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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, dezembro 21, 2010

Bloqueio comercial ao Irã contribui para elevação dos preços do petróleo


A segurança energética dos Estados Unidos encontra-se diretamente atrelada a condição de dominação e controle das regiões produtoras de petróleo. A aplicação e manutenção desta política inclui, segundo alguns analistas, o reconhecimento de monarquias teocráticas ao estilo dos Emirados Árabes (particularmente prefiro uma classificação mais moderna e considero a monarquia do rei saudita  Abdullah neo-absolutista) invasão de países não alinhados impondo em seguida um modelo caricatural de democracia na qual a principal função dos governantes é estabelecer os meios necessários para entrega dos recursos minerais às petrolíferas estadunidenses e inglesas.
            Esta política de invasão e legitimação de governos autoritários em nome da segurança energética dos Estados Unidos é justificada por diferentes “especialistas” em função da aparente liberalização do mercado petrolífero cujo resultado seria um aumento da concorrência e conseqüente queda no valor do petróleo. Grande ilusão! Na realidade o setor é dominado através oligopólios constituídos por gigantescos consórcios que a todo instante anunciam aquisições concentrando ainda mais o mercado petrolífero.
            O caso do bloqueio comercial ao Irã revela a mais recente fase da política de segurança energética dos EUA no qual verifica-se de imediato o prejuízo da concorrência e conseqüente colaboração para a elevação dos preços do petróleo.
            O Irã, impedido de vender a sua produção petrolífera, estocava em petroleiros localizados no Golfo Pérsico no último dia 17 de dezembro aproximadamente 20 milhões de barris a isto devemos somar a quantidade de armazenamento em terra iraniano em torno de 11,5 bilhões de barris. Torna-se desnecessário observar as conseqüências deste fator fabricado de queda na oferta.
            Naturalmente o prejuízo do Irã transforma-se nos lucros dos oligopólios ou alguém duvida que a retirada do mercado do 4º maior produtor mundial não constitui um dos fatores para elevação do preço do petróleo?
            Ao povo iraniano reservam estas práticas momentos de extremas dificuldades aspectos potencialmente geradores de insatisfações – o aumento do valor nos combustíveis internamente revela apenas o início – habilmente utilizadas por grupos de inteligência visando a desestabilização do governo. Vamos acompanhar nos próximos meses a força de resistência do regime do Irã espero – sinceramente – não acompanhar mais uma guerra em nome do petróleo.

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