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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, maio 14, 2010

Presença do Brasil em Teerã gera esperança de paz






Presença do Brasil em Teerã gera esperança de paz
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Reunião do G-15, em Teerã, 15-17/5/2010

Kaveh L Afrasiabi*, Asia Times Online

TEERÃ. Caravanas de oito presidentes e mais de uma dúzia de ministros de Relações Exteriores talvez provoquem aumento de tensão entre os líderes de Teerã, mas não há dúvidas de que a presença dessas autoridades em Teerã, para reunião do Grupo dos 15, é balde de água fria no frenesi ocidental de ataques ao Irã.

A reunião vem em boa hora, tanto no plano global quanto no plano político, no momento em que EUA e aliados ocidentais fazem o que podem para isolar o Irã na conferência de revisão do Tratado de Não-proliferação de Armas Nucleares em andamento (3-28 de maio) em Nova York. EUA e aliados ocidentais estão apostando todas as suas fichas em cisões que surjam entre os 118 membros do Movimento dos Não-alinhados (NAM), como prelúdio para mais pressão. Mês que vem, o grupo chamado “Irã Seis” discutirá a questão nuclear iraniana, organizado para apressar a imposição de novas sanções contra o programa iraniano de enriquecimento de urânio.

O fato de que Índia, Brasil, Argentina, Indonésia e Nigéria estejam representados por delegações do mais alto nível na reunião dos dias 15-17 de maio, dará novo alento à posição do Irã nas discussões em curso em Nova York. – Ali, os Não-Alinhados, liderados pelo Egito, já conseguiram mobilizar muita atenção e interesses contra o programa nuclear israelense. O encontro de Teerã também serve como ocasião para condensar energias contra a “estratégia [ocidental] de sanções” que desestimula qualquer investimento estrangeiro direto no Irã, e para estimular o interesse dos investidores na direção de investimento direto do tipo “Sul-Sul”.

“O encontro de Teerã visa a aprimorar a cooperação Sul-Sul, para enfrentar as desigualdades globais e avaliar o impacto da recuperação econômica sobre as nações em desenvolvimento” – diz um professor de ciência política da Universidade de Teerã.

A presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva do Brasil pode significar que Irã e Brasil estão “mais próximos de um acordo para troca de combustível nuclear”, segundo o mesmo professor. Os dois países têm mantido contatos para discutir a possibilidade de o Brasil ajudar o Irã para manter em funcionamento o reator nuclear que produz radioisótopos para centenas de hospitais em todo o país.

À parte a questão nuclear, o encontro de Teerã será considerado bem-sucedido se gerar crescimento no fluxo de capitais de outros países do G-15 – como Índia, Brasil, Venezuela e Malásia –, muitos dos quais são, simultaneamente, fontes e destinos de investimentos diretos.

A política exterior iraniana no campo econômico do governo de Mahmud Ahmadinejad já trouxe dividendos importantes em termos de maiores investimentos vindos dos países do G-15. Casos exemplares importantes desse sucesso são os investimentos das empresas indianas OVL, Oil India e IOC no desenvolvimento de oleodutos e gasodutos, e na extração de gás do campo Pars Sul, no Irã.

A empresa Tata Steel investiu em indústrias de aço, e o setor público indiano – empresas como Rites e Ircon – ajudou a desenvolver o projeto de terminal de contêineres no sudoeste do Irã. Dentre outros países, a Venezuela também investiu cerca de $760 milhões nos campos de petróleo do sul do Irã; e $700 milhões em projeto petroquímico em Assaluyeh.

Ainda assim, apesar do evidente avanço da cooperação Sul-Sul em direção ao Irã, o total do comércio entre iranianos e seus parceiros do bloco G-15 não ultrapassa 6% de seu comércio global, sendo a Índia a principal parceira comercial. Ano passado, as importações iranianas dos países do G-15 alcançaram quase 11% do total das importações do Irã. As relações de Teerã com governos dos países do G-15 variam, à luz do reduzido comércio com Argélia, Jamaica, Nigéria e Senegal, se comparadas com os laços mais amplos que se constroem atualmente com Brasil, Malásia e alguns outros.

