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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista
terça-feira, maio 25, 2010
Irresponsabilidade na tragédia do Golfo do México
Irresponsabilidade na tragédia do Golfo do México
terça-feira, 25 maio, 2010 às 18:47
Explorar petróleo é uma atividade de alto risco e por isso mesmo deve estar cercada das maiores precauções. As empresas petrolíferas deveriam levar para todos os países em que atuam a experiência acumulada em termos de operação segura. Mas não foi isso que se viu no terrível acidente com a plataforma da BP, no Golfo do México, que continua despejando petróleo ininterruptamente no mar.
Segundo informação do Wall Street Journal, a instalação da BP não utilizava um sistema acústico de controle das válvulas de segurança capaz de tapar o poço imediatamente, já que a regulamentação dos Estados Unidos não o exige. Por isso que disse em post do dia 13 que não pode deixar de haver controle estatal sobre a operação de petróleo.
O uso desse sistema é obrigatório no Brasil e na Noruega, de acordo com o jornal americano, e se ele efetivamente aumenta a segurança deveria ser adotado pela BP ou qualquer outra empresa independentemente de ser compulsório ou não.
A Associação Brasileira de Integração e Desenvolvimento Sustentável (Abides) considera que a BP colocou as metas de produção à frente das metas de segurança, violando um dos pilares de qualquer indústria.
“O caso típico é a resistência da BP e da indústria do petróleo em adotar o “sistema acústico” de monitoramento como mais um equipamento redundante para monitorar as condições de fluxo na extração de petróleo e gás, equipamento que poderia ter alertado para as condições adversas da operação em curso e contribuído para evitar a catástrofe. As razões de custo foram os argumentos usados pela indústria”, diz a Abides em artigo que analisa a catastrofe com a plataforma Deepwater Horizon.
As empresas que tanto falam em responsabilidade social e ambiental estão mais preocupadas com seus lucros e dividendos, como observou o poeta argentino Juan Gelman no artigo Feras, publicado no site Cubadebate.
Gelman, vencedor do Prêmio Cervantes de 2007, escreveu que no dia 27 de abril, exatamente uma semana depois do desastre, a BP anunciava a seus acionistas que os lucros obtidos no primeiro trimestre do ano tinham duplicado em relação ao mesmo período de 2009. “Parece que não foi o suficiente para comprar a válvula”, ironizou o poeta e jornalista.
do Tijolaço
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