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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, maio 21, 2010

O presidente dos Estados Unidos, Obama, afirmou em carta troca de combustível nuclear com o Irã criaria "confiança" no mundo








O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, afirmou em uma carta ao seu colega brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva que o acerto de troca de combustível nuclear com o Irã criaria "confiança" no mundo, segundo trechos do documento enviado há 15 dias, antes do acordo de Teerã, e obtidos pela Reuters nesta sexta-feira.

O Brasil, que mediou com a Turquia o acordo com o Irã, alega que a carta de Obama inspirou a maioria dos pontos da Declaração de Teerã, por meio da qual a "República Islâmica do Irã concorda em depositar 1.200 kg de urânio levemente enriquecido" na Turquia. Em troca, o país receberia 120 kg de combustível para um reator de pesquisas médicas localizado na capital iraniana.

A Reuters teve acesso a trechos da correspondência e comparou alguns de seus pontos com o acordo assinado na última segunda-feira. Nela, Obama retoma os termos do acordo que o Grupo de Viena havia proposto no ano passado, cujos principais elementos constam no acerto entre Brasil, Turquia e Irã. "Do nosso ponto de vista, uma decisão do Irã de enviar 1.200 kg de urânio de baixo enriquecimento para fora do país geraria confiança e diminuiria as tensões regionais por meio da redução do estoque iraniano" de LEU (urânio levemente enriquecido na sigla em inglês), diz Obama, segundo trechos obtidos da carta.

Após o anúncio do acordo, no entanto, os Estados Unidos anunciaram que os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU (EUA, Grã-Bretanha, França, China, Rússia) concordaram com um esboço de resolução contendo novas sanções à República Islâmica. "Nós observamos o Irã dar sinais de flexibilidade ao senhor e outros, mas, formalmente, reiterar uma posição inaceitável pelos canais oficiais da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA)", disse o presidente dos EUA.

Segundo a Declaração de Teerã, o Irã se compromete a notificar a AIEA, por escrito, por meio dos canais oficiais, sua concordância com os termos do acordo em até sete dias a contar da data do documento. Esse prazo se expira na próxima segunda-feira.

"O Irã continua a rejeitar a proposta da AIEA e insiste em reter seu urânio de baixo enriquecimento em seu próprio território até a entrega do combustível nuclear", afirmou Obama na carta. Segundo a Declaração de Teerã, "a República Islâmica do Irã expressa estar pronta a depositar seu LEU dentro de um mês".

Obama manifestava, ainda na carta, preocupação com a possibilidade de o Irã acumular, no prazo de um ano, estoque necessário para construir "duas ou três armas nucleares". "Para iniciar um processo diplomático construtivo, o Irã precisa transmitir à AIEA um compromisso construtivo de engajamento, através dos canais oficiais, algo que não foi feito até o momento. No meio tempo, insistiremos na aprovação de sanções". A Declaração de Teerã deixa claro, ainda, que o acordo para a "troca de combustível nuclear é um ponto de partida para o começo da cooperação e um passo positivo e construtivo entre as nações".

Após o anúncio do acordo mediado por Brasil e Turquia na segunda-feira, autoridades iranianas afirmaram que o país manterá suas atividades de enriquecimento de urânio, ao que Estados Unidos e outras potências ocidentais se opõem. O Ocidente suspeita que o programa nuclear iraniano tem o objetivo de construir armas nucleares, mas Teerã afirma que seu fim é a geração de eletricidade para fins pacíficos. Segundo autoridades dos EUA, o Irã teria manipulado Brasil e Turquia com o objetivo de ganhar tempo e adiar a imposição de novas sanções.

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