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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, maio 08, 2012

Pela primeira vez numa eleição nacional, a esquerda ganha em Paris

Em azul, o oeste de Paris votou Sarkozy. O voto Hollande, em rosa, à leste.

No Hupomnemata
*comtextolivre 

Hollande: “A austeridade não pode ser uma condenação”


A esquerda europeia renasceu neste seis de maio, na França. Françoise Hollande, de 57 anos, será o próximo presidente da República, confirmando os prognósticos com os 51,67% dos votos. O anunciado triunfo de Hollande abre uma nova etapa tanto na França quanto na Europa, e põe fim ao agitado reinado de Nicolas Sarkozy, que durante cinco anos presidiu o país com seu estilo peculiar.
Apenas vinte minutos após o fim da votação, o líder da direita compareceu perante centenas de seguidores, assumiu com elegância a “responsabilidade da derrota” e anunciou que agora será “um francês entre os demais franceses”.
Hollande também tratou de se pronunciar. 
“A troca começa agora. A austeridade não pode ser uma condenação”, proclamou. O socialista já havia anunciado sua intenção de renegociar com a Alemanha o rígido tratado de austeridade. Com sua calma característica, o líder socialista discursou sobre a vitória às 21h20 (horário local) na praça da catedral de Tulle, onde passou a tarde recebendo beijos e abraços dos moradores.
Seu primeiro feito foi enviar uma “saudação republicana” a Sarkozy. Logo disse que “a mudança tem que estar à altura da França” e prometeu exemplaridade institucional e, com um toque de lirismo, convidou os franceses a sobrevoar as estrelas e sentir o gosto do progresso.
Hollande reiterou que suas prioridades serão igualdade, juventude, justiça social e educação. Seu assessor especial, Jean-Marc Ayrault, possível futuro primeiro-ministro, disse que a ordem agora será recuperar a Europa, reorientando-a em relação ao crescimento, competitividade e proteção. Pierre Moscovici, diretor da campanha de Hollande, assegurou que a chanceler alemã Angela Merkel telefonou ao ganhador para o convidar para uma visita a Berlim nos próximos dias.


Jornal do Brasil * Com informações do jornal El País

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