dito
A FIFA cometeu dois erros fatais ao negar as duas próximas Copas do Mundo ao ainda poderoso império americano e ao velho império inglês. Note que, desde então, jamais teve paz.
Primeiro caíram os velhos cardeais corruptos e agora os que os substituíram.
Não sejamos seletivos na indignação, porém.
Havelange, Teixeira, Hawilla, Leoz, Marin, o que menos importa é o nome do bicho.
Importa denunciar o mundo à parte que inventaram, no qual se vive nababescamente e depois corre-se o risco da desmoralização, da prisão e da humilhação. Vale a pena? Cada um sabe de si.
Lava-se dinheiro e joga-se bruto no esporte desde que o esporte virou o negócio que virou.
Certa de sua impunidade, a cartolagem da Fifa jamais deu bola aos que a investigavam.
Preferiu sempre negar-lhes credenciamentos, processá-los ou ignorá-los.
A polícia do mundo é a polícia do mundo e as três letrinhas do FBI golearam as quatro da Fifa. Porque, como sempre, alguém precisa botar um mínimo de ordem nesta zorra.
Zorra que gera a promiscuidade incapaz de separar jornalismo de propaganda ou de entretenimento.
Promiscuidade que atinge até o Poder Judiciário, que vira e mexe dá razão a tais figuras.
Ou permite que comunicadores e executivos frequentem os mesmos convescotes que tais cartolas e os protejam e homenageiem.
Dia desses mesmo, na festa da FPF, o número 1 da Globo Esporte, Marcelo Campos Pinto, se desmanchou em elogios ao “eterno presidente Marin” –e o homem já não tem mais nem o nome no edifício que mandou construir a toque de caixa, por R$ 70 milhões!
“2015 vai entrar para a história do futebol brasileiro como um grande ano, o ano em que José Maria Marin passou o bastão ao presidente Marco Polo Del Nero”, disse Campos Pinto. De fato!
Não satisfeito, acrescentou, emocionado, a Marin: “O senhor escreveu o seu nome na história do futebol brasileiro, tendo sucedido um outro grande presidente, que foi o Ricardo Teixeira”.
Nero foi saudado como “excelentíssimo senhor com o qual tenho o privilégio de conviver assiduamente há mais de 11 anos”.
Esta promiscuidade também precisa acabar porque não há autocrítica que dê conta quando o interesse do negócio suplanta a ética e os bons costumes.
O que vale para a GM, Visa, Ambev, Itaú etc.
Uma coisa é a polidez numa cerimônia pública, outra é a cumplicidade subserviente porque, enfim, tudo resulta no mesmo, em comissões, bônus ou corrupção.
Finalmente é preciso salientar que mais que novas CPIs da CBF, será fundamental aprovar a Medida Provisória do Futebol, esta sim com novos métodos de governança que podem mudar os hábitos que vigoram há décadas em nosso futebol.
Para que não sigamos ouvindo de um Hawilla o que eu já ouvi, há anos, de um Odebrecht: “Preferiria que fosse diferente. Mas o jogo é o jogo, não posso mudar o mundo”.
Todos podemos.

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