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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, outubro 29, 2011

O Enem, sua metodologia e os vazamentos

Os itens que compõem a prova do ENEM são todos testados previamente. A metodologia da Teoria de Resposta ao Item se baseia num pré-teste, a fim de estabelecer parâmetros sobre cada item, como por exemplo dificuldade, interdisciplinaridade, capacidade de discriminar.
Um item com boa capacidade de discriminação o é porque a maior parte dos estudantes que vão bem no teste (nota agregada) o respondem corretamente, e a maior parte dos estudantes que vão mal o respondem incorretamente.
Calibrar uma prova, levando em conta os parâmetros citados, e outros mais, só é possível através de simulados de ENEM aplicados ao longo do ano em colégios do país afora. Admira que isto ainda seja surpresa, mas é impossível aplicar a metodologia da TRI e também o sigilo absoluto dos itens.
Contraponto 1: não estava previsto que professores pudessem fotocopiar cadernos de questões dos simulados. Tem que fiscalizar quem menos se desconfia.
Contraponto 2: na escolha de questões para a prova, é recomendável uma distribuição geográfica uniforme dos itens que a comporão. Com todas as letras, se há um erro do INEP, foi o de tirar 14 itens de um simulado aplicado em uma escola. Espera-se que, abolido o sigilo absoluto, não seja dado a conhecer a um grupo de potenciais candidatos, por pequeno que seja, o conhecimento sobre parte significativa da prova.
Se algum leitor aqui achou difícil estas explicações, fica fácil entender porque ainda não li em nenhum jornal sobre a impossibidade do sigilo absoluto no ENEM.
O que querem o procurador cearense e seus aliados do sul? Querem a continuação do vestibular como etapa da educação, porque não há escândalo... Mas escândalos podem ser fabricados. A ameaça maior do ENEM foram as palavras do ministro Haddad: em 10 anos, acaba o vestibular no Brasil. O que farão os colégios particulares, os cursinhos e as próprias divisões de concursos dentro das universidades?
Túlio Carvalho
*comtextolivre

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