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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, março 18, 2011

Amoral Nato:/Tudo em Cima



Nada melhor para um ator que discursar no teatro! 
Só falta saber que papel (ou papelão) ele vai  interpretar.
Se bem que pela qualidade das ultimas atuações, 
ele merecia mesmo é um picadeiro, 
podia pedir umas dicas ao Tiririca!


Leandro Fortes: como jornalistas brasileiros servem à Casa Branca

Entre todas as bizarrices expostas pelo WikiLeaks, a mais interessante é a revelação, sem cerimônias, de que a Embaixada dos Estados Unidos mantinha (mantém?) uma verdadeira sucursal informal no Brasil, na qual se revezavam jornalistas (de uma só tendência, é verdade), a elaborar análises políticas – todas furadas, diga-se de passagem.

- por Leandro Fortes,

Na redação da embaixada brilharam, primeiro, os colunistas Diogo Mainardi, da Veja, e Merval Pereira, de O Globo. Segundo despacho de Arturo Valenzuela, secretário adjunto de Estado para Assuntos do Hemisfério Ocidental, em 2009, o “renomado colunista político” Mainardi, em almoço privado (?), disse que uma coluna propondo que a ex-candidata presidencial do Partido Verde (PV) e ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva se tornasse candidata a vice do tucano José Serra havia nascido “de uma longa conversa” entre os dois, Serra e Mainardi, na qual o ex-governador de São Paulo afirmara que Marina seria sua “companheira de chapa dos sonhos”. De acordo com Valenzuela, Serra alinhou naquela conversa com Mainardi as mesmas vantagens que o colunista, mais tarde, iria listar em sua coluna: a história de vida e as “credenciais esquerdistas impecáveis” de Marina poderiam bater o apelo pessoal de Lula aos brasileiros pobres e colocar Dilma Rousseff em desvantagem com a esquerda. Ao mesmo tempo, a vice verde ajudaria Serra a “mitigar” sua associação com o governo de Fernando Henrique Cardoso. Mainardi ainda preconizou que, mesmo sem sair como vice, Marina poderia apoiar Serra num segundo turno contra Dilma. Também apostou que Aécio Neves iria se juntar à chapa de Serra. Um profeta, como se vê.

A mesma lengalenga Arturo Valenzuela ouviu do colunista Merval Pereira, que rememorou uma conversa tida entre ele, Merval, e Aécio Neves, um dia antes do jornalista se reportar à Embaixada dos EUA, em 21 de janeiro de 2010. Ou seja, informação quentíssima! A Merval, informou Valenzuela à Casa Branca, Aécio Neves teria dito estar “firmemente compromissado” em ajudar Serra de qualquer maneira, inclusive se juntando à chapa. Uma chapa Serra-Neves, opinou Merval Pereira ao interlocutor americano, venceria fácil. “(Merval) Pereira pessoalmente acredita que não só Neves concorreria com Serra, mas que Marina também apoiaria Serra em um segundo turno”. Outro profeta.

Agora, sabemos pelo WikiLeaks que Humberto Saccomandi, editor de notícias internacionais do jornal Valor Econômico, acompanhado do analista político Rafael Cortez, da Tendências Consultoria, também foram convocados pela sucursal da Embaixada a analisar a candidatura de Dilma, mas estes acertaram: a subida de Dilma Rousseff nas pesquisas iria favorecê-la no congresso nacional do PT, no fim de fevereiro de 2010, onde se esperava que ela anunciasse sua candidatura oficialmente.

Classificados de “críticos mais duros de Rousseff”, os jornalistas William Waack, da TV Globo, e Hélio Gurovitz, da revista Época, também foram à Embaixada dos Estados Unidos dar pitaco, mas em clima de torcida organizada pró-Serra. Waack descreveu para o Consulado Geral, em São Paulo, sua ida a um fórum de negócios do qual José Serra, Dilma Rousseff, Aécio Neves e Ciro Gomes tinham participado. A análise, não fosse surreal, é pouco mais do que rasa. “De acordo com Waack, Gomes foi o mais forte no geral, Neves o mais carismático, Serra desligado, mas claramente competente (grifo meu), e Rousseff, a menos coerente”, escreveu, à Casa Branca, o embaixador Thomas Shannon, editor-chefe da sucursal. Crítica duríssima, essa de Waack.

Helio Gurovitz, diretor da Época, foi mais adiante ao se reportar à Embaixada do EUA. Descreveu o Brasil como similar ao Chile (onde a esquerdista Michelle Bachelet perdeu a eleição para o direitista Sebastián Piñera). Argumentou que a “base social do país” se desenvolveu de maneira que esta “base” – seja lá o que for isso, o povo é que não era – preferiria alternar partidos no poder para manter continuidade (sic), em vez de manter um partido no poder no longo prazo, “com isso provocando uma guinada na direção daquele partido no espectro político”. O embaixador, creio, não entendeu nada. Mas registrou, por via das dúvidas.

Com analistas assim, não é a toa que o governo Obama se encontra na situação que está.

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