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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, maio 12, 2010

juiz de Sanctis “tem a estatura de um grande brasileiro e de uma pessoa nobre”.



Não adiantou tentar desconstruir de Sanctis: ele nega quando a regra é vender



O Conversa Afiada reproduz texto da Assembléia Legislativa do Rio:


COMBATE A CRIME DO COLARINHO BRANCO MARCA DISCURSO DE JUIZ HOMENAGEADO

Envolvido na apuração de um dos casos de lavagem de dinheiro mais importantes do País, e que gerou a prisão do banqueiro Daniel Dantas, o juiz federal Fausto de Sanctis, responsável por deflagrar a Operação Satiagraha da Polícia Federal (PF), recebeu, nesta terça-feira (11/05), a mais importante comenda do Legislativo fluminense, a Medalha Tiradentes. Entregue pelas mãos dos deputados Paulo Ramos (PDT) e Luiz Paulo (PSDB), a honraria foi concedida ao “homem que tem lidado com crimes de colarinho branco, crimes intrincados, casos nos quais são comuns operações financeiras complexas, montadas para encobrir rastros do crime e seus reais mentores”. “Cumpro apenas o meu dever com coragem e crença no povo e na Constituição. De nada adianta fazermos navios e barcos maravilhosos se eles não forem fortes o suficiente para não sucumbir a marés e tempestades”, agradeceu de Sanctis.

Para o deputado Luiz Paulo, um dos responsáveis pela homenagem, o País precisa de ícones e o juiz de Sanctis “tem a estatura de um grande brasileiro e de uma pessoa nobre”. “Essa medalha é uma homenagem do povo do nosso estado ao homem e à sua luta para colocar na cadeia alguns dos maiores criminosos do nosso País: os que cometem os chamados crimes do colarinho branco”, discursou o parlamentar. Ao dividir a autoria da homenagem com o tucano, o pedetista Paulo Ramos fez questão de comparar o juiz a um dos mais famosos personagens da literatura mundial, Dom Quixote de la Mancha, um “herói do povo”. “Há uma expressão que Miguel de Cervantes colocou no Dom Quixote, e que Chico Buarque reproduziu em uma música, que é a síntese da altivez de Fausto de Sanctis: ‘Negar quando a regra é vender’”, citou Ramos.

Emocionado, o juiz começou o seu discurso dizendo ser paradoxal estar recebendo uma homenagem “tão pessoal” quando suas atitudes têm sido motivadas “por questões impessoais”. “Quero deixar bem claro a todos que o que está sendo realizado na 6ª Vara Federal de São Paulo não é em meu nome próprio, mas em nome da Justiça. Temos realizado um eficiente trabalho de equipe, onde o espírito público tem nos livrado das algemas do ego”, pontuou. De Sanctis também aproveitou para ressaltar a diferença entre poder e autoridade. “O poder é quando você força alguém a fazer algo sem a própria vontade daquela pessoa, ou seja, é uma coisa que não precisa de cérebro. Mas a autoridade é a faculdade de influenciar alguém a fazer algo pelo seu respeito, humildade e por sua influência apenas”, afirmou.

Responsável pelos processos que envolveram o Banco Santos, o traficante Juan Carlos Abadía, o doleiro Toninho da Barcelona e as prisões de Daniel Dantas, do mega-investidor Naji Nahas e do ex-prefeito Celso Pitta, o juiz federal Fausto Martin de Sanctis nasceu no bairro paulistano da Mooca, em 1965. Atualmente respondendo pela 6ª Vara Criminal Federal de São Paulo, de Sanctis também é autor dos livros “Punibilidade no sistema financeiro nacional – tipos penais que tutelam o sistema financeiro nacional” (2003), “Direito Penal Tributário: aspectos relevantes” (2006) “Lavagem de dinheiro – comentários à lei pelos juízes das varas especializadas” (2007), dentre outros títulos. Também compuseram a mesa de cerimônia o publicitário Jonas Suassuna, o juiz de Trabalho Múcio Borges, o deputado federal Antônio Carlos Biscaia (PT-RJ), o advogado Arthur Lavigne e o cônsul-geral da Venezuela no Rio, Edgar Gonzalez.

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