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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

domingo, maio 23, 2010

Quando só Reforma Gráfica não resolve






Quando só Reforma Gráfica não resolve

A Folha de S. Paulo não é mais a mesma a partir de hoje. A letra aumentou e o entrelinhamento também. Consequentemente, o espaço para escrever diminuiu sem, contudo, diminuir a quantidade de páginas. O caderno de esportes virou tablóide. Cria-se assim a falsa ilusão, principalmente entre os assinantes, de que o jornal continua do mesmo tamanho.

Mas a Folha diminuiu, não só de tamanho, mas principalmente de relevância. E não é de hoje. Uma passada de olhos na edição de domingo, que deveria ser a mais nobre do jornal, revela uma manchete requentada, a de que Lula deverá ser importante representante de organismo internacional, depois de deixar o Governo, mas não porque queira, ao contrário do que insinua o jornal, mas porque o mundo acha que ele tem tamanho para isso; colada à análise pífia de que o presidente é pretencioso.

Oras, quem é pretencioso, o presidente ou a colunista e seu jornal? Mas a notícia mais importante nem é essa. É a de que o Instituto Datafolha decidiu calibrar sua metodologia, para não correr o risco de ser atropelado pelos fatos. No mais, mais do mesmo, ou melhor, menos do mesmo.

Rebolation do Datafolha
Para tentar consertar, ou pelo menos se aproximar dos números dos demais institutos, o Datafolha teve que dançar um "rebolation".

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