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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista
quarta-feira, maio 19, 2010
Onde anda o Prêmio Nobel da Paz?
Onde anda o Prêmio Nobel da Paz?
Hillary Clinton, agora fardada de falcão neocon, é quem está dando as cartas na Casa Branca?
Vocês notaram que o presidente Obama sumiu? Quem está dando as cartas e jogando de mão é a secretária de Estado, Hillary Rodham Clinton, que não é presidente e nem Nobel da Paz. Cumpre, muito plasticamente, o papel de cão de guarda de Obama, que por sua vez, dá satisfações aos interesses econômicos do combinado industrial-militar, bem como uma ação de sabotagem à multipolaridade diplomática de um possível entendimento Sul-Sul, incluindo Brasil, Turquia, Irã, Japão, China, Índia, etc.
O boicote ao acordo com o Irã visa dois claros objetivos:
1) Bater na mesa para ratificar o mandarinato mundial dos Estados Unidos, junto aos seus aliados;
2) Desestimular o deslocamento do eixo hegemônico da diplomacia internacional para players outros que não aqueles controlados pela Casa Branca e o Departamento de Estado estadunidense.
Editorial de hoje do Guardian londrino - um diário de centro-esquerda, é verdade - confirma que o Irã não tem ainda condições de cumprir com as piores expectativas que o Ocidente lhe atribui. Portanto, o jogo dos EUA é tão sincero quanto o foi o de Bush ao mentir sobre as armas de destruição de Sadam.
Em outubro passado, a mesma proposta acertada domingo em Teerã, foi sugerida pelos EUA e aliados. Se em outubro valia, porque em maio deixa de valer? Só porque foi protagonizada pelo Brasil e Turquia? E não teve o dedo da Casa Branca?
De qualquer forma, intriga é a concordância da China com a sanha sabotadora da Casa Branca. O Wall Street Journal de hoje lembra que "a China tem sido o membro mais resistente do Conselho de Segurança da ONU com relação a sanções ao Irã". Claro, em parte isso se deve à sua dependência do petróleo iraniano, mas continua estranho que os chineses fiquem caudatários passivos do perigoso capricho de madame Clinton - que está se pintando para a guerra.
Mas, a pergunta permanece no ar, todos querem saber: onde anda o Prêmio Nobel da Paz?
Revista Forum
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