Na Província Tudo Pode
Para quem acha só existirem pizzarias boas em Brasília, acaba de ganhar notoriedade uma de fazer inveja a qualquer indignado com as pizzas brotinhos assadas no Ministério do Esporte.
A Assembléia Legislativa do Estado tirou do forno o encerramento da investigação do esquema de emendas que levou o denunciante deputado da base do governo paulista a comparar o comércio, não a uma casa de forneados, mas a um verdadeiro camelódromo.
Segundo o mesmo deputado, recebem regularmente comissões um terço dos parlamentares ligados ao palácio dos Bandeirantes, As quais são apuradas a um valor de 10 a 20% de 2 milhões de reais reservados a cada deputado daquela Casa Legislativa a título de direitos sobre recursos do orçamento.
Ilustrativo do sentido instrumental da prática é o fato de que o preferido para disputar as eleições pelo PSDB ano que vem, Bruno Covas, haver movimentado 8 milhões de reais em emendas ao orçamento, com destinação desconhecida.
Alertar para a chaminé fumegante da pizzaria em São Paulo é importante porque esclarece que se se quer efetivamente acabar com a corrupção no País, o cidadão não pode voltar seus olhos apenas numa única direção, a do planalto, mas deve também dirigi-los também ao chão que lhe é mais próxomo Como falar em ética no país quando as Instituições regionais transformaram-se em bolsas de valores de risco zero paara deputados e governantes?
Ao contrário do que se passou no governo federal, em que ministros acusados de improbidade tiveram os rostos iluminados pelos holofotes da imprensa e foram sistematicamente afastados de seus cargos, no Estado de São Paulo os episódios de malversação mal chegam a alcançar as páginas internas dos jornais e se o fazem são solenemente ignorados por todos aqueles que deveriam investigá-los.
Chegou-se a uma situação dessas porque 20 anos sem alternância de poder no plano estadual produziram a sensação de que tudo podem os senhores do castelo, já que a cada ciclo de governo há apenas revezamento de cadeiras entre colegas de partido. Que embora às turras uns com os outros, conservam o pacto de silêncio que lhes assegura o forno sempre aceso.
Ainda desta vez, depois de tantos outros casos mandados ao assamento, o escândalo da Assembléia Legislativa, ou propino-duto paulista como ficou conhecido, terá menos chance de cair no esquecimento. Pelo simples fato de haver se tornado público no momento em que a ética vem levando manifestantes às ruas.
Ficou o registro do acontecimento a despeito do fato de que o silêncio da mídia e o braço forte do governo continuem a lograr êxito em conservar o clima de política cafeeira no maior Estado do Brasil.
Alexandre Frota, o travesti e a jornalista empurrada da Globo
O SBT e a Globo , duas das emissoras que integram as redes sob o comando de meia dúzia de famílias ricaças dedicadas a manipular o imaginário dos brasileiros, protagonizaram quase que simultaneamente episódios bem parecidos quanto aos efeitos visados.
Enquanto a TV dos Abravanel punha no ar o ator pornô Alexandre Frota para quebrar o cenário de mais um dos programas mundo cão que fizeram a riqueza do oportunista Silvio Santos, a TV dos Marinho reprisava pela enésima vez a cena de uma jornalista surpreendida com a ação de tresloucados que interromperam a gravação das infames imagens “diretamente do Sírio Libanês”.
Uma e outra das sequências foram ou produzidas artificialmente ou repetidas à exaustão para produzir uma espécie de efeito surpresa que levasse o telespectador a imaginar a televisão como um tipo de substituta da vida real, pelo simples fato de ser palco de emoção iguais ou melhores que aquelas possíveis de serem experimentadas fora das telas.
Na primeira delas, o cafajeste Frota reage com violência à pergunta sobre se teria feito um filme pornô com determinado travesti. A intenção mal dissimulada foi a de proporcionar ao público a emoção barata de que o ator, apesar da baixeza, ainda seria capaz de agir como homem digno ao assumir a defesa de seu parceiro de cena erótica.
Nas imagens exploradas pela Globo , a repórter é apresentada como mártir de agentes de um autoritoritarismo difuso empenhados em impedir não apenas o exercício do direito de informar como também de ser informado.
Nos dois casos um só propósito impeliu os produtores a insistir na exibição das cenas: a de vincular cada vez mais as respectivas audiências ao estilo “é tudo verdade” dos departamentos de produção, que buscam reforçar a sugestão de que vale a pena substituir o questionamento autônomo e individual sobre os fatos pela interpretação pré-fabricada dos veículos de comunicação.
O ator pornô não estava de fato indignado com a pergunta que lhe dirigiu o apresentador na cena construída nem o departamento de jornalismo da Globo considerou verdadeiramente o episódio da interrupção da reportagem um atentado contra a liberdade de imprensa. Tratando de tema sensível (a enfermidade do popular Lula) em tom sensacionalista, cogitava da hipótese de que aquilo que ocorreu pudesse se verificar.
Mas a chance de ouro para transformar essas máquinas de invasão de privacidade e de sensacionalismo em vítimas não poderia ser desperdiçada. Ainda que fosse uma vitimização forçada, como a que de momento emprestou à figura do travesti a imagem de ofendido resgatado em sua dignidade pelo heróico Frota.
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