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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quinta-feira, maio 03, 2012

Irmãos Sardemberg, meninos de recado dos bancos

 


Com a acalorada discussão que agora se trava sobre a guerra declarada pela presidente da República aos juros praticados pelos grandes bancos do País, muito do que era disfarce e jogo de espelho começa a revelar-se como o que de fato é, indisfarçável disputa pela apropriação de parcela expressiva da renda nacional pelo setor financeiro.

Tivemos a oportunidade de anunciar ainda em agosto de 2011 que o governo preparava-se para fazer da redução dos juros a espinha dorsal de sua política de incentivo aos investimentos, ao consumo e às exportações. Vale dizer, de uma efetiva política de longo prazo de renda e emprego benéfica ao País. Acertamos.

Nesse tempo, que não vai longe, a rede Globo de Televisão patrocinava em seus telejornais uma espécie da  “liga da injustiça”. Integravam-na Alberto Sardemberg, Miriam Leitão e um grupo imberbes rapazolas representantes dos departamentos econômicos do quarteto dos maiores bancos brasileiros.

A finalidade era a de inverter a legitimidade do comando da economia, fazendo-a deslocar-se do governo democraticamente eleito 4 anos antes – o de Lula da Silva –  para o sistema financeiro e a sua rede de intermediários e beneficiários mais diretos, os setores rentistas.

Aproveitavam a natural fragilidade do governo que se encerrava para fazerem dos interesses da banca o farol para as decisões econômicas do governo. Nada mais relevante então, segundo eles, para as definições do que seria melhor para o País que as projeções do chamado boletim Focus.

Elaborado pelo Banco Central, esse boletim é um apanhado de projeções elaboradas pelos economistas dos bancos privados, que antecipam à sociedade (melhor seria dizer, advertem-na) sobre quais os níveis desejáveis para a taxa de juros, os gastos governamentais e o câmbio a que as autoridades deveriam dar ensejo no período subsequente ao da sua divulgação.

Com o enfoque de cartilha que se dava (e ainda se dá) ao estudo, pretendia-se fazer passar as expectativas sobre o curso de maior conveniência a um determinado setor da economia, o bancário, como expressão do que seria o interesse geral da sociedade e reflexo de um auto-referido "pensamento do mercado".  Mercado que sem indústrias, sem comércio, sem agricultura e sem trabalhadores tem nos bancos o fim e o começo.

As sucessivas remarcações para baixo dos juros pelo banco central sem consideração à banca, e mais recentemente a redução das taxas praticadas pelos bancos oficiais, frustraram a tentativa de setor financeiro de pautar à sua conveniência a política econômica de governo e deram início a um programa que poderá contituir-se na maior conquista da cidadania depois do controle da inflação e da redução da pobreza: a queda estrutural do juros.

Ao mesmo tempo em que o governo recusava as apostas do mercado como parâmetro exclusivo para a tomada de decisões, sumiam dos telejornais da rede Globo os porta-vozes dos grandes bancos , Sardemberg e Leitão. Mais pelos prejuízos que trouxeram à imagem da emissora por vaticínios nunca consumados  sobre a ruína iminente do País caso a pauta fixada pelo setor financeiro não viesse ser implementada, e menos por qualquer conversão da empresa ao que constituiria os reais interesses da nação em matéria de política econômica.

Não por coincidência, o irmão de Alberto Sardemberg, que ainda impera como propagandista dos bancos na rádio CBN e no telejornal das Organizações comandado pelo suposto espia americano denunciado pelo Wikileaks ano passado, Wiliam Waack, aparece à luz do dia falando em nome da Federação Brasileira dos Bancos - Febraban.
Rubens Sardenberg que fez carreira nos departamentos de economia dos grande bancos, durante o tempo em que primogênito da família pontificava nos noticiosos da Globo, possui agora voz própria como presidente da entidade que representa os grandes bancos e pode prescindir algo da colaboração fraterna.
Nada diz, é verdade, sobre a margem de lucro de 30% que os grandes bancos usufruem pelos serviços de intermedição financeira no Brasil contra os 5% praticados pelos congêneres no resto do mundo. Mas é bastante eloquente quando fala da necessidade de sacrificar a remuneração da poupança para que não se torne atratativa o bastante aos depositantes na concorrência que faz às captações financeiras dos bancos.

O irmão mais velho, ainda armado dos microfones da Globo, naturalmente o endossa.
*Brasilquevai

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