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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quinta-feira, dezembro 16, 2010

A condenação da OEA: essa palavra presa na garganta



A OEA condena e o STF inocenta os torturadores

Brasil vai cumprir sentença da OEA sem hesitar
O ministro da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, Paulo Vannuchi, viu com normalidade a decisão da Corte Interamericana de Direitos Humanos de condenar o Brasil por não punir as violações cometidas por agentes do Estado na Guerrilha do Araguaia. “A decisão da Corte não surpreende as pessoas ligadas aos direitos humanos”, salientou.
Familiares de mortos e desaparecidos na guerrilha do Araguaia comemoraram a decisão da Corte Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA), que condenou o Brasil por violações de direitos humanos ocorridas naquele episódio.
Eles acreditam que a decisão da corte baseada em San Jose, na Costa Rica, anula a interpretação do Supremo Tribunal Federal (STF), sob o alcance da Lei da Anistia, de 1979, e finalmente abre caminho para a punição de militares acusados de crimes como tortura e ocultação de cadáveres.
Durante entrevista coletiva na manhã desta quarta-feira, 15, em São Paulo, uma das representantes dos familiares, Victoria Lavinia Grabois Olimpio, de 67 anos, disse que um dos aspectos mais importantes da longa sentença da Corte Interamericana é justamente o capítulo que trata da Lei da Anistia no Brasil. "Os juízes daquela corte entendem que não há fundamento jurídico na decisão do STF", afirmou. "Isso abre um precedente valioso não só para as famílias dos mortos e desaparecidos no Araguaia. No Brasil, são mais de 300 casos de mortos e desaparecidos."
*CelsoJardim

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