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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

domingo, agosto 19, 2012


EUA precisam parar de perseguir aqueles que expõem crimes secretos, diz Assange

Jornalista classificou decisão do presidente Rafael Correa como "corajosa"
O fundador do Wikileaks, Julian Assange, pediu neste domingo (19/08) aos Estados Unidos que parem de perseguir jornalistas por “lançar luz sobre os crimes secretos dos poderosos”. “A guerra do governo dos Estados Unidos contra denunciantes precisa chegar a um fim”, afirmou o jornalista em discurso na sacada da embaixada do Equador em Londres, onde está refugiado há dois meses.
Assange pediu a libertação de Bradley Manning, militar norte-americano preso desde 2010 por repassar informações confidenciais ao Wikileaks. Manning foi o responsável por vazar mais de 250 mil documentos de 271 embaixadas em 180 países. “Na quarta-feira, Bradley passou seu 815o. dia preso sem julgamento. O máximo é 120 dias”, disse. "Se ele fez isso é um herói e precisa ser libertado".
RobertoAlmeida/OperaMundi
Essa foi a primeira aparição pública de Assange desde março, quando ainda batalhava na Justiça para não ser extraditado para a Suécia sob acusação informal de estupro. O fundador do Wikileaks buscou abrigo na embaixada equatoriana dia 19 de junho. Hoje detém status de asilado político, concedido pelo presidente do Equador, Rafael Correa, na última quinta-feira (16).
“Estou aqui hoje porque não posso estar aí com vocês”, disse Assange, saudado por um público de ativistas e curiosos de pelo menos 200 pessoas. Outros 200 policiais faziam o cerco à embaixada enquanto o jornalista discursava. “As ameaças ao Wikileaks são ameaças à liberdade de expressão”, afirmou.
Assange lembrou da enorme tensão da madrugada de quarta para quinta-feira, acompanhada pelo Opera Mundi. Assim que o chanceler equatoriano informou sobre a ameaça britânica de invadir a embaixada para capturá-lo, com base em uma lei britânica de 1987, dezenas de policiais entraram no edifício onde está a representação diplomática. Ativistas correram para o local com câmeras ligadas à internet para testemunhar o caso.
“Na quarta-feira à noite”, lembrou Assange, “depois que uma ameaça foi enviada a esta embaixada e a polícia apareceu neste prédio, vocês vieram no meio da noite para testemunhar e vocês trouxeram os olhos do mundo. Dentro da embaixada, depois que a noite caiu, eu ouvi tropas policiais entrando pela escada de incêndio. Mas eu sabia que haveria testemunhas, e isso só foi possível por causa de vocês.”
O fundador do Wikileaks fez diversos agradecimentos. Ele sublinhou a “corajosa” atitude do governo equatoriano, que lhe concedeu asilo político, e à família e filhos, com quem espera estar junto “em breve”. Enumerou, ainda, os países latinoamericanos que rechaçaram a interpretação britânica da lei internacional - entre eles está o Brasil.
Defesa em andamento
O defensor de Julian Assange e do Wikileaks, Baltasar Garzón, disse hoje, em frente à embaixada, que irá à Corte Internacional de Justiça caso o Reino Unido não conceda salvo-conduto para que o jornalista deixe a representação equatoriana rumo à América do Sul. “Claro que não vou contar minha estratégia, mas primeiramente é preciso pensar no salvo conduto e lutar pelos direitos fundamentais de Julian”, disse.
O espanhol Garzón, com ampla experiência em casos de direitos humanos, foi o responsável por emitir ordem de prisão contra o general Augusto Pinochet em 2001, entre outras atuações impactantes que o deram o título de “super juiz”. Ele assumiu o caso Assange em junho, assim que o jornalista se abrigou na embaixada equatoriana em Londres.
De acordo com Garzón, as autoridades britânicas ainda não responderam oficialmente sobre o pedido de salvo-conduto, mas o ministro de Relações Exteriores do Reino Unido, William Hague, já deixou claro que não aceita o asilo político e que não ofertará passagem ao jornalista para que deixe Londres.
O magistrado disse que Assange está sempre em contato com as autoridades suecas para responder sobre o suposto caso de estupro, mas que não ouviu garantias sobre seus direitos fundamentais de defesa e sobre uma eventual extradição para os Estados Unidos.
Apoios
Assange ganhou no início da tarde deste domingo o apoio público do ex-embaixador do Reino Unido, Craig Murray, e do escritor paquistanês Tariq Ali, que discursaram em frente à embaixada do Equador em Londres. Ambos acusaram o governo britânico de subverter a agenda internacional de direitos humanos para prender o jornalista.
Murray disse que “nenhum país concorda com a interpretação britânica da lei” que não reconhece o asilo político dado ao fundador do Wikileaks. Ali teceu elogios à diplomacia de países da América do Sul, como Bolívia, Peru, Equador, Venezuela e Brasil, que reconheceram o direito de Assange de receber o status de asilado. “Hoje esses países consideram mais o social do que Reino Unido e Estados Unidos”, afirmou.
*ÓperaMundi

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