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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quinta-feira, maio 17, 2012

Por que Serra tem que responder por Hussein Aref

Autor:  Luis Nassif
É simples entender porque era impossível que o trabalho de Hussein Aref - o responsável pela aprovação das grandes plantas pela Prefeitura de São Paulo - passasse despercebido do prefeito José Serra, que o nomeou ou de Gilberto Kassab, que o manteve.
Trata-se de cargo estratégico e de ampla visibilidade, já que envolve enormes interesses financeiros.
Por volta de 2009, ouvi do advogado de um grande escritório de advocacia - com uma boa área dedicada ao direito imobiliário - que, no período Serra, a aprovação de plantas parecia ter retornado aos áureos tempos de Paulo Maluf. Havia um descontrole completo.
Se fosse ação individual de Aref, o descontrole teria sido facilmente detectado. Como ele atropelava normas públicas, era facílimo identificar os abusos e denunciá-lo, inclusive para o Prefeito.
Isso não ocorreu porque os desvios eram institucionalizados. É por aí que os grandes arrecadadores de caixinha enriquecem. Podem cometer todos os abusos, pois se trata de prática aceita internamente por seus superiores.
Como tais práticas não podem ser registradas, abre-se uma margem de manobra para que cada qual trate de roubar também para si.
Quando o departamento atua conforme as normas, há uma barreira natural à ação dos predadores. Não se pode fugir das normas. Quando o chefe maior permite os abusos - para fins eleitorais - cessam todos os controles. Um subordinado não terá como saber se aquela jogada perpetrada pelo Aref tem a aprovação dos chefes maiores, ou é uma operação individual.
Por tudo isso, dada a extensão do golpe, seria impossível que não houvesse uma ação principal - a de arrecadação de recursos ilícitos - da qual o operador tirou sua casquinha.
Aref foi apanhado da maneira mais complexa possível. Não foi pelos abusos internos cometidos - facilmente identificáveis pela mera análise dos processos aprovados. Mas pelos sinais exteriores de riqueza.
*esquerdopata

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