Pele Negra, Máscaras Brancas
Barack Obama, além de ser simpático, é também Nobel da Paz.
Por isso não invade: defende. É este o sentido da próxima operação dos Estados Unidos: uma missão humanitária onde os soldados entrarão em acção apenas para auto-defender-se. O facto de serem tropas especiais, treinadas para matar, rebentar, explodir e conquistar é um pormenor insignificante.
Onde? Uganda. Para começar, pois o cenário é bem maior.
No passado dia 14 de Outubro o simpático Obama anunciou o envio das ditas tropas também no Sul Sudão, no Congo e na República Centroafricana.
Objectivo da missão: acabar com a guerra civil que continua afazer estragos na região.
Doutro lado a Líbia agora está controlada, a Síria está em fase de aquecimento, que vamos fazer? Paramos mesmo agora? Seria um desperdício.
A imprensa julga a decisão de Obama "muito insólita", até "estranha", mas o que há de estranho aqui é a forma como a imprensa raciocina.
O envio de tropas para a África é a lógica consequência da política americana, sempre a mesma desde 1945.
O Vietname, por exemplo: mas porque raio os Estados Unidos tentaram "ocupar " (mas na verdade foi uma operação para ajudar a parte sul do País, sempre "acções humanitárias" e de "defesa") um País que ficava do outro lado do planeta?
Naquele caso, a prioridade era travar o poder da China, um rival imperialista, embora disfarçado de vermelho, e proteger a Indonésia, que o Presidente Nixon tinha definido como "o tesouro mais rico em recursos naturais da região".
O Vietname representava um obstáculo, por isso a morte de três milhões de vietnamitas, a devastação e o envenenamento da terra foram o justo preço pago pelo País asiático.
Não é por nada que Secretário de Estado de Nixon era na altura Henry Kissinger, outro Prémio Nobel.
E, olha o acaso, atrás do envio de tropas na África há mais uma vez a China.
Mas vamos com ordem.
Em Uganda, a missão humanitária das tropas dos Estados Unidos é ajudar o governo daquele País a derrotar o Exercito da Resistência do Senhor (LRA) que "matou, violou e raptou dezenas de milhares de homens, mulheres e crianças da África Central".
Curioso, esta descrição faz lembrar, não sei porque, aquela de Patrice Lumumba, o líder da independência do Congo e primeiro chefe do governo do Congo, obviamente antes de ser assassinato pela CIA e substituído por Mobutu Sese Seko, o mais corrupto tirano do continente.
Bom, mas esta afinal é outra história.
Há depois uma outra razão que justifica a intervenção americana: é, como afirma o simpático Obama, "a segurança nacional dos Estados Unidos".
E, temos que admitir: neste sentido um Uganda desestabilizado põe em risco até a existência de Washington. Perceber a razão não é simples, mas Obama evidentemente conseguiu.
Deve ser por isso que o Presidente do País africano, Yoweri Museveni (Presidente para sempre), recebe 45 milhões de Dólares em ajudas para encontrar e destruir os terríveis terroristas (por assim dizer...) do grupo Al Shabaab, que tem base na Somália.
Mas atrás de tudo isso há, como dito, mais uma vez Pequim.
A paranóia global institucionalizada justifica as palavras do General David Petraeus, ex comandante EUA , agora director da CIA, que define a nossa situação como "um estado de guerra perpétuo", onde derrotada (por assim dizer...) Al Qaeda, é tempo de encontrar um novo inimigo. E a China será a próxima ameaça oficial de Washington.
E o continente africano conta o sucesso de Pequim.
Onde os Americanos levam drones e desestabilização, os Chineses levam diques, estradas, pontes. Obtêm o que querem, recursos, em particular combustíveis fósseis, mas sem sangue. Veja-se a tragédia líbia confrontada com a penetração silenciosa da China em outros Países do mesmo continente.
E a Líbia era um dos maiores fornecedores de petróleo para Pequim que, por sua vez, mantinha 30.000 trabalhadores em Bengasi.
Desfrutando a AFRICOM, os Estados Unidos tentaram estabelecer um domínio no continente africano, mas os vários governos locais recusaram a organização, com o medo de que esta poderia ter acentuado as tensões na região.
Agora Líbia, Uganda, Sud Sudão e Congo oferecem uma nova ocasião, talvez a maior e melhor.
Os projectos da América para a África fazem parte dum desenho global, onde 60.000 forças especiais já estão operativos em 75 Países. E cedo serão 120.
Como realçava Dick Cheney no próprio plano de "Estratégia da defesa" de 1990, os Estados Unidos querem simplesmente governar o mundo.
Nada mais do que isso, ora essa.
É esta a prenda que o simpático Barack Obama, o "Filho da África" (mas também da Irlanda), tem para o continente das próprias origens?
Como Frantz Fanon explicava no livro Black Skin, White Masks (Pele Negra, Máscaras Brancas), o que conta não é tanto a cor da tua pele mas o poder que serves e os milhões de pessoas que estás a trair.
Ipse dixit.
