Os governos da União Europeia se preparam para, uma vez mais, salvar os bancos da crise financeira, sob o pretexto de que isso é necessário, a fim de salvar a economia. Prevê-se uma injeção de capital da ordem de seiscentos bilhões de euros. Com esse dinheiro, aplicado em programas de desenvolvimento econômico e de assistência urgente contra a fome e as endemias e epidemias nos países pobres (como é o caso mais dramático, o do Haiti), seria possível impedir a morte prematura de milhões e milhões de pessoas, sobretudo de crianças. Os banqueiros enriquecem-se com o dinheiro dos depositantes e devedores; distribuem grandes lucros a si mesmos, como representantes dos acionistas, cometem crimes calculados, certos de que os governos os salvarão. É o que ocorre, quase sempre: em lugar de serem punidos, são salvos pelos Estados, que deveriam defender os interesses dos cidadãos que trabalham e produzem bens. Nos últimos tempos globalizantes e neoliberais,o que vem ocorrendo é a mais brutal transferência de renda dos produtores (trabalhadores e empresários industriais) ao sistema financeiro, e a crescente irresponsabilidade dos principais bancos do mundo.
Também ontem se soube que, em Kosovo, na guerra que conduziu à independência, houve a matança organizada e coordenada de sérvios e kosovos-albaneses, para que de seus cadáveres se retirassem os rins, destinados ao mercado negro europeu de órgãos. De acordo com a investigação, realizada por Dick Marty, ex-juiz suíço e atual membro do Conselho da Europa, pelo menos 500 pessoas, presas durante o conflito, foram retiradas das celas improvisadas, conduzidas a locais escolhidos e equipados de instrumental adequado. Ali, uma a uma, recebiam um tiro na cabeça e, ato contínuo.eram estripadas. Os rins imediatamente se destinavam a hospitais e cirurgiões privados que os aguardavam, para atender à demanda dos pacientes na Europa rica.
Os pobres sempre foram vistos como servidores da vida dos ricos, como escravos formais ou sob contratos leoninos de trabalho. O avanço da ciência médica, em lugar de servir para dar-lhes mais tempo de vida saudável, condena-os, em determinadas circunstâncias, a se tornarem vítimas de brutal canibalismo. A eventual doação de órgãos deve ser decidida pelas pessoas enquanto vivas, mediante documentos claros e precisos de sua livre vontade. Como sempre se denuncia - e em alguns casos há indícios fortes, como nessa denúncia de uma pessoa idônea e respeitável, o suíço Marty - os pobres têm servido de conjuntos desmontáveis, como os automóveis roubados, a fim de oferecer peças de reposição aos que podem pagar bem a fim de adiar a própria morte.
E temos outras informações chocantes, como a do surgimento de uma organização de moradores do tradicional bairro da alta classe média de São Paulo, Higienópolis, em defesa de seus cães. Como informou a Folha de S. Paulo, exigem que a prefeitura cuide das praças do bairro elegante, onde seus cães passeiam todos os dias, levados por empregados ou pelos próprios donos, de forma a dar dignidade aos animais. Entre outros benefícios, reivindicam tanques de água fria, para o banho refrescante de seus animais, além da higiene cuidadosa do chão onde transitam.
Como pagam seus impostos municipais, talvez em dia, é provável que a prefeitura os atenda, concedendo existência digna aos cães de raça nobre, como os labradores, são-bernardos, huskies siberianos e pastores belgas, sem esquecer os diminutos lhassas e pequineses.
Quanto às crianças, perambulames pelas ruas, que tratem de ser astutas, para não serem mortas pelos que querem sanear as metrópoles, como ocorreu na Candelária e em outros lugares. Elas e os moradores de rua – mais odiados ainda do que os cães sem dono - não têm tanques onde banhar-se e exalam o odor dos desprezados.
Mauro Santayana
A crise da União Europeia
A União Europeia passa pelo maior desafio de sua história, desde a criação do euro.
Em 1º de dezembro de 2009 entrou em vigor o Tratado de Lisboa, substituindo os tratados da União Europeia e da Comunidade Europeia.
O novo Tratado trouxe uma série de inovações.
Primeiro, reforçou o Parlamento Europeu. Os deputados passaram a ser eleitos por voto direto e o Parlamento teve seus poderes ampliados.
Para contrabalançar esse aumento de influência, conferiu aos parlamentos nacionais o poder definir em que situações a UE poderia intervir em países – apenas quando comprovado que sua atuação seria mais eficiente que a dos estados nacionais.
Também permitiu as emendas populares, a apresentação de propostas diretamente ao PE, desde que subscrita por mais de um milhão de eleitores.
Finalmente, pela primeira vez reconheceu explicitamente a possibilidade de um Estado membro se desligar da UE.
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Parecia que a UE entraria na reta final de consolidação. A primeira foram os acordos comerciais, ainda nos anos 60. Depois, a consolidação do equilíbrio fiscal dos diversos países e a definição de regras para que os mais fortes amparassem os mais fracos, visando a criação de um continente homogêneo.
Finalmente, o fortalecimento do Parlamento Europeu, podendo legislar para todos os países.
A crise econômica global criou riscos enormes a essa integração – que explodiram ontem em impasses de difícil resolução.
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O impasse surgiu em função do não cumprimento das metas fiscais acordadas com a Grécia – um dos países que mais sofreu com a crise.
A UE acertou um empréstimo de US$ 150 bilhões à Grécia, em troca da redução do seu déficit fiscal. US$ 30 bi já haviam sido liberados quando se constatou que a meta não seria atingida. Constatou-se que o déficit de 2009 chegou a 15,4% do Produto Interno Bruto (PIB), quase dois pontos acima das metas acertadas.
Esse susto se deu ao mesmo tempo em que a Irlanda passava a sofrer ataques especulativos, depois de previsões dando conta de um déficit da ordem de 32% do PIB. Embora em melhor situação, Portugal também lançou despertou desconfianças, com seu déficit de 7,3% do PIB.
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Esse conjunto de más notícias acabou provocando conflitos entre o Parlamento Europeu e o Conselho Europeu – formado por Ministros das Finanças dos países-membros.
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O pano de fundo dessa crise é mais grave. Antes da UE, países em dificuldades econômicas tinham liberdade para manobrar suas políticas monetária e cambial. Com a moeda única, cada país membro teve que abrir mão desses instrumentos.
Em período de crescimento econômico, consolidou-se a ideia de que seria possível a construção de uma região homogênea, com países em um mesmo nível de competitividade.
Não seria um tratado que colocaria no mesmo nível o potencial industrial da Alemanha e as fragilidades do Leste Europeu, a pujança da França e de países que só nas últimas décadas começaram a escalar o desenvolvimento – como Portugal e Espanha.
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Agora, resta esperar que o bom senso impeça a implosão da UE e encontre ferramentas capazes de compatibilizar os interesses nacionais com o geral.
By: Nassif
*comtextolivre
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