O grupo G-15, trans-regional, desempenha papel central na configuração da hegemonia cultural e econômica do ocidente e, em vários sentidos, garante a viabilidade de países não-alinhados na era do pós-Guerra Fria – semelhante ao Grupo D-8, predominantemente de países islâmicos e menor. Cinco membros do Grupo D-8 islâmico mais amplo (Irã, Indonésia, Egito, Malásia e Nigéria) também participam do G-15.

Na presidência do G-15 desde 2006, essa semana o Irã passa a presidência ao Sri Lanka. Pode ser oportunidade única para o Sri Lanka, cuja economia “globalizada” depende pesadamente das exportações para EUA e Reino Unido, ampliar seu quadro de exportações e aproximar-se do comércio e das redes de investimento Sul-Sul.

Desde 2008, a crise financeira global tem respingado sobre as exportações do Sri Lanka e fez diminuir o influxo de investimentos diretos e de ajuda internacional. O total das exportações caiu 15% em 2009, comparado ao ano anterior; e as remessas encolheram 6%, segundo documento de trabalho do G-15 recentemente publicado. (...)

O encontro de Teerã deve repetir as recomendações para reestruturação das instituições financeiras internacionais e para que haja representação mais equilibrada dos países em desenvolvimento naquelas instituições. (...)

Além disso, alinhada à agenda inicial do G-15, que aspira a ser “parceiro de diálogo” com as nações do G-20, o encontro de Teerã tratará também da questão da segurança alimentar e, talvez, consiga mobilizar bilhões de dólares para criar um banco de alimentos para assistir aos países em desenvolvimento; além da questão dos recursos hídricos, também prioritária; e fala-se da criação de um “fundo para a água”.

Na discussão sobre o encontro do G-15, os jornais de Teerã não se cansam de criticar as desigualdades do comércio mundial e a importância de que o mundo em desenvolvimento tenha e mantenha acesso cada vez mais facilitado ao mercado global de bens e serviços.

O mundo desenvolvido talvez não se interesse, e é possível que a mensagem do encontro de Teerã desagrade aos países mais ricos. Mas não há dúvidas de que a mesma mensagem soará como música aos ouvidos da maioria da população mundial, que vive no mundo em desenvolvimento, e arrasta-se sob o peso da dominação ocidental sobre todas as redes de comunicação.

O artigo original, em inglês, pode ser lido em Asia Times Online


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Nota

1. O Grupo dos 15, G-15, foi criado no 9º Encontro do Movimento dos Não-alinhados, em Belgrado, Iugoslávia, em setembro de 1989. Foi criado para estimular a colaboração e dar impulso à criação de outros grupos internacionais, como a Organização Mundial do Comércio e o Grupo das oito nações industrializadas mais ricas. É composto de países da América do Norte, América do Sul, África e Ásia, com o objetivo comum de promover crescimento e prosperidade. O G-15 visa à cooperação entre países em desenvolvimento nas áreas de investimento, comércio e tecnologia. Adiante, o G15 foi expandido para 18 membros, mas o nome foi mantido.

2. Constituem hoje o G-15: Jamaica, México, Argentina, Brasil, Chile, Peru, Venezuela, Argélia, Egito, Quênia, Nigéria, Senegal, Zimbábue, Índia, Indonésia, Irã, Malásia e Sri Lanka. Em 2006, o Irã assumiu a presidência do G-15.

*Kaveh L Afrasiabi, PhD, é autor de After Khomeini: New Directions in Iran's Foreign Policy (Westview Press) e Reading In Iran Foreign Policy After September 11 (BookSurge Publishing , 2008).

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Sarkozy incentiva Lula a buscar acordo com Irã

Sarkozy telefona para Lula e incentiva Brasil a tentar levar Teerã ao diálogo

O presidente Lula recebeu aval do presidente da França, NicolasSarkozy,para tentar convencer o Irã a retomar as negociações sobre seu programa nuclear. Neste domingo, Lula vai se encontrar em Teerã com o colega Mahmoud Ahmadinejad. Segundo diplomatas brasileiros, Lula pedirá ao iraniano que evite declarações como a que fez ontem – ele disse que as resoluções da ONU contra o Irã “não valem um centavo”.

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