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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, maio 15, 2010

Dilma Rousseff e Nelson Mandela, dois rebeldes com causa






Dilma Rousseff e Nelson Mandela, dois rebeldes com causa

10 de abril de 2009


A trajetória de Dilma Rousseff tem semelhanças com Nelson Mandela.

Se o apartheid na África do Sul era uma segregação racial, no Brasil a segregação era social.

Se Dilma vivesse na África do Sul no início da década de 60, certamente cerraria fileiras ao lado do CNA de Nelson Mandela, que não fugiu à luta, até pegando em armas quando foi preciso, contra o regime racista sul-africano.

E se Nelson Mandela vivesse no Brasil de 1969/1970 certamente cerraria fileiras ao lado de Dilma, na resistência à ditadura, contra a prisão, tortura e assassinato de operários e camponeses líderes sindicais, estudantes, e dos partidos de esquerda proibidos de exercer a política por via pacífica.

Ambos militaram em partidos de esquerda.
Ambos tiveram seus espaços de atuação política legal cassados.
Ambos integraram grupos guerrilheiros rebeldes.
Ambos foram presos.
Ambos participaram do processo de redemocratização de seus países.
Ambos lutaram para eleger e governar sua nação com justiça social.

Mandela é mais velho, mais conhecido mundialmente, teve uma trajetória mais longa, nos anos de chumbo na África do Sul já era o principal líder do movimento rebelde. Já passou pela presidência, e hoje desfruta da aposentadoria do guerreiro.
Dilma era mais iniciante nos anos de chumbo no Brasil, e ainda não chegou à presidência, mas está para chegar.


Nelson Mandela foi "terrorista"?

Para o antigo governo criminoso e racista sul-africano, foi. Para a imprensa da elite literalmente branca sul-africana também.

Mas o resto do mundo pensa diferente.

Em 1993, Mandela recebeu o prêmio Nobel da Paz.

Em 1994, foi eleito presidente da África do Sul, quando voltaram as eleições multi-raciais.


Até Fevereiro de 1990, Mandela ficou preso pelo regime racista (por 27 anos, desde 1962), que o acusava de "terrorista" por planejar ações armadas contra o governo algoz dos negros sul-africanos.

Antes disso, a África do Sul, pelos critérios da Folha de São Paulo, na "média", e aos olhos dos brancos, seria uma "ditabranda", já que para os brancos era uma democracia ocidental, mas para os negros era uma ditadura atroz. Para a mesma Folha, Mandela seria um "terrorista".

Mandela recebeu ofertas de liberdade condicional em troca da CNA (seu partido jogado na clandestinidade) renunciar à luta armada. Sempre recusou. Continuou estimulando a resistência, ainda que armada, contra a ditadura racista sul-africana, até que ela acabasse.

A trajetória política mais conhecida de Mandela começou na década de 40.

Mandela, como jovem estudante de direito, engajou-se na oposição ao regime do apartheid, que negava aos negros (maioria da população) direitos políticos, sociais e econômicos.

Ingressou no partido CNA (Congresso Nacional Africano) em 1942.

O CNA é um partido de esquerda, uma frente de tendência socialista, abrigou membros do Partido Comunista Sul Africano (PCSA), e travaram lutas juntos. Lutas político-partidárias quando puderam, e de guerrilha quando foram proibidos de existirem.

Desde a eleição de Mandela que o PCSA apóia o governo democrático encabeçado pelo CNA e participa dos ministérios.

Na eleição de 1948, os africâners do Partido Nacional, feitores da ditadura de segregação racial, chegaram ao governo.

Mandela exerceu a política de forte oposição contra a segregação racista, com atos de desobediência civil, como protesto proibidos, mas pacificamente enquanto pôde, pela via política, do CNA.

Após o massacre de Sharpeville (21 de Março de 1960), quando a polícia sul-africana abriu fogo contra manifestantes negros desarmados, matando 69 pessoas e ferindo 180, o governo racista decretou o CNA ilegal.

Com a ditadura sul-africana cometendo massacres e jogando o CNA na ilegalidade, as portas pacíficas para alcançar um regime de justiça racial na África do Sul ficaram fechadas.

Mandela e o CNA passaram ao único caminho possível de luta: pelas armas.

Enfrentando um exército poderoso do governo, suas ações tinham obrigatoriamente que ser guerra de guerrilha: ações clandentinas de sabotagens à alvos militares e governamentais.

Em 1961, Mandela tornou-se comandante do braço armado do CNA, o chamado Umkhonto we Sizwe ("Lança da Nação", ou MK).

Mandela coordenou uma campanha de sabotagem contra alvos militares e do governo, para acabar com o apartheid.

Também viajou em coleta de fundos para o MK, principalmente junto a governos socialistas, e criou condições para um treinamento e atuação militar do grupo guerrilheiro, também recebendo apoio de governos socialistas.


Em 1962, após informes da CIA à polícia sul-africana, o "terrorista" e "comunista" Nelson Mandela foi preso.

Não é apenas o antigo governo criminoso e racista sul-africano que chamava Mandela de "terrorista". Era também o grupo de imprensa Naspers, que hoje detém 30% da editora Abril, dona da Veja.

PÉROLA NEOCON:

Mandela e o seu partido, o CNA, estiveram na lista negra do "terrorismo" americano até o 2008.

Segundo uma lei aprovada no mandato de Ronald Reagan, poderiam deslocar-se à sede das Nações Unidas, mas não estavam autorizados a viajar no resto do território americano.

"É uma vergonha que os Estados Unidos ainda trate o CNA desse modo somente porque o antigo regime apartheid da África do Sul classifica o partido de organização terrorista", disse o deputado Howard Berman, presidente da Comissão de Assuntos Exteriores da Câmara de Representantes dos Estados Unidos, em 2008.

"É incrível, Nelson Mandela precisa sempre de uma autorização especial para entrar nos Estados Unidos, por dirigir com valentia o ANC. Que vergonha!", acrescentou Berman em um comunicado, afirmando que o projeto de lei iria corrigir a situação.

Finalmente a 1 de Julho de 2008 (!!!) o então presidente Bush promulgou a lei aprovada pelo Senado.
Mandela comemora a escolha da África do Sul como sede da Copa-2010
Em 2014 a copa será no Brasil, com Dilma na presidência.

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