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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista
quarta-feira, maio 12, 2010
Cresce exigência para Serra explicar seus ataques ao BC
Cresce exigência para Serra explicar seus ataques ao BC
Para além de sua arrogância e agressividade para com Miriam Leitão, as declarações de Serra, após aquelas de Sérgio Guerra anunciando mudanças rápidas na política econômica, “nos juros, no câmbio e nas metas de inflação”, estão provocando questionamentos nos jornais. Todos exigem compromissos claros do candidato tucano e alguns chegam a sugerir uma carta de compromissos com engajamentos precisos.
Vale relembrar que o país foi um dos menos afetados pela crise internacional, que suas finanças estão sólidas, que seu crescimento só gera dúvidas sobre se será de 6 ou de mais de 7% do PIB. A inflação esta sob controle e as pressões sobre os preços que levam o BC a agir – sem interferências – garantindo o poder de compra da população não inibem o círculo virtuoso em que se encontra nossa economia, saudado no país e no mundo (nada mais simbólico que a quase simultânea premiação, de Lula como “campeão da luta contra a fome” pela ONU e de Henrique Meirelles como personalidade do ano pela Câmara de comércio EUA-Brasil). A taxa de juros, certo elevadas, são as mais baixas desde que FHC as levou às alturas estratosféricas e as reservas são um colchão que afasta contagio indesejável, das crises que afetam os principiais centros do capitalismo. Mais claro, enquanto o fantasma da crise assola o mundo, o Brasil gera emprego, renda, ascensão social e oportunidades para empresários, agricultores, trabalhadores e jovens. e isto é o resultado da política do governo Lula e do Banco Central. Como disse bem Dilma, “em time que está ganhando não se mexe…”
A Folha SP, preocupada com o “escorregão” de Serra, dedica seu editorial ao assunto. No jornal O Globo analistas manifestam suas inquietações e o mesmo aparece no Estado de São Paulo, do qual reproduzo a seguir a coluna de Celso Ming.
Serra tenta evitar os questionamentos e seus conselheiros assediam as redações para fornecer explicações, mas elas mesmas são contraditórias, porque o PSDB está dividido em relação ao assunto e o próprio candidato oscila quando questionado, por isso sua irritação. E não adianta tentar se escapulir no trololó tucano do ajuste fiscal e corte de gastos, que resolverão a questão da inflação sem ficar atrelados ao instrumento da taxa Selic. Vão ter que indicar onde vão cortar e de quanto será o ajuste, para que alguém possa levar a sério o argumento. Por enquanto, o que resta, é a clara impressão de intervencionismo e autoritarismo que caracterizam o jeito Serra de governar. Claramente explicitado quando sugere que o BC não teria a mesma autonomia que teve para agir durante a crise e que preservou o Brasil da catástrofe que ele invoca para atacar a condução econômica do governo Lula e do BC.
Luis Favre
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ANALISTAErro nos juros
Celso Ming – O Estado de S.Paulo
O pré-candidato do PSDB à Presidência da República, José Serra, não é claro e fica especialmente desconfortável quando a pergunta dos jornalistas toma o rumo do que pensa sobre autonomia do Banco Central e sobre política monetária. Foi o que se viu na entrevista que deu segunda-feira à rádio CBN, em resposta a questões da colunista Míriam Leitão.
Todos sabemos que Serra tem sido crítico contumaz não só da política monetária, mas, também, da política cambial. E isso não é coisa recente. Vem dos tempos em que foi ministro do Planejamento do governo Fernando Henrique.
Afora isso, em janeiro, o presidente do PSDB, deputado Sérgio Guerra, avisou na revista Veja que, com Serra na Presidência, haveria mudanças no câmbio e nos juros. Até agora ninguém ficou sabendo o que seriam essas mudanças nem o que significariam. Parece, portanto, natural que o eleitor queira conhecer melhor o pensamento do pré-candidato José Serra em matéria de tamanha importância para a definição da política econômica do próximo governo.
Não basta ele dizer que “não vai virar a mesa” e que vai respeitar o atual tripé: responsabilidade fiscal, câmbio flutuante e sistema de metas de inflação. É preciso saber até mesmo o que é essa mesa a que se refere e o que, no seu entendimento, seria virá-la. Serra argumenta que tem todo o direito de criticar o Banco Central “quando comete erros calamitosos”.
Ninguém discorda, em princípio, de uma afirmação desse tipo. Não há como negar que, durante a administração Lula, o Banco Central cometeu erros. Foram especialmente erros de dosagem e de timing. Mas daí a dizer que foram erros capazes de produzir calamidades vai uma distância enorme. O simples diagnóstico de que tenham sido erros graves sugere que o pré-candidato esclareça o que pensa sobre política monetária, sistema de metas de inflação e os atuais modelos de avaliação do Banco Central.
Não basta que repita que “o Banco Central não é a Santa Sé”. É preciso saber, também, o que deve ser considerado erro calamitoso a ponto de merecer não apenas críticas, mas até mesmo uma intervenção na condução de sua política.
Em suas manifestações anteriores, o economista José Serra não escondeu seu ponto de vista de que a mãe de todos os males da economia brasileira esteja na condução equivocada da política fiscal. Quase sempre é o desequilíbrio das contas públicas que gera inflação. Sua natureza é, portanto, fiscal e, assim, requer tratamento também fiscal. No entanto, a falta de determinação deste governo na administração das contas públicas acaba deixando para o Banco Central a tarefa ingrata de atacar a inflação com o único instrumento de que dispõe, que é a política de juros. Essa parece ser, também, a razão pela qual o Brasil convive com o que se convencionou chamar de “os juros mais altos do mundo”.
Por isso, é de se esperar também que, uma vez à frente do governo federal, José Serra se empenhe para que a política fiscal não deixe encrencas a serem atacadas pela política monetária. Se for assim, os juros cairão mais ou menos naturalmente, sem que o Banco Central seja obrigado a forçar a mão.
E , se é verdade que Serra entende que a administração pública deve fluir assim, e não à força de intervenções, convém também saber o que pensa a respeito dos limites da autonomia do Banco Central.
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