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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista
quarta-feira, maio 26, 2010
O Sistema: breve história de um nome tabú
O Sistema: breve história de um nome tabú
Foi a sociologia de pé de escada norteamericana que inventou a expressão O Sistema. Há até um filme sobre a estrutura de aprisionamento nos EUA intitulado The System, com o ator Vic Morrow , o mesmo do seriado de televisão, Combate, dos anos 60. Sistema neste contexto significa as forças políticas e econômicas que oprimem e trituram as pessoas mais frágeis das classes pobres e das classes médias. Por exemplo: as grandes corporações empresariais ou as gigantescas instituições públicas - como o sistema carcerário e as outras grandes burocracias. O sistema tem como outra característica, a impessoalidade: ninguém conhece quem manda e desmanda na gente; e o sistema não dá a mínima para as pessoas, sendo todos números e letras aleatórias. Seria, falando academicamente, a sociedade administrada; a decantação do burocratismo irracional, e não aquele da organização eficiente da razão do sociólogo Max Weber. Tudo o que oprime, naquela sociologia de esquina, chamar-se-ia de SISTEMA.
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$$$$$$$$$$$$$$$$istema $$$$$$$$$$$$ $$$$$$$$Hoje em dia dia o Sistema é algo semelhante, mas dentro do contexto da telemática ( telefonia + informática) e com uma estrutura de delegação de poderes muito maior e muitíssimo mais difusa que aquele sistema dos anos 60.
$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$istema
A burocracia remete tudo - principalmente o que não dá certo - para o Tal Sistema. Ele é o deus ex machina da nossa contemporaneidade desse capitalismo sangüinário que nos encontra diariamente em tudo, em todos os locais desterritorializados, e a todo minuto. Qualquer desculpa desse capitalismo, o mais cínico que se tem notícia, é em nome do Sistema. " O Sistema caiu, Senhor"; "o nosso Sistema não aprovou, Senhor", ou omitem o "nosso" porque é comprometedor. " O Sistema está fora do ar e não podemos ajudá-lo, Senhor"; como se o capitalismo existisse para "ajudar" alguém. Kafka ficaria mais maluco que nós com esse Sistema. Kafka que não teve a agudeza de ver naquela maluquice, o Capitalismo em ação, em combate contra nós. Ressinto-me na obra e Kafka desta sua falta de perspicácia. Onde estão as agências reguladoras aqui no Brasil e em todo mundo, que não "domam" esses Tais Sistemas ? Este Espectro que nos humilha, espizinha, nos enfarta, e que deveria ter nomes: as grandes e médias corporações, "personificadas" nos famigerados Call Centers, o pior círculo do Inferno dos empregos.
Roberto Martins
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