Fonte: JohnPilger
Por isso não invade: defende. É este o sentido da próxima operação dos Estados Unidos: uma missão humanitária onde os soldados entrarão em acção apenas para auto-defender-se. O facto de serem tropas especiais, treinadas para matar, rebentar, explodir e conquistar é um pormenor insignificante.
Onde? Uganda. Para começar, pois o cenário é bem maior.
No passado dia 14 de Outubro o simpático Obama anunciou o envio das ditas tropas também no Sul Sudão, no Congo e na República Centroafricana.
Objectivo da missão: acabar com a guerra civil que continua afazer estragos na região.
Doutro lado a Líbia agora está controlada, a Síria está em fase de aquecimento, que vamos fazer? Paramos mesmo agora? Seria um desperdício.
Muito insólito?
A imprensa julga a decisão de Obama "muito insólita", até "estranha", mas o que há de estranho aqui é a forma como a imprensa raciocina.
O envio de tropas para a África é a lógica consequência da política americana, sempre a mesma desde 1945.
O Vietname, por exemplo: mas porque raio os Estados Unidos tentaram "ocupar " (mas na verdade foi uma operação para ajudar a parte sul do País, sempre "acções humanitárias" e de "defesa") um País que ficava do outro lado do planeta?
Naquele caso, a prioridade era travar o poder da China, um rival imperialista, embora disfarçado de vermelho, e proteger a Indonésia, que o Presidente Nixon tinha definido como "o tesouro mais rico em recursos naturais da região".
O Vietname representava um obstáculo, por isso a morte de três milhões de vietnamitas, a devastação e o envenenamento da terra foram o justo preço pago pelo País asiático.
Não é por nada que Secretário de Estado de Nixon era na altura Henry Kissinger, outro Prémio Nobel.
E, olha o acaso, atrás do envio de tropas na África há mais uma vez a China.
Mas vamos com ordem.
Em Uganda, a missão humanitária das tropas dos Estados Unidos é ajudar o governo daquele País a derrotar o Exercito da Resistência do Senhor (LRA) que "matou, violou e raptou dezenas de milhares de homens, mulheres e crianças da África Central".
Curioso, esta descrição faz lembrar, não sei porque, aquela de Patrice Lumumba, o líder da independência do Congo e primeiro chefe do governo do Congo, obviamente antes de ser assassinato pela CIA e substituído por Mobutu Sese Seko, o mais corrupto tirano do continente.
Bom, mas esta afinal é outra história.
Há depois uma outra razão que justifica a intervenção americana: é, como afirma o simpático Obama, "a segurança nacional dos Estados Unidos".
E, temos que admitir: neste sentido um Uganda desestabilizado põe em risco até a existência de Washington. Perceber a razão não é simples, mas Obama evidentemente conseguiu.
Deve ser por isso que o Presidente do País africano, Yoweri Museveni (Presidente para sempre), recebe 45 milhões de Dólares em ajudas para encontrar e destruir os terríveis terroristas (por assim dizer...) do grupo Al Shabaab, que tem base na Somália.
A China, mais uma vez
Mas atrás de tudo isso há, como dito, mais uma vez Pequim.
A paranóia global institucionalizada justifica as palavras do General David Petraeus, ex comandante EUA , agora director da CIA, que define a nossa situação como "um estado de guerra perpétuo", onde derrotada (por assim dizer...) Al Qaeda, é tempo de encontrar um novo inimigo. E a China será a próxima ameaça oficial de Washington.
E o continente africano conta o sucesso de Pequim.
Onde os Americanos levam drones e desestabilização, os Chineses levam diques, estradas, pontes. Obtêm o que querem, recursos, em particular combustíveis fósseis, mas sem sangue. Veja-se a tragédia líbia confrontada com a penetração silenciosa da China em outros Países do mesmo continente.
E a Líbia era um dos maiores fornecedores de petróleo para Pequim que, por sua vez, mantinha 30.000 trabalhadores em Bengasi.
Desfrutando a AFRICOM, os Estados Unidos tentaram estabelecer um domínio no continente africano, mas os vários governos locais recusaram a organização, com o medo de que esta poderia ter acentuado as tensões na região.
Agora Líbia, Uganda, Sud Sudão e Congo oferecem uma nova ocasião, talvez a maior e melhor.
Os projectos da América para a África fazem parte dum desenho global, onde 60.000 forças especiais já estão operativos em 75 Países. E cedo serão 120.
Como realçava Dick Cheney no próprio plano de "Estratégia da defesa" de 1990, os Estados Unidos querem simplesmente governar o mundo.
Nada mais do que isso, ora essa.
É esta a prenda que o simpático Barack Obama, o "Filho da África" (mas também da Irlanda), tem para o continente das próprias origens?
Como Frantz Fanon explicava no livro Black Skin, White Masks (Pele Negra, Máscaras Brancas), o que conta não é tanto a cor da tua pele mas o poder que serves e os milhões de pessoas que estás a trair.
Ipse dixit.
Fonte: JohnPilger
*informaçãoincorreta
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