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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista
quarta-feira, maio 19, 2010
Deu no New York Times
Deu no New York Times
quarta-feira, 19 maio, 2010 às 17:02
Nem todo leitor americano é Homer Simpson, e eles estão cuspindo fogo contra a política dos EUA em relação ao Irã
Muitas vezes, quando criticamos os Estados Unidos, as pessoas pensam que o povo americano compactua com tudo o que seu governo faz. Não é verdade. Nem nos EUA, nem em Israel. Existe uma boa parcela da população com capacidade crítica para entender os interesses e as atitudes do governo americano, que não são os de seu povo.
Nossa comentarista Miack nos mandou o link dos comentários que os leitores do The New York Times fizeram à matéria do jornal, amplamente reproduzida no mundo todo, sobre o acordo anunciado por Hillary Clinton de que EUA, China e Rússia teriam chegado a um acordo para impor novas sanções ao Irã, mesmo após o entendimento firmado entre Irã, Brasil e Turquia.
São seis páginas de comentários, a grande maioria contrária à atitude do governo americano. A maioria procede dos diferentes estados norte-americanos, mas há considerações de leitores de outros países, inclusive do Brasil.
Para dar uma idéia de como os americanos viram a questão, traduzo livremente alguns comentários, alguns até com sugestões de como a imprensa deveria agir para desmascarar certos blefes, como pareceu ser o da secretária de Estado de Obama.
“Por que somos tão obcecados em estabelecer sanções? Anunciar sanções logo depois do acordo Turquia-Brasil-Irã mostra ao mundo que nós não estamos interessados em nenhuma possibilidade de solução pacífica.” (Califórnia)
“Irã, Brasil e Turquia não podem ameaçar a paz mundial prevenindo a próxima “boa guerra”! De qualquer maneira, o que dizer da atual proliferação nuclear no Oriente Médio, em Israel?” (Nova Iorque)
Coisas estranhas estão acontecendo. Mas obrigado por nos esclarecer. Nós eramos ignorantes, eu acho, acreditando que eram os EUA jogando com o resto do mundo nas últimas décadas, EUA e a União Soviética que nos levaram às raias de um holocausto nuclear, os EUA que depuseram um chefe de Estado democraticamente eleito no Irã (Mossadegh) e o substituíram por outra marionete, e Israel tendo tanto as (não divulgadas) armas nucleares quanto a retórica contra armas nucleares em outro país soberano (Irã). Obrigado por nos colocar no caminho certo. Vocês deveriam ir para a Fox, com certeza eles lhes ofereceriam um emprego.” (Bélgica)
“Todo mundo está tentando livrar a cara agora que o acordo alcançado via Brasil e Turquia revelou a constante toada dos EUA e de Israel nessa questão. Sanções nunca funcionaram porque as pessoas erradas são sempre as prejudicadas. Se você quer falar sobre o Irã você deve estar disposto a permitir que a palavra Israel passe por sua boca.” (Wisconsin)
“A senhora Clinton é bonita, elegante e sincera, mas as sanções não funcionariam porque são tingidas por fervor religioso e cultural. Posso perguntar a ela por que sanções não foram impostas a Israel, Índia e Paquistão?” (Nova Iorque)
“Por que isso quando países como Turquia e Brasil sugerem algo que eu começo a acreditar mais do que quando China, Rússia e EUA sugerem alguma coisa?” (Portland)
O poder da elite dos traficantes da guerra fará seu caminho. Eles sempre conseguem. Guerra perpétua é rentável”. (Texas)
“Os senhores da Guerra, como sempre – os EUA parecem não ter aprendido nenhuma lição da sua aventura no Iraque e a subseqüente perda de prestígio e poder. (Flórida)
“Por quê os EUA estão confrontando tanto o Irã? Deve ter mais coisa nisso do que somente armas nucleares… Eu concordo que não devem existir armas nucleares no Irã, nem nos EUA, Reino Unido, China, França, Rússia, Índia, Israel, Paquistão…É uma perdição para a humanidade. Todos vocês devem desmontá-las agora. Por que vocês as mantêm se não vão usá-las?” (Nova York)
“Os EUA realmente querem evitar outra Guerra? Essa nova leva de sanções contra o Irã dizem que não.” Aparentemente, a busca da paz não inclui os esforços de outras nações em consegui-la”. (Carolina do Norte)
“Voces sabem que os EUA acabaram de aprovar US$ 180 bilhões para aprimorar armas nucleares? Por que o Irã não pode? As pessoas não podem ser tão egoístas em sacrificar a segurança de outras pessoas para se sentirem seguras! Eu não posso entender…” (Xangai)
“E Clinton é como Pinóquio: China apóia acordo entre Brasil, Turquia e Irã…” (Brasil)
“Eu acho interessante que, num artigo que diz que os EUA obtiveram o apoio de China e Russia para seu esforço de sanções, não há absolutamente nenhuma menção à confirmação de China e Rússia a tal acordo. Muito suspeito, para dizer o mínimo, desde que os EUA muitas vezes disseram ter o apoio de Rússia e China para seus planos e a realidade subseqüente provar o contrário. Por que, como parte dessa história, os jornalistas não pediram comentários dos dois governos em questão? Quando os chineses disserem que estão propensos a apoiar as sanções, então eu acredito.” (Virgínia)
“A máscara caiu! Estão mais que claros agora os objetivos dos EUA e de seus parceiros: Impor ao Irã sanções que matam crianças, vamos dizer por 10 anos, instalar uma festa de petróleo por comida, drenar a capacidade do Irã de se defender, conclamar uma invasão military, destruir, torturar, estuprar e finalmente colocar uma marionette no poder para que os membros da coalizão possam mover suas companhias de petróleo para Teerã.
A única coisa incrível sobre isso é que o mundo já assistiu essa novela mas, de alguma maneira, é forçado a concordar com o nuclearmente armado (e única nação com experiência em usá-las contra civis) Estados Unidos da América.
Os EUA podem conseguir impor isso, mas o sentimento antiamericano irá aos céus! Os terroristas que irão atacar nossas crianças amanhã estão sendo alimentados pela América hoje.” (Escandinávia)
E por último, o de Phil Greene, lá de Houston, Texas, tido como um estado dos mais conservadores:
“Leia os jornais, Hillary. O caso foi resolvido por Brasil, Turquia e Irã ontem. Rasteje de volta para seu buraco; o Mundo te deixou para trás.” (Texas)
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