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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quinta-feira, maio 13, 2010

Negros contra o conservadorismo e racismo


Negros contra o conservadorismo e racismo

publicada quinta, 13/05/2010 às 10:00 e atualizada quinta, 13/05/2010 às 10:12



Neste dia 13 de maio, passados 122 anos da lei áurea, o movimento negro tem como palavra de ordem “por uma verdadeira abolição”. Os afrodescendentes são vítimas diárias de descriminação social e da violência policial. Negros constituem a maior parte da população das favelas e, conseqüentemente, sofrem pela habitação precária com falta de saneamento, educação e serviços de saúde.

Estudos indicam que um jovem negro tem três vezes mais chances de ser executado do que um jovem branco. Foi o que aconteceu recentemente com os motoboys negros assassinados por policiais militares em São Paulo – um foi morto dentro do quartel e o outro, diante da mãe.



Diversas entidades exigem um posicionamento de Alberto Goldman (PSDB), governador de São Paulo, sobre os episódios e a punição dos culpados. Leia abaixo entrevista com Douglas Belchior, integrante da Uneafro (União de Núcleos de Educação Popular para Negras(os) e Classe Trabalhadora), sobre as demandas do movimento. A reportagem é da Radioagência NP



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Movimento negro quer explicações sobre assassinatos

Organizações do movimento negro devem protocolar um documento exigindo que o governador de São Paulo, Alberto Goldman (PSDB), dê explicações sobre a série de assassinatos de jovens negros cometidos por policiais militares. Os movimentos fazem referência às mortes dos motoboys Eduardo Luis Pinheiro dos Santos, morto dentro de um quartel da Polícia Militar, e Alexandre Menezes dos Santos, assassinado por policiais diante da mãe na porta de casa, na capital paulista.

O integrante da Uneafro (União de Núcleos de Educação Popular para Negras(os) e Classe Trabalhadora), Douglas Belchior, explica o objetivo dos movimentos:

“Nós não vamos continuar morrendo sem fazer nada. Além da explicação pública, vamos exigir a punição [aos criminosos] e o posicionamento do governo em relação a essas arbitrariedades. A juventude e a população negra e pobre sofrem cotidianamente com a violência da polícia. Não tenha dúvida de que a ação da polícia é reflexo de um pensamento na Par

As organizações também querem explicações sobre a chacina na Baixada Santista em abril, que provocou a morte de 17 jovens, a maioria negros e sem antecedentes criminais.

A Corregedoria da Polícia Militar do Estado de São Paulo abriu inquéritos policiais para investigar os assassinatos. Os movimentos negros, entretanto, não têm confiança nas apurações. Para Douglas, enquanto couber à polícia investigar a si mesma os crimes não serão apurados.

De janeiro a março deste ano, 146 pessoas foram assassinadas por policiais no estado de São Paulo. O número é 40% maior em relação ao mesmo período do ano passado.

De São Paulo, da Radioagência NP, Aline Scarso.

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