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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, outubro 28, 2011

Ocupar, Resistir e Produzir: o público de Nova York recebe o MST

28 de outubro de 2011


Por Julia Landau
Do Slow Food Movement

 
Recentemente, Nova York teve a honra de receber o MST à nossa cidade, e a Organização de Nações Unidas (ONU) também teve o privilégio de ouvir o Movimento, como parte de uma série de palestras do Dia Internacional da Alimentação (16 de outurbo) e o Dia Internacional da Mulher Rural (15 de outubro). 
E quem seria melhor para falar de alimentação e mulher trabalhadora, do que uma líder de um dos movimentos camponeses mais reconhecidos do mundo? Janaina Stronzake, falando na ONU como parte do MST em um painel sobre segurança alimentar: o lado da política e o de base, sem dúvida representou o lado comunitário da discussão.
“Segurança alimentar é um passo tático”, explicou Janaina frente ao entendimento limitado do sistema alimentar que demonstraram os representantes da ONU e a FAO. “Mas segurança alimentar não significa nada se não existe dentro de uma estrutura de soberania alimentar.”

Traduzindo para Janaina, escaneei a sala e vi a maioria das pessoas acenando com a cabeça, concordando. A mensagem principal do MST ficou bem clara: só soberania alimentar representa a verdadeira liberdade. Liberdade de comunidades para não depender de tecnologia corporativa, liberdade para fazer suas próprias decisões sobre suas plantações, e liberdade para alimentar suas famílias do jeito que escolherem.

Mulheres, como as agricultoras, as primeiras defensores de casa, tem um papel central aqui – mas têm que se organizar, tem que ter acesso à educação. Soberania alimentar fala de questões que vão muito além da alimentação. São soluções comunitárias, é empoderamento da comunidade.  
Depois disso, outros painelistas reconheceram a soberania alimentar como algo desejável, ideal até, mas ninguém parecia saber como implementar a política para apoiá-la. A mensagem saliente deles? “Fala com a gente,” eles encorajavam às organizações de base presentes na sala. “Precisamos ouvir suas vozes – não somos os especialistas.”  O MST agarrou a oportunidade. “Vamos marcar uma reunião!” Janaina sugeriu imediatamente, “Como podemos manter o contato?” Mesmo que aos membros da FAO e a ONU acabou faltando caminhos diretos de comunicação, eles sem dúvida ouviram a posição do MST: queremos falar com vocês, queremos ampliar a voz da nossa comunidade. 
No final do painel, várias pessoas do público procuraram o MST, fazendo fila para conversar com Janaina. Eles queriam fazer contato, queriam apoiar, queriam aprender mais. “Do painel todo,” uma mulher falou, “você foi a única com novidade para falar. Nós todos aprendemos alguma coisa com o MST hoje.” 
E o público da ONU não foi o único que teve a chance de aprender com o MST naquele fim de semana. Dois dias depois, chegamos à Wall Street para ver a versão novaiorquina de ocupação, e para a Janaina falar à multidão.
A medida que andávamos pela praça com a bandeira do MST, gente de todo tipo vinha falar com a Janaina para conversar sobre o movimento e o vínculo do mesmo com os EUA. Finalmente, Janaina subiu num banco para se dirigir à multidão. Ela falou sobre produção por meio de ocupação: produção de educação, produção de empoderamento, produção de independência das multinacionais. A mensagem ressonou com todos, e levantamos a mão esquerda, como classe, gritando “Ocupar, Resistir e Produzir!” 
*GrupoBeatrice

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