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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista
segunda-feira, maio 24, 2010
Higienismo é Eugenismo
Acima, a rampa anti-mendigo: importante programa de combate à pobreza, adotado em São Paulo
O Portal "Vermelho" publica uma série de reportagens sobre o chamado "higienismo" em São Paulo. Essa palavra meio esquisita quer dizer o seguinte: tratar o pobre como sujeira.
Nos últimos anos, é assim que a Prefeitura de São Paulo trata o morador de rua. É assim, também, que o governo paulista trata movimentos sociais como o MST.
O "Vermelho" entrevistou o Padre Julio Lancelotti, defensor dos moradores de rua. Ele vai direto ao ponto: "Serra é o pai do higienismo em São Paulo".
O padre (que foi alvo recente de uma sére de "denúncias" por conta de seu susposto comportamento sexual) dirigiu suas baterias também contra Andrea Matarazo. Homem forte de Serra, seguiu como secretário de Kassab. Julio Lancelotti vê em Matarazzo o articulador e mentor dessa plítica anti-pobre. E deixou claro como MAtarazzo se articula:
- "O Andrea Matarazzo é muito ligado com muitos jornalistas, com a imprensa,"
Em outra parte da série de reportagens, o "Vermelho" explica:
"A troca de farpas entre Matarazzo e Lancellotti atravessou os últimos anos — com uma vantagem para o padre: ele não recorreu a jornalistas para agir como seus porta-vozes ou ghost-writters"
Agora, uma pergunta desse Escrevinhador: Andrea Matarazzo tem jornalistas que agem como seus porta-vozes? Quem seriam?
O Padre Júlio faz um ataque frontal à chamada "grande imprensa". Ele afirma:
"É elogio dizer que nossa imprensa é burguesa, não qualifica precisamente. A nossa imprensa é prostituta."
Nesse ponto, sou obrigado a discordar do padre.
É elogio chamar a velha imprensa de "prostituta". Ela é burguesa, mesmo. Elitista, preconceituosa, tosca. Prostitutas podem ter muito mais sutileza e graça do que a velha imprensa.
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