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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quinta-feira, outubro 25, 2012

“Falar de kurrupção sem dizer que o capitalismo é essencialmente corruptor e corrompe tudo e todos, é fazer pregação moralista”



Texto do coletivo Vila Vudu
Dois assuntos que não nos interessam nem mobilizam: a tal de kurrupção e os correspondentes discursos antikurrupção. A tal de kurrupção é doença do capitalismo, mais aguda no capitalismo senil, igual em todo o mundo desde sempre.
O capital manda no mundo e criou imprensa e universidade liberais, EXATAMENTE porque o capital corrompe tudo e todos e sempre, a começar pela imprensa e pela universidade liberais.
Falar de kurrupção sem dizer que o capitalismo é essencialmente corruptor e corrompe tudo e todos, é fazer pregação moralista, metida a ‘ética’ que, no máximo, trocará os nomes dos kurruptos eleitos pela televisão e a imprensa do capital, e todos continuarão – kurruptos e kurruptores em tempo integral – como são, sempre foram e continuarão sendo eternamente no mundo. Festejando o capital.
E é pregação moralista fascistóide, que rapidamente vira degola, pelo que tem de violenta e arbitrária, além de  ’legal’, sempre com alguma teoria de autojustificação, que salva o arbítrio e o autoritarismo e os tornam, não só arbitrários, autoritários e ‘legais’, como também lógicos e “em tese”. Sic transit a ‘justiça’ do capital.
Se a teoria que justifica o arbítrio e o autoritarismo for norte-americana, neste Brasil das ideias fora de lugar, ok: é só mais uma macaqueação ridícula. Mas se a tal teoria surgir na Alemanha nazista, cruzes! Aí é preciso espernear MUITO! A exemplo da “Teoria do Domínio do Fato”, que pintou na cabeça dum teórico do Direito, Hans Welzel, em 1939, na Alemanha.
Não importa quem seja o jurista. Nada muda. Aliás, não sabemos nada de leis e direito, mas sabemos um pouco sobre 1939 e a Alemanha. Em 1939, reinava na Alemanha como juiz e degolador incontestável Herr Goebbels, que várias vezes se serviu da “Teoria do Domínio do Fato” para seus propósitos. Porque, se há um fato que todos dominam perfeitamente é que, num mundo onde reina Goebbels, só se difundem e prosperam teorias do direito que Goebbels aprecia e sirvam adequadamente para aplicar o direito à sua moda.
Pois, em 2012, em Brasília, ainda há juízes que sequer se envergonham de evocar essa teoria do direito à moda Goebbels para punir kurruptos. Não se exigem muitos argumentos: tudo depende de se dominarem os factoides.
Ainda que os condenados por essa teoria do direito à moda Goebbels fossem kurruptos TOTAIS, como os kurruptos da Privataria Tucana, ainda assim, seria preciso respeitar MUITO o direito democrático e a democratização, ao invés de punir kurruptos com base em teorias do direito e leis que prosperaram sob o nazismo.
Por isso tudo, não nos interessa nem nos mobiliza nenhuma discussão sobre kurruptos e kurrupção que não diga, no primeiro parágrafo, que o capital é o agente corruptor básico. Sempre. Em todos os casos. Por mais que se dominem fatos, os data vênia e quejandos, etc. etc. etc. e tal.
A kurrupção não vive sem o besteirol metido a ‘ético’. E o besteirol metido a ‘ético’ não sobrevive sem a kurrupção e AMBOS são o ar que o capital e o capitalismo respiram, sem o qual não sobrevivem. A propósito, o ministro José Dirceu e o deputado José Genoíno que, em 1964 foram condenados por ‘juristas’ e leis da ditadura militar, são condenados, em 2012, por juristas e leis supostamente democráticas, mas que ainda são, infelizmente, juristas e leis autoritárias.
Nada corrompe mais o Brasil, em 2012, do que esse tribunal e seus juízes.
Vergonha. Vergonha. Vergonha.
Outra coisa que eles esqueceram de dizer mas eu completo: a justiça no Brasil é um bastião da Direita. Que está a serviço dos ricos e poderosos e não abre.
E todos de frente para o mar.
*Mariadapenhaneles

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