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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, maio 22, 2010

A força deles é a força do dinheiro, a nossa é a força moral, dos que lutamos por causas que escolhemos livremente







Lula comparou Dilma a Mandela e isso causou imenso desconforto na direita brasileira, expressa nos militantes dos partidos midiáticos da direita, exercendo como cronistas atualmente. Como autoritários que são, fazem parte do coro que pretende reduzir os militantes da luta contra a ditadura a “terroristas” ou a “agentes de regimes totalitários, que queriam impor aqui”.

Pobres diabos! Revejam a entrevista da Dilma no Senado. Deveria ser passada todos os dias na televisão, para que vejam de que matéria é feita uma militante. Interpelada por um senador que esteve com a ditadura, sobre o fato de que ela confessou que mentiu durante a ditadura e de que garantia haveria de que ela diria a verdade na democracia, ela respondeu que tinha mentido na tortura, para não entregar companheiros da luta contra a ditadura, que ele não sabe como é difícil mentir na tortura, que ela se orgulhava do seu comportamento como jovenzinha submetida durante muito tempo a brutais torturas.

Dilma acrescentou que na ditadura não há verdade, há apenas mentiras, que a verdade só existe na democracia. E que os dois, ela e o senador do DEM estavam em lados opostos na luta entre a ditadura e a democracia. Essa é a atitude de uma militante política da esquerda.A mesma que tiveram tantos centenas de milhares, aqui e em outros países, na luta contra ditaduras, contra regimes de apartheid – como foi o caso de Mandela.

Nas redações da imprensa-partido da direita, é impossível entender isso. Seria insuportável para jornalistas-militantes, que só fazem o que fazem por dinheiro, a quem não passa pela cabeça que um militante da luta contra a ditadura havia optado por aquela atividade por convicção, que colocava em risco sua vida e sua integridade física, por acreditar que o que havia que fazer era lutar por todos os meios contra a ditadura.

O combustível dos valores foi substituído pelo combustível do dinheiro. Essa é a direita. Essa é a imprensa mercantil, aquela que pregou o golpe militar, que saudou o golpe militar, que reproduziu servilmente todos os comunicados falsos da ditadura para tentar esconder seqüestros e execuções como se fossem “enfrentamentos”, que emprestou os carros da empresa (o que pensam disso os funcionários-militantes da empresa da família Frias,tão incomodados com a atitude dos militantes da luta contra a ditadura, que eles apoiaram e da qual se beneficiaram para se enriquecerem?), que esteve do lado do regime de terror e não do lado dos que lutamos contra a ditadura.

A força deles é a força do dinheiro, a nossa é a força moral, dos que lutamos por causas que escolhemos livremente e às quais entregamos o melhor de nós mesmos.

Emir Sader

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