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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, dezembro 24, 2010

Neo Liberalismo

O desespero

 



Adrian Sobaru, um electricista da televisão estatal romena, subiu ao topo duma varanda do Parlamento romeno, em Bucareste, durante uma sessão que acerca do voto de confiança para o primeiro-ministro Emil Boc.

Pai de dois filhos, protestou contra a situação económica e os cortes implementados pelo Governo.
Sobaru usava uma camisa com inscrições como "vocês mataram o futuro dos nossos filhos, fomos vendidos". Acabou por cair no chão duma altura de aproximadamente sete metros.

O homem, com cerca de 40 anos, está em estado muito grave com ferimentos na cabeça e no resto do corpo, disse a agência romena Agerpres, embora os médicos não temam pela vida dele.
 
A televisão TVR, para a qual trabalhava o electricista, disse que a acção foi devida a "razões pessoais" relacionadas uma doença na família e ao desemprego.

Disse o senador Emiliano Francu, que aproximou-se do lugar da queda:
Ele gritava" liberdade "e" você tem o pão dos meus filhos.". Então, saltou no vazio" 

A sessão parlamentar, interrompida durante uma hora após o incidente, foi reiniciada com a ausência dos grupos da oposição, que mostraram-se "muitos chocados" para continuar.

O primeiro ministro Boc lamentou o "evento trágico" e disse que "compreende as dificuldades enfrentadas por muitos Romenos durante este período de crise".
A moção de censura contra ele foi rejeitada.
 
A situação económica da Roménia é catastrófica: no Verão passado, o governo cortou os salários dos funcionários públicos em 25% e de 15% as reformas por causa das pressões do Fundo Monetário Internacional, União Europeia e Banco Mundial, que haviam prometido em 2009 um empréstimo de 20.000 milhões de euros.

* El País

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