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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

domingo, outubro 30, 2011

Dr. Gurgel tratou ministro preto e pobre de forma diferenciada

Ex-ministro Orlando Silva: preto, pobre, comunista, lulista e dilmista, foi mandado direto para o STF "para averiguação".
(Foto de arquivo do encontro com representantes da CUFA - Central Única das Favelas).

Quando o ex-ministro Antônio Palocci foi acusado na imprensa, o Procurador-Geral da República, Roberto Gurgel, o tratou como se deve tratar a todos os cidadãos: com a devida presunção de inocência.

Não pediu abertura de inquérito no STF imediatamente, como fez com Orlando Silva, tratado como não se deve: com presunção de culpa.

Palocci tornou-se um membro da rica elite paulistana, é branco, e sua consultoria presta serviços ao capitalismo da nata de banqueiros e industriais paulistas (e esse é seu único "crime" provado até agora, de natureza política e não criminal, no episódio da consultoria).

Orlando Silva tem um patrimônio compatível com seu padrão de renda, de classe média (podemos dizer pobre, para os padrões de políticos brasileiros que ocuparam altos cargos),  é negro, socialista, e as denúncias não envolvem grandes bancos nem grandes empresas.

Não vou fazer o que fizeram com Orlando Silva, e não vou enxovalhar a honra do Dr. Gurgel, acusando-o de cometer erros de propósito, por desonestidade. Acredito, de fato, que comete erros, mais por sensibilidade à pressões políticas e ao volume da pressão da imprensa.

Mas quer queira, quer não, essa atitude diferenciada no trato entre os dois ministros, tem em sua raiz o mesmo ranço daqueles policiais mal-treinados para prender preto e pobre apenas "para averiguação".

Também seria demais fazer ilações sobre racismo contra o Dr. Gurgel, pois, justiça seja feita, ele mesmo fez uma bela defesa da política de cotas raciais no STF, contra a ação impetrada pelo DEM (que queria acabar com as cotas).

Mas não custa nada sugerir ao Procurador-Geral refletir um pouco sobre aquela pergunta feita naquela propaganda: "Onde você guarda seu racismo?"

A propaganda e a pergunta não é dirigida à racistas, e sim a quem não é racista, mas acaba reproduzindo, até sem querer, hábitos culturais enraizados na sociedade pela herança da discriminação racial velada no Brasil.

Em tempo: o Dr. Gurgel mandará abrir inquérito no fôro privilegiado do STF para investigar o senador Aécio Neves (PSDB/SP), branco, milionário e capitalista neoliberal,  com base nas investigações do promotor Eduardo Nepomuceno de Sousa, do Ministério Público de Minas Gerais, sobre os contratos com artistas e participação na campanha eleitoral?
*osamigosdopresidentelula

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